A menina do ônibus

Estava perdido na minha nova cidade tentando encontrar o ponto de ônibus que me levaria para faculdade:

– Nossa! Será que é nessa rua mesmo que eu entro?

Uma menina apareceu do meu lado com uma mochila nas costas, parecia ter uns 18 anos, sorriu e disse:

– Que calor! Espero pegar o ônibus a tempo!

Ela começou a atravessar a rua e fiquei pensando, “será que ela vai no mesmo ônibus”?

– Ei! Espera! Você vai pegar qual ônibus?

Ela gritou do outro lado da rua:

-VOU PEGAR O 702! É LOGO ALÍ NA ESQUINA!

Atravesso a rua bem depressa dizendo:

– Eu também! Estava perdido! Não sabia aonde ir!

– É fácil chegar lá! Vou te ajudar!

 O ônibus chegou ao ponto assim que chegamos, entramos e a menina ainda se manteve ao meu lado.

– Você é novo aqui? Onde você vai descer?

– Sou sim! Vou descer no centro, perto da faculdade de direito!

Ela sorri e disse:

– Eu também! Sabe qual ponto descer?

Respondo um pouco envergonhado:

– Não sei direito… sei que é perto…

Antes que eu pudesse terminar ela responde:

– Eu ajudo você!

Ficamos conversando e ela foi explicando os pontos de referência que eu deveria guardar para descer. Chegamos ao nosso destino e ela se despediu de mim dizendo:

– Sua faculdade é só atravessar a rua! – ela apontou para janela do ônibus e mostrou o prédio grande.

– Muito obrigada!

– Por nada!

Descemos do ônibus e a menina desapareceu no meio da multidão.

Passei o dia na faculdade nova, conheci várias pessoas e na hora de voltar para casa lembrei que não sabia se pegava o ônibus no mesmo ponto. Saí da faculdade e avistei a menina do outro lado da rua, achei muita coincidência e gritei:

-EI! VOCÊ DE NOVO?

Ela sorri e eu atravesso a rua e pergunto novamente:

– Você vai voltar no 702? Estou perdido novamente.

– Vou sim! Então vamos atravessar a rua novamente, o ponto de volta é em frente à faculdade!

Atravessamos a rua e ela olha para mim bem séria disse:

– Não se esqueça disso! É muito perigoso pegar o ponto errado! Você pode descer em algum lugar e nunca mais voltar!

Entramos no ônibus e perguntei:

– Descemos no mesmo ponto que pegamos?

– Sim! Você aprendeu?

– Sim! Muito obrigada! Ainda bem que você estava aqui hoje!

Ela olhou para mim com uma expressão bem triste, abaixou a cabeça e começou a se afastar.

Uma senhora que estava passando no corredor do ônibus esbarrou em mim e deixou suas sacolas cair no chão, me levantei para ajudar e quando procurei a menina ela havia desaparecido.

Cheguei ao meu ponto e não encontrei mais a menina, fui direto para casa lembrando o caminho que peguei mais cedo. Chegando lá tomei um banho e depois fui assistir TV.

Estava passando o Jornal da noite e a repórter começou a falar:

“Neste mês completam 7 anos da terrível história da Naiara. A garota de apenas 18 anos na época, pegou o ônibus 702 e nunca mais voltou para casa. Até hoje os familiares e polícia não sabem o que aconteceu com a adolescente e ela está desaparecida”.

O jornal divulga a foto da Naiara e fico assustado:

– Meu deus é a menina do ônibus!

A repórter volta a falar:

“Acabamos de receber uma nova notícia da polícia sobre o caso. Tudo indica que os restos mortais encontrados neste final de semana na construção do novo Shopping pertencem a Naiara. Finalmente a polícia terá meios de investigar este caso…”

Antes que ela terminasse de falar eu desliguei a TV e fui dormir muito assustado. Eu com certeza tinha visto uma assombração, e ela pode ter salvado a minha vida.


