Existem mais cores nesse mundo?

João era um menino diferente de qualquer outro da sua vila.  Ele não enxergava as cores como deveria.

Na escola a professora perguntava:  

– Que cor é essa?

João, aflito respondia:

– Verde? Laranja?

Todos os alunos riam

– João é um bobão! – Dizia Luiz o menino popular bonitão.

A anciã da vila e o senhor idoso próximo do João vivia implicando com o menino por só enxergar as duas cores se existia um milhão.

– Não sabe outras cores, menino?

– Existem mais cores nesse Mundo João!

O menino ficava pensativo:

– Será que existem mesmo? Por que vejo tudo só laranja e verde então?

Só existia uma pessoa nessa vila que entendia João, era Katrina, a menina brava da turma que só se sentava no fundão:

– O que importa se existem mais cores nesse mundo? O importante é ser você, João!

Ele se sentia seguro com Katrina, ela não se importava se ele era diferente.

– Você já parou para pensar que você tem um mundo só seu João? Enquanto todo mundo vive no mesmo mundo?

João sorria e dizia:

-Nunca pensei nisso antes Katrina!

Um pouquinho de esperança começava a crescer no coração de João.


Ilustrador: Brendom Rodarte

Escritora: Nathália Santos

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Reality Show

– Sejam bem-vindos participantes para mais um ano do The Family Show! Uma família dentre as inscritas é escolhida para ficar em uma casa que é vigiada pelos expectadores 24 horas por dia. Se a família conseguir vencer todas as provas unidos ganham 1 milhão de reais!

Estava sentada no sofá toda empolgada de mãos dadas com minha mãe, meu pai e meu irmão, vendo o apresentador falar. Não estava acreditando que tínhamos conseguido ser escolhidos para fazer parte desse programa, era um sonho que estávamos realizando.

– E aí família Borges! O publico já está querendo conhecer vocês!! Como estão se sentindo sendo os mais novos participantes do programa?

Minha mãe olhou para todos nós e começou a falar:

– É uma honra estar aqui! É um grande sonho! Vocês não sabem o esforço que a gente fez para conseguir estar aqui, fizemos a inscrição todos os anos anteriores! Até que um dia a gente teve uma brilhante ideia ….

Interrompi minha mãe essa hora, ela não sabia mentir e ia acabar nos entregando sem querer ou deixando as coisas mais suspeitas:

– A brilhante ideia de fazer um vídeo bem criativo, contando sobre o nosso trabalho voluntário para ajudar pais que estão em busca dos seus filhos desaparecidos! – disse olhando para minha família e eles sorriram para o apresentador, mostrando a satisfação em fazer parte disso.

– Isso é incrível família! Conte mais para o público Samanta, como essa ideia surgiu? – disse o apresentador se mostrando interessado na história.

– Começou quando descobrimos que a minha melhor amiga tinha desaparecido – Comecei a chorar – É por isso que queremos o dinheiro! Queremos ajudar mais pessoas!

Não consigo terminar de falar, estava muito emocionada. Meu pai me abraça chorando e diz:

– Vamos nos manter unidos para conseguir! Somos uma família unida e queremos que todas sejam assim!

A gente se abraça e quando eu olho o apresentador estava chorando:

– Meu deus espero muito que vocês ganhem! Nunca gostei tanto de uma família como já estou gostando de vocês! Que Comece o nosso The Family Show! Espero que vocês descansem hoje e aproveitem bem a casa porque amanhã começam as provas! Boa noite, família! – Disse o apresentador se despedindo da gente.

Acenamos para ele e quando desligaram a grande televisão, saímos da sala e já fomos explorar a casa. Ela era enorme com grandes paredes de vidro, uma cozinha gigantesca, com todo tipo de comida, uma sala de jogos com uma piscina que saia em um jardim e uma área de churrasco fora da casa. Tirando as paredes de vidro, os quartos pareciam de filmes de época, os móveis eram em estilo antigo, meu quarto parecia o de uma princesa e todos tinham banheiros com banheiras enormes!

– Meu deus! Não quero ir embora nunca mais! – Disse meu irmão maravilhado com tudo.

– Valeu a pena tudo que fizemos para estar aqui! – disse meu pai nos abraçando.

– Vamos descansar! Amanhã vai ser um grande dia! – disse minha mãe nos beijando.

Concordei com minha mãe e fui direto para o meu quarto, troquei de roupa por baixo dos lençóis e depois adormeci. Acordei às 3 da manhã assustada com um grito vindo da cozinha, chegando lá me deparei com minha mãe desesperada abraçando meu irmão, olho para bancada da cozinha e vejo muito sangue, meu pai com uma faca enfiada em seu pescoço:

– O QUE ACONTECEU? – grito desesperada

Minha mãe arrasta a gente para sala:

– Vamos esperar! Alguém vai aparecer na Televisão! Seu p-p-p-p-ai ti-ti-ti-ti-rou a própria vida! Eu fui fazer alguma coisa para gente comer e-e-e-e-e-e quando me virei ele já estava..

..com a faca no pescoço.– Ela soluçava e chorava desesperadamente. Ela sai andando da sala:

– ONDE VOCÊ VAI MÃE? – grita meu irmão

– EU VOU BUSCAR AS NOSSAS COISAS! FICA AÍ ESPERANDO O APRESENTADOR APARECER! – ela já responde indo em direção ao seu quarto.

Ficamos sentados abraçados na sala por uma hora e nada de alguém aparecer. Minha mãe estava demorando demais para pegar nossas coisas e de repente houve um barulho e todas as luzes se apagaram:

– Vou atrás da nossa mãe! Fica aqui e se alguém aparecer você grita.

– Vou esperar – disse meu irmão cansado de tanto chorar no sofá.

Já vou direto para o quarto da minha mãe, chegando lá vejo que as coisas pareciam estar no mesmo lugar, vou olhar no banheiro e levo um susto. Começo a gritar:

– MÃE! MÃE! O QUE ESTÁ ACONTECENDO? MÃE ACORDA!!!

Vou correndo em sua direção, ela estava dentro da banheira cheia, nua e parecia estar desmaiada. Vejo um secador lá dentro, tento tirar seu corpo da água, mas ela já estava sem vida.

– O que está acontecendo com vocês!! Será que ninguém está vendo isso? – começo a chorar, me levanto e chego perto de uma câmera do lado espelho e grito – TIREM A GENTE DAQUI! MEUS PAIS ENLOUQUECERAM!

Olho para o espelho e vejo que tinha algo escrito com batom, reconheço que é a letra da minha mãe:

“Rebbeca é a oferenda errada! Quer vingança!”

Meu mundo desaba depois de ler essa frase. Rebbeca mentiu para mim, eu perguntei para ela se ela era virgem, ela sempre dizia que sim. Eu pensei que fossemos melhores amigas e ela me contava tudo. Por isso quando minha mãe descobriu uma forma da gente ficar rico e famoso, fazendo uma oferenda para satã matando uma virgem, pensei que ela fosse a pessoa certa. Sabíamos que se fizéssemos algo errado a alma voltaria por vingança. Escuto um barulho da sala de jogos:

– MEU DEUS! MEU IRMÃO!

Saio correndo e quando chego lá vejo uma menina de branco, ensanguentada, afogando meu irmão na piscina. Era a Rebbeca, ela olha para mim e seu rosto era demoníaco.

– REBBECA LARGA MEU IRMÃO POR FAVOR! – grito desesperada.

Ela só sorri e continua a afogando meu irmão na piscina.

Em desespero corro para cima de Rebbeca e tento salvar meu irmão, mas ela era forte demais e eu não consegui pará-la. Ela solta seu corpo na água e fico parada esperando a minha vez de ser morta, ela apenas sorri e desaparece.

Escuto passos vindo atrás de mim, quando me viro vejo que eram policiais.

– No chão! Nem tente se mover! Você está presa!

Disseram que estava presa pelo assassinato de toda a minha família em rede nacional. Me mostraram as filmagens, parece que ocorreu um problema com o sistema e apenas as câmeras da cozinha, quarto do casal e piscina estavam funcionando. Nem pensei em me defender, entendi o que havia acontecido. O público não deve ter visto pela TV que era a Rebbeca, todo mundo só conseguia me ver. Eu cheguei depois dos assassinatos, mas as filmagens dos locais em que eu estava antes magicamente desapareceram.

Ninguém ia acreditar que um espírito fez isso, ainda mais que era eu em todas as filmagens. Acabei presa e conhecida como a garota que assassinou a família em um Reality Show. Rebbeca deve estar finalmente em paz.


Ilustrador: Brendom Rodarte

Escritora: Nathália Santos

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O “mordidinhas”

– O gravador já está ligado? Tudo certo, escrivão?

– Tudo certo chefe! – Disse o escrivão olhando o policial trazendo o suspeito

– Então vamos começar! Suspeito João Carlos Eduardo, 29 anos, acusado de assassinato em série. Foram encontradas treze mulheres sem vida, com as mãos amarradas para trás, nuas, com marcas de mordidas pelo corpo, faltando o mamilo esquerdo. Definido como modus operandi do “mordidinhas”.

De acordo com a perícia, as mulheres eram asfixiadas até morte, mordidas e seus tinham seus mamilos esquerdos arrancados com os dentes. O suspeito foi visto perto de vários lugares em que corpos foram encontrados. Na sua casa foram encontradas fotos de todas as vítimas e um pote de maionese dentro da geladeira, com exatamente 13 mamilos.

O suspeito interrompe:

– EU NÃO FIZ NADA DISSO! EU JÁ DISSE PARA VOCÊS! NÃO SEI COMO ISSO TUDO FOI PARAR NA MINHA CASA!

– Então vamos refrescar sua memória! Me passa essa caixa escrivão?

– Sim chefe!

– O que você tem para dizer dessas fotos?

O suspeito pega as fotos das vítimas e fica analisando:

– Conhece alguma dessas mulheres?

– Sim, mas calma! Não pessoalmente, eu já vi essas mulheres, elas trabalham no shopping. Me deixem explicar! A minha mulher vai muito a um mesmo shopping, por isso sei que essas mulheres trabalham lá, mas só por isso, eu nunca cheguei perto dessas mulheres.

– Então todas essas fotos com elas mortas e nuas apareceram por acaso na sua casa?

O suspeito pega as fotos e fica desesperado:

– MEU DEUS! EU NUNCA FARIA UMA COISA DESSAS COM NINGUÉM NA MINHA VIDA.

– Nunca mesmo? Por que foi encontrado esse pote de maionese cheio de mamilos na sua casa também?

– EU NÃO SEI! JÁ DISSE!

– Para com isso cara! Assume logo! Vai falar que nunca viu esse pote de maionese dentro da geladeira?