Ilustrador: Brendom Rodarte

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O “mordidinhas”

– O gravador já está ligado? Tudo certo, escrivão?

– Tudo certo chefe! – Disse o escrivão olhando o policial trazendo o suspeito

– Então vamos começar! Suspeito João Carlos Eduardo, 29 anos, acusado de assassinato em série. Foram encontradas treze mulheres sem vida, com as mãos amarradas para trás, nuas, com marcas de mordidas pelo corpo, faltando o mamilo esquerdo. Definido como modus operandi do “mordidinhas”.

De acordo com a perícia, as mulheres eram asfixiadas até morte, mordidas e seus tinham seus mamilos esquerdos arrancados com os dentes. O suspeito foi visto perto de vários lugares em que corpos foram encontrados. Na sua casa foram encontradas fotos de todas as vítimas e um pote de maionese dentro da geladeira, com exatamente 13 mamilos.

O suspeito interrompe:

– EU NÃO FIZ NADA DISSO! EU JÁ DISSE PARA VOCÊS! NÃO SEI COMO ISSO TUDO FOI PARAR NA MINHA CASA!

– Então vamos refrescar sua memória! Me passa essa caixa escrivão?

– Sim chefe!

– O que você tem para dizer dessas fotos?

O suspeito pega as fotos das vítimas e fica analisando:

– Conhece alguma dessas mulheres?

– Sim, mas calma! Não pessoalmente, eu já vi essas mulheres, elas trabalham no shopping. Me deixem explicar! A minha mulher vai muito a um mesmo shopping, por isso sei que essas mulheres trabalham lá, mas só por isso, eu nunca cheguei perto dessas mulheres.

– Então todas essas fotos com elas mortas e nuas apareceram por acaso na sua casa?

O suspeito pega as fotos e fica desesperado:

– MEU DEUS! EU NUNCA FARIA UMA COISA DESSAS COM NINGUÉM NA MINHA VIDA.

– Nunca mesmo? Por que foi encontrado esse pote de maionese cheio de mamilos na sua casa também?

– EU NÃO SEI! JÁ DISSE!

– Para com isso cara! Assume logo! Vai falar que nunca viu esse pote de maionese dentro da geladeira?

– É CLARO QUE JÁ VI! MAS NUNCA ABRI! EU NÃO GOSTO DE MAIONESE!

– Agora já não gosta de maionese! Você é o suspeito com as desculpas mais bobas possíveis. Nunca conheci um desses e você escrivão?

– Nunca chefe!

O suspeito estava aos prantos:

– EU NÃO SOU UM ASSASSINO! EU NÃO FIZ NADA!

– Então por que tem filmagens sua nas ruas perto dos locais de crime?

– EU ESTAVA SEGUINDO MINHA MULHER! ELA ESTAVA ESTRANHA COMIGO! FALAVA MENTIRAS QUE IA NO SHOPPING E IA PARA OUTROS LUGARES, COMEÇEI A SEGUIR ELA, MAS EU NUNCA CONSEGUIA IR ATÉ O LOCAL, ELA SUMIA!

– Agora chega! Cansei dessas desculpas! Escrivão fala para alguém vir aqui e prender este homem! Ele não é suspeito, foi tudo achado na casa dele! Cara, acorda para a vida, sua mulher está separada de você há muito tempo, investigamos sobre você e está aqui o papel do divórcio! Não foi encontrada sequer uma peça de roupa feminina na sua casa!

– O QUE? ELA ESTÁ VIAJANDO PARA CASA DA MÃE! MAS ELA MORA LÁ SIM! EU NUNCA ASSINEI NENHUM PAPEL DE DIVÓRCIO!

– Chega, cara! Sua mulher está morando fora do país! Temos fotos em redes sociais para provar!

O suspeito olha assustado para as fotos:

-ESTAS FOTOS SÃO ANTIGAS E EU ESTAVA EM TODAS ELAS! ELA ME APAGOU! A GENTE FOI PARA A ITÁLIA! ELA ME LEVOU DE PRESENTE DE CASAMENTO…… MEU DEUS SEMPRE FOI TUDO ARMADO! O SHOPPING QUE ELA SEMPRE IA! OS SUMIÇOS! EU A VI TIRANDO ROUPA DE CASA! ELA DISSE QUE ESTAVA DOANDO!

– Gente tira esse homem logo daqui! Já passou dos limites!

– FOI ELA! FOI MINHA MULHER! FOI TUDO ARMADO – O suspeito sai da sala gritando sendo levado pelos policiais.

– Que loucura esse homem! O caso está encerrado escrivão!

– Acho que não chefe, acabaram de ligar da perícia. Conseguiram identificar o verdadeiro assassino pelas mordidas.

– Como conseguiram isso?

– Acharam uma maçã na casa com uma marca de mordida idêntica à das vítimas.

– Não estou entendendo! A maçã é do cara, o caso está sim encerrado!

– Não senhor, a mordida é de uma mulher!

O investigador fica impressionado:

– Nossa pegamos mesmo o cara errado! Nunca ia pensar que uma mulher seria capaz de fazer uma coisa dessas!


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O Jogo de Tabuleiro Parte II: O fim que não tem fim.

-EU NÃO POSSO FAZER ISSO COM MEUS AMIGOS! – gritei me afastando do tabuleiro.

– Você não tem escolha! Quem manda nesse jogo sou eu entendeu? COMECE LOGO!

Nessa mesma hora apareceu uma carta do jogo dizendo:

“O jogo começa com “ataque Alien em esconderijo secreto”

Pergunto assustado:

– O que isso quer dizer?

O espírito responde:

– Você é o mestre, esqueceu? Me surpreenda.

O tabuleiro tinha se transformado em um lugar escuro com uma sala e computadores de alta tecnologia, nessa sala estavam meus amigos sentados planejando alguma coisa. Do lado de fora dava para ver os Aliens se aproximando prontos para atacar, fiquei desesperado e acabei gritando:

– AMANDA!!!CAIO!! BRUNA!! GENTE!!! TEM ALIENS DO LADO DE FORA!!!

Eu percebi que eles me escutaram de algum lugar, mas não sabiam de onde estava vindo essa voz e nem pareciam entender o que eu falei. O espírito ficou furioso:

– Sabe o que acontece quando as pessoas não obedecem às regras? Elas são punidas!

Olhei para o tabuleiro os aliens tinham invadido o esconderijo, meus amigos lutaram bravamente, mas eles eram muitos e um deles acabou atacando a Alana, que era a Roxanne, e destruindo-a em mil pedacinhos. Encurralaram meus outros amigos, pensei que todos iam morrer nessa hora:

– JOGA!!- disse o espírito:

Não hesitei dessa vez, peguei uma carta e escrevi:

“Vladimir tinha construído uma passagem secreta que levava para o esgoto da cidade, a passagem foi construída na intenção de atacarem o quartel general dos aliens. Entrando pelo esgoto e saindo na sala onde as câmeras de clonagens estão para deixar uma bomba e explodir todas elas. Eles pensaram que esse plano seria executado com calma, não tinham imaginado que seriam atacados antes pelos aliens.

Por sorte foram encurralados em cima dessa passagem secreta e perceberam que era a hora de executar o plano.”

Coloco a carta no tabuleiro e vejo tudo acontecer:

– Estamos encurralados! O que vamos fazer? – Disse Alexa desesperada

– Vamos executar o plano agora! Estamos em cima da passagem secreta, vou acionar o botão! Quem está com a bomba? – Disse Vladimir.

– Eu! – disse Vitlaus

Assim que ele apertou o botão uma fumaça fez os aliens ficarem confusos e cegos. Eles desceram para o esgoto e quando os aliens perceberam já não estavam mais lá.

– Deu certo gente! Estamos no esgoto- disse Zatara, ofegante, mas animada.