– É CLARO QUE JÁ VI! MAS NUNCA ABRI! EU NÃO GOSTO DE MAIONESE!

– Agora já não gosta de maionese! Você é o suspeito com as desculpas mais bobas possíveis. Nunca conheci um desses e você escrivão?

– Nunca chefe!

O suspeito estava aos prantos:

– EU NÃO SOU UM ASSASSINO! EU NÃO FIZ NADA!

– Então por que tem filmagens sua nas ruas perto dos locais de crime?

– EU ESTAVA SEGUINDO MINHA MULHER! ELA ESTAVA ESTRANHA COMIGO! FALAVA MENTIRAS QUE IA NO SHOPPING E IA PARA OUTROS LUGARES, COMEÇEI A SEGUIR ELA, MAS EU NUNCA CONSEGUIA IR ATÉ O LOCAL, ELA SUMIA!

– Agora chega! Cansei dessas desculpas! Escrivão fala para alguém vir aqui e prender este homem! Ele não é suspeito, foi tudo achado na casa dele! Cara, acorda para a vida, sua mulher está separada de você há muito tempo, investigamos sobre você e está aqui o papel do divórcio! Não foi encontrada sequer uma peça de roupa feminina na sua casa!

– O QUE? ELA ESTÁ VIAJANDO PARA CASA DA MÃE! MAS ELA MORA LÁ SIM! EU NUNCA ASSINEI NENHUM PAPEL DE DIVÓRCIO!

– Chega, cara! Sua mulher está morando fora do país! Temos fotos em redes sociais para provar!

O suspeito olha assustado para as fotos:

-ESTAS FOTOS SÃO ANTIGAS E EU ESTAVA EM TODAS ELAS! ELA ME APAGOU! A GENTE FOI PARA A ITÁLIA! ELA ME LEVOU DE PRESENTE DE CASAMENTO…… MEU DEUS SEMPRE FOI TUDO ARMADO! O SHOPPING QUE ELA SEMPRE IA! OS SUMIÇOS! EU A VI TIRANDO ROUPA DE CASA! ELA DISSE QUE ESTAVA DOANDO!

– Gente tira esse homem logo daqui! Já passou dos limites!

– FOI ELA! FOI MINHA MULHER! FOI TUDO ARMADO – O suspeito sai da sala gritando sendo levado pelos policiais.

– Que loucura esse homem! O caso está encerrado escrivão!

– Acho que não chefe, acabaram de ligar da perícia. Conseguiram identificar o verdadeiro assassino pelas mordidas.

– Como conseguiram isso?

– Acharam uma maçã na casa com uma marca de mordida idêntica à das vítimas.

– Não estou entendendo! A maçã é do cara, o caso está sim encerrado!

– Não senhor, a mordida é de uma mulher!

O investigador fica impressionado:

– Nossa pegamos mesmo o cara errado! Nunca ia pensar que uma mulher seria capaz de fazer uma coisa dessas!


Ilustrador: Brendom Rodarte

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O Jogo de Tabuleiro Parte II: O fim que não tem fim.

-EU NÃO POSSO FAZER ISSO COM MEUS AMIGOS! – gritei me afastando do tabuleiro.

– Você não tem escolha! Quem manda nesse jogo sou eu entendeu? COMECE LOGO!

Nessa mesma hora apareceu uma carta do jogo dizendo:

“O jogo começa com “ataque Alien em esconderijo secreto”

Pergunto assustado:

– O que isso quer dizer?

O espírito responde:

– Você é o mestre, esqueceu? Me surpreenda.

O tabuleiro tinha se transformado em um lugar escuro com uma sala e computadores de alta tecnologia, nessa sala estavam meus amigos sentados planejando alguma coisa. Do lado de fora dava para ver os Aliens se aproximando prontos para atacar, fiquei desesperado e acabei gritando:

– AMANDA!!!CAIO!! BRUNA!! GENTE!!! TEM ALIENS DO LADO DE FORA!!!

Eu percebi que eles me escutaram de algum lugar, mas não sabiam de onde estava vindo essa voz e nem pareciam entender o que eu falei. O espírito ficou furioso:

– Sabe o que acontece quando as pessoas não obedecem às regras? Elas são punidas!

Olhei para o tabuleiro os aliens tinham invadido o esconderijo, meus amigos lutaram bravamente, mas eles eram muitos e um deles acabou atacando a Alana, que era a Roxanne, e destruindo-a em mil pedacinhos. Encurralaram meus outros amigos, pensei que todos iam morrer nessa hora:

– JOGA!!- disse o espírito:

Não hesitei dessa vez, peguei uma carta e escrevi:

“Vladimir tinha construído uma passagem secreta que levava para o esgoto da cidade, a passagem foi construída na intenção de atacarem o quartel general dos aliens. Entrando pelo esgoto e saindo na sala onde as câmeras de clonagens estão para deixar uma bomba e explodir todas elas. Eles pensaram que esse plano seria executado com calma, não tinham imaginado que seriam atacados antes pelos aliens.

Por sorte foram encurralados em cima dessa passagem secreta e perceberam que era a hora de executar o plano.”

Coloco a carta no tabuleiro e vejo tudo acontecer:

– Estamos encurralados! O que vamos fazer? – Disse Alexa desesperada

– Vamos executar o plano agora! Estamos em cima da passagem secreta, vou acionar o botão! Quem está com a bomba? – Disse Vladimir.

– Eu! – disse Vitlaus

Assim que ele apertou o botão uma fumaça fez os aliens ficarem confusos e cegos. Eles desceram para o esgoto e quando os aliens perceberam já não estavam mais lá.

– Deu certo gente! Estamos no esgoto- disse Zatara, ofegante, mas animada.

– Vamos acabar com o plano desses aliens! – Disse Baox tirando um mapa que levava à sede dos aliens através do esgoto.

Começaram a seguir o mapa e andaram por um bom tempo pelo esgoto. Nesse meio tempo, acabei percebendo que realmente tudo que eu criava ganhava vida e o espírito estava muito focado na história. Acabei tendo uma ideia:

–  Acho que está muito fácil eles chegarem nessa sede, posso acrescentar mais coisa nessa parte da história? – Perguntei para o espírito.

– Claro! você é o mestre! – disse o espírito animado.

Peguei a carta e escrevi:

“Eles só não imaginavam que havia um monstro, parecendo um lagarto, que foi criado pelos alienígenas para vigiar as passagens do esgoto caso algum dia alguém resolvesse ter essa ideia.”

– Estamos quase lá – Disse Baox olhando o mapa.

Quando avistaram a passagem um enorme lagarto de olhos vermelhos surgiu pelas águas do esgoto, pegou Holocen pela perna e a jogou contra parede. Vitlaus percebeu que sua irmã não conseguiria mais andar e correu para protegê-la enquanto os outros começaram a atacar o lagarto. Zatara percebeu que o lagarto tinha um cordão no pescoço e dependendo de como ele se mexia, seus olhos ficavam pretos:

– Gente! Esse cordão está fazendo alguma coisa com ele! Temos que tirar- Disse Zatara

Baox e Alexa também perceberam e começaram a cercar o lagarto para tirar:

– Estamos cercando ele contra parede! Pula no pescoço dele Vladimir!

Vladimir não perdeu a oportunidade, pulou no pescoço do lagarto e arrancou o cordão. Na mesma hora o bicho não ficou bravo mais, entrou na água do esgoto e foi embora.

– Que história empolgante! Me surpreenda mais! – O espírito estava muito empolgado e percebi outra coisa, o espírito não conseguia ler o que estava escrito na carta. Ele realmente queria ver o desenrolar do jogo.

Peguei outra carta e fiz um fim para essa história.

“Os sobreviventes (que ainda podiam andar) chegaram na sede dos aliens e acabaram descobrindo que não existia nenhuma câmera de clonagem. Existia uma passagem para trazê-los de volta para casa, e o espírito que deu vida para esse jogo seria preso dentro dele para sempre”

Acabei de escrever e rapidamente joguei a carta no tabuleiro, fiquei esperando a ação acontecer.

– Tem certeza de que estamos mesmo na sede dos aliens? – Disse Alexa procurando as câmeras.

– Eu não vejo câmera nenhuma! – disse Baox

– O que isso? – disse Vladimir apontando para um buraco brilhante na parede.

Esse mesmo buraco apareceu na casa e começou a sugar o espírito para dentro do jogo e ele começou a gargalhar:

– Quebrando regras novamente Henrique? Está tentando me enganar? – disse ele gargalhando. Me agarrou pela perna e gritou – VAMOS VER SE VOCÊ SABE MESMO JOGAR, VEM COMIGO PARA DENTRO DO NOSSO JOGO.

Acabo sendo sugado junto com o espírito para dentro do jogo, através do portal vejo meus amigos de volta para onde estávamos jogando. Percebo que para mim dessa vez não teria volta, ficaria preso para sempre (ou até conseguir enganar esse maldito outra vez) no jogo.


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O Jogo de Tabuleiro Parte I: A Viagem para Marte

– Estão prontos para jogar?

Meus amigos me olharam com uma cara bem desanimada quando me viram com um jogo de tabuleiro velho na minha mão.

– Sério Henrique? Você quer mesmo jogar isso? Parece jogo de criança! – Disse Caio tentando me fazer desistir.

– O nome do jogo é “A Viagem para Marte”! Parece muito com coisa de criança! – Disse Amanda zombando do meu jogo.

Os outros amigos que estavam ali concordaram e começaram a rir, eles olharam para mim bem pensativos:

– Vamos jogar gente! Não temos nada a perder! Se for ruim a gente para, pode ser?

– Vamos jogar pessoal! Começa logo esse jogo Henrique, antes que eu desista! – Disse Alana arrastando uma mesa para o centro e fazendo todos se sentarem para jogar.

Pego o tabuleiro correndo e coloco em cima da mesa, todos me olham assustados:

– Como funciona esse jogo? Não tem nada escrito! Está tudo em branco! – Disse Marlon confuso.

Pego a folha de instruções e começo a explicar:

–  Para a gente chegar em marte vamos ter que criar a própria história! Eu vou me encarregar de ser o mestre, aqui está dizendo que é aquele que comanda o enredo principal, os outros devem criar a história dos seus próprios personagens.

Pego umas cartas em branco que estavam junto com o tabuleiro e entrego para cada um dos jogadores. Assim eles começam a criar seus personagens:

– O meu já está pronto! Meu nome vai ser Vladmir, vou ser um robô construído pelo exército Russo, capturado por rebeldes e reprogramado para lutar do outro lado. Pronto para viajar para marte! – Disse Caio todo animado.