– Vamos acabar com o plano desses aliens! – Disse Baox tirando um mapa que levava à sede dos aliens através do esgoto.

Começaram a seguir o mapa e andaram por um bom tempo pelo esgoto. Nesse meio tempo, acabei percebendo que realmente tudo que eu criava ganhava vida e o espírito estava muito focado na história. Acabei tendo uma ideia:

–  Acho que está muito fácil eles chegarem nessa sede, posso acrescentar mais coisa nessa parte da história? – Perguntei para o espírito.

– Claro! você é o mestre! – disse o espírito animado.

Peguei a carta e escrevi:

“Eles só não imaginavam que havia um monstro, parecendo um lagarto, que foi criado pelos alienígenas para vigiar as passagens do esgoto caso algum dia alguém resolvesse ter essa ideia.”

– Estamos quase lá – Disse Baox olhando o mapa.

Quando avistaram a passagem um enorme lagarto de olhos vermelhos surgiu pelas águas do esgoto, pegou Holocen pela perna e a jogou contra parede. Vitlaus percebeu que sua irmã não conseguiria mais andar e correu para protegê-la enquanto os outros começaram a atacar o lagarto. Zatara percebeu que o lagarto tinha um cordão no pescoço e dependendo de como ele se mexia, seus olhos ficavam pretos:

– Gente! Esse cordão está fazendo alguma coisa com ele! Temos que tirar- Disse Zatara

Baox e Alexa também perceberam e começaram a cercar o lagarto para tirar:

– Estamos cercando ele contra parede! Pula no pescoço dele Vladimir!

Vladimir não perdeu a oportunidade, pulou no pescoço do lagarto e arrancou o cordão. Na mesma hora o bicho não ficou bravo mais, entrou na água do esgoto e foi embora.

– Que história empolgante! Me surpreenda mais! – O espírito estava muito empolgado e percebi outra coisa, o espírito não conseguia ler o que estava escrito na carta. Ele realmente queria ver o desenrolar do jogo.

Peguei outra carta e fiz um fim para essa história.

“Os sobreviventes (que ainda podiam andar) chegaram na sede dos aliens e acabaram descobrindo que não existia nenhuma câmera de clonagem. Existia uma passagem para trazê-los de volta para casa, e o espírito que deu vida para esse jogo seria preso dentro dele para sempre”

Acabei de escrever e rapidamente joguei a carta no tabuleiro, fiquei esperando a ação acontecer.

– Tem certeza de que estamos mesmo na sede dos aliens? – Disse Alexa procurando as câmeras.

– Eu não vejo câmera nenhuma! – disse Baox

– O que isso? – disse Vladimir apontando para um buraco brilhante na parede.

Esse mesmo buraco apareceu na casa e começou a sugar o espírito para dentro do jogo e ele começou a gargalhar:

– Quebrando regras novamente Henrique? Está tentando me enganar? – disse ele gargalhando. Me agarrou pela perna e gritou – VAMOS VER SE VOCÊ SABE MESMO JOGAR, VEM COMIGO PARA DENTRO DO NOSSO JOGO.

Acabo sendo sugado junto com o espírito para dentro do jogo, através do portal vejo meus amigos de volta para onde estávamos jogando. Percebo que para mim dessa vez não teria volta, ficaria preso para sempre (ou até conseguir enganar esse maldito outra vez) no jogo.


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Siwsi

Estava sentada na recepção do hospital há horas esperando notícias da minha avó, sabia que no estado grave em que ela se encontrava não tinha mais o que fazer, mas queria pelo menos ficar um pouco com ela. Vou sentir muita falta da minha velhinha.

Vejo um médico se aproximando e meu coração já dispara:

– Você que é a neta de dona Iracema?

Respondo assustada:

– Sou sim, ela está bem?

– Está sim, ela quer ver você! Ela só fala em você o tempo todo e em como seu nome é importante para ela.

– Ah, meu nome! Já escutei essa história a minha vida inteira.

Respondo acompanhando o médico até o quarto em que minha avó estava internada. Minha avó já não era mais a mesma que eu conhecia, estava tão magrinha, parecia que tinha encolhido e virado uma criança deitada na cama:

– Siwsi! Que felicidade em ver você minha neta! Chega mais perto da sua avó, você está tão linda!

– Meu pai disse que queria me ver! A senhora não vai mesmo voltar para casa?

Faço essa pergunta me aproximando dela com meus olhos cheios de lágrimas. Ela segura firme a minha mão e diz:

– Minha querida neta, minha hora já chegou e estou conformada com isso. Só preciso de um último favor seu para descansar em paz, preciso que você descubra o significado do seu nome!

– Significado do meu nome? Porque a senhora gosta tanto do meu nome? O que ele tem de tão importante?

Ela percebe a minha inquietação e segura mais forte a minha mão:

– É só um pedido minha querida, por favor, me prometa que vai descobrir?

– Sim vó, prometo! Mas onde vou descobrir? Não acho nada do meu nome em lugar nenhum.

– No meu quintal mora uma Arara, vá até lá e pergunte para ela!

Me levanto, me despeço da minha avó e saio do hospital conturbada pensando que ela só pode estar ficando louca em seu estado terminal. Entro no carro e dirijo sem saber se realmente deveria fazer isso, conversar com uma Arara já seria demais, ainda mais porque eu nunca tinha visto uma Arara no quintal da minha avó. Essa história estava muito estranha.

Chegando lá vou direto para o quintal e não vejo nada. Quando penso que minha avó estava realmente ficando doida alguma coisa me chama pelo nome:

– Siwsiiiiii! Swisiiiiii! Swsiiiiiiiii!

Olho para trás e vejo um grande pássaro azul pousado em um galho de uma árvore:

– Meu deus tem uma Arara mesmo aqui!

Ela começa a falar comigo como se fosse um papagaio:

– Arara aqui tem sim! Arara aqui tem sim!

– Qual é o significado do meu nome Arara?

– Brilha no céu! Brilha no céu! Brilha no céu!

– Brilha no céu? O que isso significa Arara? Achei que você ia me dar uma resposta completa!

A Arara continuou repetindo “brilha no céu” por um bom tempo. De repente ela começou a gritar mais alto e mais rápido e então olhei para o céu, nem tinha percebido que já era noite. Finalmente veio uma ideia na minha cabeça e acabei dizendo:

-ESTRELA! É ISSO QUE MEU NOME SIGNIFICA!

Quando eu disse isso começou a ventar muito forte e surgiu uma grande estrela no céu. Fiquei maravilhada, era a coisa mais linda que eu já tinha visto. Agradeci a Arara e sai correndo para o hospital. Chegando no quarto da minha avó me deparo com o médico desligando seus aparelhos:

– Sinto muito, ela não conseguiu mais ficar acordada por muito tempo, mas deixou esse bilhete para você.

Pego o bilhete e começo a ler me debulhando em lágrimas:

“Meus ancestrais diziam que se houver uma ligação forte o suficiente entre uma avó e uma neta, basta elas saberem o verdadeiro significado do nome da neta para que, no seu momento final, a avó se torne aquilo que deveria ser depois desta vida.

 Obrigada por me transformar em uma estrela. Sempre cuidarei de você aqui do céu minha indiazinha.”

Saio correndo para fora do hospital e vejo a estrela lá no céu brilhando lindamente, era a minha avó, olhando para mim aqui na terra. Entro no carro e volto para casa feliz, porque agora sei que sempre estaremos juntas, basta olhar para o céu.


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O artista do ano

Querido leitor,

Você acaba de ser premiado! Está prestes a ler a história mais incrível da sua vida!

Meu nome é Henry Longbottom e gostaria de contar para vocês uma história. Primeiramente você sabia que existe uma sociedade de artistas que atua no mundo inteiro? Buscamos recriar o “Renascimento” na sociedade moderna. Temos conosco os melhores artistas do mundo, e em cada lugar vocês nos dão um nome, pois estamos sempre envolvidos nos eventos mais polêmicos do mundo.