– Meu nome no jogo vai ser Zatara, vou ser uma androide criada para afazeres domésticos, e depois vendida para um físico nuclear com uma personalidade sádica, lá acabei sendo moldada para ser a segurança pessoal gratuita do físico, depois de vários experimentos no meu disco rígido acabei me auto programando para sobreviver, me tornando dona de mim mesma, desde então luto pela liberdade e justiça. – Disse Amanda toda se achando com sua personagem.

– Eu vou ser o Baox! Vou ser humano mesmo, criado como um guerreiro, com disciplina e respeito pela batalha, porém com um conflito pessoal. Descobri que na verdade sou parte de uma família de ladrões, mas nenhuma das minhas duas origens me agrada – Disse Marlon levando a sério o jogo.

– Eu quero que meu nome seja Roxanne! Eu adoro esse nome! Vou ser uma lunnar, nascida na lua, ex-policial com uma infância nada fácil. Fui abandonada pelo meu pai. E Minha mãe nunca entendeu o meu motivo por querer ser uma policial. Tenho um cachorro robô Nick, o último presente do meu pai antes dele partir. Ele é capaz de emitir um campo de forca que funciona como um escudo– Disse Alana sobre sua personagem demostrando como ela gosta de filmes de ficção.

– Meu nome vai ser Alexa e vou ser também uma androide. Meu antigo dono, um especialista em tecnologia, encontrou minha cabeça jogada em meio a sucatas no ferro velho. Ele a reconstruiu, mas minha memória não foi restaurada, por isso apresento certas habilidades e comportamentos que se diferenciam de outros androides.– Disse Bruna que adorava ser bem competitiva com Amanda.

– Eu vou ser uma Ciborgue! Parecido com aquele da Liga da Justiça! Vou chamar Holocen e durante a minha infância fui deixada com meu irmão Vitlaus que será o Bernardo pode ser? Fomos criados em um orfanato onde tivemos que aprender de tudo um pouco. Acabei sendo adotada por uma família de classe média, mas não perdi o contato com meu irmão, ele começou a fazer serviços externos para o diretor do orfanato que incluía assassinatos e espionagem. Ingressamos juntos no serviço militar, mas acabamos nos revoltando. Em uma missão, com meu irmão, ocorreu uma emboscada e em uma tentativa de sair em meio as explosões, perdi minha perna esquerda, enquanto Vitlaus, perdeu o braço direito. Com a ajuda de guerrilheiros, fizemos implantes de alta tecnologia. – Disse Luiza sorrindo pronta para jogar.

– Não esquece que meu braço vira um canhão! – Disse Bernardo me esperando começar o jogo.

Fiquei maravilhado com as histórias dos personagens:

– Ficaram Incríveis!! Isso porque vocês não queriam jogar!! Imagina se quisessem? Agora é minha vez de contar o enredo principal. Eu pensei em uma história em que os humanos se mudaram para Marte em 2089, em busca de expansão terrestre e começaram uma exploração de recursos para ver se era um bom lar para morarem. Depois de anos de exploração, acharam uma caverna que estava coberta por um desmoronamento e descobriram 12 caixas enormes. Dentro delas havia aliens, tinham mais de 2 metros de altura, roxos, pareciam ainda estar vivos, mas estavam cobertos por um líquido gelatinoso.

Trouxeram as caixas para a Terra, começaram a fazer testes nos alienígenas e quando conseguiram acordá-los, os cientistas se espantaram com sua força, poder e inteligência. Eles fizeram um acordo com os humanos, se a gente ajudasse a trazer seus irmãos de volta eles nos ajudariam a melhorar o nosso armamento, tecnologia e comunicação.

Depois de muitos anos de exploração os humanos descobriram que esse acordo era tudo uma farsa, os aliens mostraram que não eram nada pacíficos, e tomaram a terra, o sol e a lua. Oprimiram as raças espalhadas em todo o planeta e controlaram tudo ao seu redor.

Pensei em vocês como um grupo que já trabalhava na clandestinidade para sobreviver, foram convocados por agentes secretos para impedir que os aliens fizessem uma máquina de clonagem, para se livrarem das outras raças e se tornarem um povo único. Estão prontos para jogar?

Todos responderam:

– ESTAMOS!

Peguei a folha de orientação para ler as últimas instruções:

– Aqui está dizendo só para jogar as cartas no tabuleiro que o jogo vai começar!

Todos olharam confusos um para o outro e fizeram o que estava pedindo, jogaram as cartas no tabuleiro. Quando joguei a minha carta uma luz começou a se acender e tudo o que escrevemos estava ganhando vida. Quando eu olhei para os meus amigos, eles estavam virando os seus personagens, começaram a encolher e entrar no tabuleiro e desapareceram.

Fiquei muito assustado, o tabuleiro agora parecia com os planetas com todas as características da história que escrevi. Do meio do tabuleiro saiu uma carta virada, peguei para ler e lá estava escrito:

“Bem-vindo ao meu jogo! Vocês vieram para minha casa, sou um espírito solitário, achei interessante e resolvi dar um toque especial. Por aqui irão sair todas as cartas do jogo com todas as orientações para guiar os seus personagens. Mas temos algumas regras:

– Você vai guiar os seus personagens de acordo com a história que você criou.

– Os personagens irão sentir tudo de verdade, dor, fome, medo, frio, tudo isso será real.

– Na vida real as pessoas morrem, no jogo também!

– Se eu gostar do enredo, ao final do jogo, tudo voltará ao normal. Caso contrário, os danos serão mantidos. Este é o único jeito de sair.”

Depois dessa carta já se encontrava outra dizendo:

“PRONTO PARA JOGAR?”