Os encontros da sociedade acontecem de cinco em cinco meses, em diversos locais, é claro! Não queremos que nos encontrem assim tão fácil, mas sempre deixamos uma pequena pista no final, para saberem que dessa vez o evento aconteceu ali.

Ficamos orgulhosos quando as nossas criações viram notícia e vocês criam até nomes para nós, de acordo com o nosso padrão. É como se cada nova obra fosse parte de uma exibição, mas vocês realmente acham que aquele nome define o nosso trabalho? Isso só faz com que nos sintamos muito importantes e com vontade de a cada dia mostrar mais o nosso trabalho. Na verdade, vocês não sabem de nada.

Voltando para o assunto, estava só introduzindo vocês ao nosso mundo, a história que quero contar é sobre como eu tentei me tornar o artista do ano dessa vez. Todo ano escolhemos alguém para esse prêmio, com direito a um baile e um banquete esplêndido. O título é entregue para quem fizer o melhor trabalho durante o ano, o mais inovador, o mais criativo.

Eu nunca consegui ganhar esse prêmio, confesso que minhas técnicas estão bem ultrapassadas e não sou nada criativo. Então, depois de muitos anos tentando e nunca saindo do lugar, esse ano resolvi fazer uma coisa diferente: Primeiro, no dia da votação, convidei o jurado principal do evento para um almoço na minha casa. Era apenas um evento para nós dois, mas ainda assim preparei uma refeição digna dos deuses. Depois de vários pratos, finalmente servi a sobremesa, o meu bolo de frutas vermelhas, e deixei para servir na sua frente a minha calda especial de chocolate. O meu ingrediente especial é um sonífero que faz o privilegiado convidado dormir em apenas 3 segundos. Assim que ele dormiu o levei para o freezer, onde aguardaria até o “grand finale”.

Peguei o seu celular e mandei uma mensagem para a alta cúpula da sociedade, dizendo que a comida do jantar principal do evento de seleção deste ano seria feita pelo Henry Longbotton, (eu, no caso) e que tinha decidido isso de última hora. O cozinheiro do prato principal era sempre alguém escolhido entre os membros.

Então comecei a trabalhar na minha obra derradeira. Pendurei o corpo do jurado em um gancho no meu abatedouro e com uma faca bem afiada fiz um corte sobre os ossos da coluna, aos poucos fui cortando as carnes que estavam perto dos ossos, tirando a pele e os outros órgãos, deixando apenas as melhores partes para fazer um belo “Steak tartare”.

Chegando no evento, na hora do jantar, servi a todos dizendo que era uma receita de família, os pratos estavam magníficos. Fiz questão que todos comessem antes de se iniciar a votação para o artista do ano. Recebi vários elogios (era isso que eu esperava) e me pediram até a receita, mas disse que ainda não podia contar o segredo do prato. Logo antes de se iniciar a votação, subi ao palco e contei o meu feito:

– O que acharam do prato principal desta noite? Este é o meu prato especial, com carne fresca do Sr. Lestrange.

Achei que isso já ia me fazer levar o troféu do ano para casa, mas todos começaram a gritar e me xingar dizendo que só o que eu fiz foi copiar o maior artista de todos os tempos, Hannibal Lecter, e disseram que a partir deste momento estava expulso da sociedade. Para piorar, deixaram o que sobrou do prato de pista para polícia, isso causou um tumulto enorme. Não demorou um dia para começarem as notícias de que Hannibal estava de volta.

E é por isso que estou escrevendo esta carta e contando essa história, para você aí que a encontrar, dizer para o mundo que não foi o Hannibal dessa vez quem fez o jantar! Hannibal está morto! Dessa vez foi Henry Longbottom! Agora este é o MEU ESTILO.

Atenciosamente,

Henry


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