Fiquei parado com essa carta na mão pensando, MEU DEUS O QUE EU FIZ?


Ilustrador: Brendom Rodarte

Escritora: Nathália Santos

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A Descoberta

Minha mãe já estava há dias sem dormir e comer por causa do meu avô, ele estava desaparecido há mais de seis meses. A polícia estava desistindo de encontrá-lo, não tinha mais onde procurar, ele sumiu sem deixar rastros e ninguém conseguia identificar a causa do seu desaparecimento:

– Mãe, se levanta!! Você tem que comer alguma coisa, não pode mais viver assim sofrendo pelo meu avô, ele vai voltar!

Falei isso com o coração doendo pois eu também sentia muita falta dele e das suas pesquisas malucas. Ele era um grande cientista e me ensinava muitas coisas, sempre compartilhava comigo suas grandes descobertas:

– Desculpa filho, mas acho que seu avô não volta mais! – Ela disse isso aos prantos e fico com muita raiva.

– COMO VOCÊ PERDE AS ESPERANÇAS ASSIM MÃE? ELE VAI VOLTAR SIM! ELE SEMPRE VOLTA!

Saio correndo e vou direto para o quarto do meu avô, fecho a porta com raiva, deito-me em sua cama e fico ali chorando, até que encontro um papel enrolado embaixo do travesseiro:

“Os nove círculos”

Desenrolei o papel e era um mapa que levava para algum lugar chamado “Planeta dentro de Outro”. Era um mapa diferente de todos que ele havia me mostrado antes, o destino ficava no centro de 9 círculos e cada um desses círculos ficava em um nível abaixo do anterior. Uma chama de esperança de encontrar meu avô cresceu dentro de mim:

– Eu sabia que você não estava morto! Com certeza é alguma descoberta científica que vai mudar o mundo!

Decido então esconder esse mapa e fugir para encontrar meu avô sozinho, assim ninguém ficaria sabendo da sua nova descoberta. Vou no meu quarto, pego minha mochila, coloco roupas e alguns biscoitos dentro dela, passo por minha mãe bem devagarinho, para ela não escutar que estava saindo e vejo que ela está dormindo. Sussurro bem baixinho:

– Eu volto mãe, te amo!

Já saio de casa seguindo o mapa e percebo que ele estava me levando para os fundos da nossa casa, mostrava uma entrada para uma passagem subterrânea. Chegando lá comecei a descer uma escada que parecia infinita, pensei que ela nunca iria acabar, mas depois de quase uma hora descendo finalmente ela acabou. No mapa, este local era identificado como o primeiro círculo.

Fico parado e assustado por ver pessoas ali, me aproximei e percebi que não eram pessoas normais, elas eram translúcidas, eu parei e consegui ver através delas:

– SÃO FANTASMAS!

Acho que disse isso muito alto e todos se viraram para mim. Um senhor se aproximou e disse:

– Aqui é o Limbo! O lugar dos pagãos e dos não batizados! Se você não for um de nós vá para o próximo círculo!

Os fantasmas começaram a me cercar, saio correndo seguindo o mapa tentando chegar ao segundo círculo. Encontrei uma porta e entrei, devo ter demorado umas duas horas para chegar até ali. Parecia um tribunal, estava cheio de fantasmas e havia um senhor escutando as confissões dos fantasmas. Ele me avistou e disse:

– Eu sou Minos! Juiz deste lugar! Aqui é o Vale dos Ventos! O lugar dos pecadores da luxúria! Se você não for um de nós vá para o próximo círculo!

Passo pelos fantasmas bem sem graça por ter atrapalhado o julgamento e volto a seguir o mapa para encontrar o terceiro círculo. Esse foi mais rápido para chegar, em uns vinte minutos já estava lá. Me deparei com um cachorro enorme de três cabeças, atolando fantasmas em uma lama e dizendo:

– Os gulosos que se afoguem! Aqui é o Lago da Lama, se você não for um de nós vá para o próximo círculo!

Tento seguir o meu caminho sem afundar na lama e nem ser visto pelo cachorro, mas escorreguei e rolei até chegar em um outro lugar, acho que cheguei no quarto círculo. Os fantasmas estavam discutindo entre si, olharam para mim com nojo e disseram:

– Aqui são as Colinas de Rocha! O lugar dos Pródigos e Avarentos! Se você não for um de nós vá para o próximo círculo!

Os fantasmas começaram a me puxar e empurrar, fui sendo arrastado pela multidão até cair na água. Percebo que na verdade era um rio de sangue e quando olho no mapa, já estou no quinto círculo. Uma senhora fantasma toda coberta de sangue se aproxima e puxa meu braço, me arrastando para fora do rio gritando:

– AQUI É O RIO ESTIGE! LUGAR DOS ACUSADOS DE IRA! SE VOCE NÃO FOR UM DE NÓS VÁ PARA O PROXIMO CÍRCULO!

Fico andando por horas até chegar no sexto círculo, já não estava aguentando mais e tirei um biscoito para comer. Sinto cheiro de carne podre queimada e fico enjoado. O sexto círculo era um cemitério, estavam sepultando os fantasmas em túmulos abertos, em chamas.

Saí correndo apavorado e de repente vejo uma placa indicando três caminhos. Eram três vales para escolher, Vale do Rio Flegetante, Vale da Floresta dos Suicidas e Vale do deserto Abominável. Procuro no mapa qual caminho a seguir e vejo que devia continuar sem entrar em nenhum desses vales, fico aliviado por isso.

Caminho por mais algum tempo e vejo novamente fantasmas sendo castigados. O mapa mostrava que o oitavo círculo eram “os dez fossos” que estavam na minha frente, mas também não precisaria entrar neste.

Já não aguentava mais esse lugar, era muito horror e comecei me questionar o que meu avô achou aqui. Com esperança de que faltava pouco para encontrar o meu avô continuei caminhando até que avistei um enorme homem com chifres de bode, asas de morcego e três cabeças:

– Como você chegou até aqui menino? – disse a primeira cabeça.

– Quantos anos você tem? – disse a segunda cabeça.

– Eu sou Lucífer, quem é você? – disse a terceira cabeça.

Respondo com medo:

– Estou procurando o meu avô, ele está desaparecido e me deixou esse mapa, meu nome é Igor e eu tenho 13 anos!

– Prazer Igor, meu nome é Judas! – Disse a segunda cabeça

– Prazer! O meu é Brutus – Disse a primeira cabeça

A Terceira cabeça estava analisando o mapa e o menino:

– Você tem certeza de que quer achar o seu avô?

Respondo muito feliz:

– É tudo o que eu mais quero nesse mundo!

– Então é só você seguir em frente rapaz! Seu avo é um gênio! Ele descobriu o centro da terra! – Disse a terceira cabeça mostrando o caminho.

Saio correndo sem pensar em me despedir ou agradecer as três cabeças, só consigo pensar em encontrar o meu avô. Uma porta se abre para mim com uma luz que quase me cegou, tampo meus olhos e quando me acostumei com a claridade estava em outro planeta, era realmente um planeta dentro de outro, tudo era diferente.

Parecia que eu estava dentro de uma grande bola de metal e estava um calor infernal, não havia nada nesse lugar além de metal e meu avô. Quando ele me viu veio ao meu encontro me abraçar e disse chorando:

– O que você está fazendo aqui Igor? Por que você veio até aqui?

Comecei a chorar:

– Eu vim ajudar você! Eu encontrei o mapa! Segui o que você pediu! Sabia que você tinha feito alguma descoberta genial! Vamos sair daqui e contar para o mundo meu avô! Você descobriu o centro da terra! – Disse isso puxando meu avô para gente poder ir embora.

– Se fosse fácil assim, meu neto, eu já teria ido embora! Eu pensei que você ia entregar o mapa para sua mãe e ela ia entender o que eu estava falando, era por isso que estávamos ali naquela casa, eu devia ter contado tudo direito para você, nunca ia imaginar que você ia vir atrás de mim! Acabei te fazendo ficar preso aqui comigo.

Abraço o meu avô desesperado dizendo:

– Quem sabe um dia alguém descobre esse lugar?

Ele responde preocupado:

– Quem sabe?


Ilustrador: Brendom Rodarte

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Meggue a rainha das Ratazanas

Era uma vez uma cachorrinha chamada Meggue. Ela era muito pequeninha e feia e se sentia rejeitada por isso, sempre quando apareciam outros cachorros, todo mundo fazia questão de apontar o quanto ela era feia e sem graça. Colocavam vários apelidos, zombavam das suas perninhas tortas e do seu tamanho. Meggue ficava muito chateada.

Existia uma pessoa que amava Meggue do jeito que ela era, sem colocar defeitos, essa pessoa era a sua dona Bianca. Ela era a única que achava a cachorra a coisa mais linda deste mundo, cuidava dela como se fosse uma princesa. Elas eram inseparáveis, mas Bianca sabia que Meggue se sentia muito deslocada neste mundo, até que um dia ela teve uma ideia genial para ajudar sua cachorrinha:

– E se a gente inventasse que você é uma rainha? – Disse Bianca toda eufórica para Meggue.

– Uma Rainha? Mas porquê? – Disse Meggue admirando sua dona. Ela amava todas as ideias de Bianca.

– Podemos dizer que você é de um reino distante! Por isso é diferente, entendeu? Aí todos iram respeitar você! O que acha?

Meggue toda alegre com a ideia responde:

-Acho que vai ser incrível! Quero ver quem vai se meter com uma rainha!

– Isso!!! Todo mundo respeita uma rainha!! Vamos já para o parque encontrar com os cachorros e espalhar a notícia?

– Vamos!!!

Elas foram animadas para o parque colocar em prática essa ideia. Chegando lá Bianca começou a espalhar uma fofoca para todos os cachorros que passavam, que Meggue era uma rainha, todos começaram a olhar para ela curiosos e com mais respeito. Alguns até pediram desculpas pelos insultos, outros trouxeram presentes para agradar a rainha e muitos cachorros tentaram se aproximar para fazer amizade.

A única cachorra que achou essa história estranha, foi a metida da Jorgete. Uma poodle que se achava a última bolacha do pacote, com seus pelos brancos sempre tosados e bonitos, e vivia implicando com Meggue. Ela já chegou no parque questionando:

– Você uma rainha? Mais de que reino você é? E onde estão seus súditos?

Bianca e Meggue se olham assustadas:

-Eles estão chegando!

– Eles estão em meu reino!

Disse Bianca e Meggue ao mesmo tempo.

Jorgete começa a gargalhar:

– Como? Não entendi, estão chegando ou estão no reino? E onde é esse reino?

Bianca e Meggue ficaram em silêncio.

– Estão vendo meus amigos, isso é tudo mentira! Como essa coisa esquisita seria uma rainha?

Enquanto Jorgete continuava debochando, Bianca avistou um grupo de ratazanas passando às escondidas no parque, ela teve outra ideia. Aproveitou que todos estavam distraídos, chegou perto das ratazanas e fez uma proposta:

– Vocês podem ajudar minha cachorrinha? Todos estão debochando por ela ser diferente! Por isso acabei inventando uma história que ela é rainha, mas ninguém acreditou! Será que vocês aceitam ser súditos da Meggue e chamá-la de rainha?

As ratazanas se olharam, concordaram e disseram:

– SIM!!! A GENTE ENTENDE COMO É SER DIFERENTE!

Bianca ficou muito feliz e agradecida, levou as ratazanas até Meggue e quando chegaram no meio dos cachorros elas gritaram:

– VIVA MEGGUE A RAINHA DAS RATAZANAS! QUEM OUSAR INCOMODAR A RAINHA TERÁ SUA CASA INFESTADA E COMIDA!

Todos os cachorros olharam assustados e se curvaram. Depois desse dia Meggue nunca mais foi desrespeitada e ficou conhecida como Meggue a rainha das ratazanas. Não permitiu nenhuma falta de respeito entre os cachorros ou com qualquer outro bicho.

E viveu feliz para sempre com sua dona Bianca.


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Casa de Brinquedos

Acordei meio tonto e sonolento, não lembrando onde estava, minha cabeça parecia que iria explodir de dor. Levei a mão na cabeça e senti que estava machucado e sangrando. Percebo que estou deitado, tudo estava muito escuro, vou tocando ao meu redor e parece que estou preso.

Não consigo me levantar, não consigo nem ao menos sentar, parece que estou dentro de uma caixa no tamanho ideal para o meu corpo, parece que estou dentro de um caixão. Começo a ficar desesperado até que escuto mais pessoas gritando:

– ME TIRA DAQUI!!!!

– SOCORRO!!!!!!!!

– ONDE ESTOU??

Reconheço todas as vozes, acho que essas pessoas eram os meus comparsas:

– VOCÊS ESTÃO BEM? JOSÉ, LUCAS E AMÉLIA!

– Eu estou bem Evandro, só minha perna que parece estar quebrada! Deve ter quebrado na queda – disse Amélia com uma voz bem fraca e chorando de dor.

– Como fomos presos aqui? – Disse Lucas assustado.

– Eu só me lembro de entrar na casa e cair em um buraco! – Disse José, tentando se lembrar dos acontecimentos.

Uma luz azul acendeu dentro do caixão, percebi que não era um caixão, parecia mais uma câmara de bronzeamento artificial. Tentei fazer força para fugir, mas ela não abria de jeito nenhum, não tinha nada para fazê-la abrir. Fiquei muito assustado e confuso:

– MAS QUE CASA É ESSA QUE VIEMOS ASSALTAR?

Quando terminei de falar escutei José gritar:

– SOCORRO! ME AJUDEM! TEM ALGUMA COISA FURANDO A MINHA PERNA!

Em sequência, Lucas e Amélia também pedindo por ajuda. Até que senti uma coisa parecendo uma ponta de furadeira saindo da câmara e que começou a girar e entrar na minha perna. Era uma dor insuportável, comecei a chorar e gritar de dor.

– PARAAA POR FAVOR!!! SOCORRO!!!!

Após algum tempo a ponta da furadeira parou, não sei dizer quanto tempo, mas pareceu uma eternidade. Saindo da minha perna tão devagarinho que quase me fez desmaiar de dor, deixando a câmara com sangue para todos os lados. Escuto José e Lucas ainda pedindo ajuda, mas não escuto mais Amélia.

– AMÉLIA!!!! VOCÊ ESTÁ BEM??? RESPONDE!!!

Comecei a sentir a câmara muito quente, estava ficando tão quente que era difícil ficar deitado. A minha pele começou a ficar vermelha, parecia um frango dentro de um forno. Começamos a pedir socorro novamente, mas os gritos do Lucas me deixaram assustados. Rapidamente ele se calou e não escutamos mais nada:

– LUCAS!!!!!!! RESPONDE CARA!!!!! POR FAVOR!!!!

A câmara parou de esquentar. Mas começou a pingar um líquido grosso e com um cheiro horrível do teto da câmara. Quando uma gota encostou na minha mão queimou tanto que abriu uma ferida enorme, parece que estava me corroendo. Achei que ia morrer de tanta dor, mas José gritou, gritou tanto que eu não conseguia mais escutar. Tentei sair da câmara de todos os jeitos para ajuda- ló, mas ele se calou e eu já percebi o que tinha acontecido:

– JOSÉ!!!!! POR FAVOR!!!!! RESPONDE!!!!

Estava sozinho neste lugar, não tinha mais ninguém comigo, eu só queria que acabasse logo, não aguentava mais ser torturado. A câmara começou a se abrir lentamente, quando estava toda aberta eu fui me levantando aos poucos e com muita dificuldade consegui me sentar na beirada, vi os corpos dos meus comparsas todos deformados. Comecei a chorar, agora eu tinha mesmo certeza de que estavam todos mortos.

Bem na minha frente, sentado em uma cadeira, com um controle na mão, se encontrava um menino, que deveria ter uns dez ou onze anos, ele sorri dizendo:

– Ninguém nunca ensinou para vocês não entrarem na casa de estranhos? Para tomar cuidado onde pisam? Pode ser que um dia entrem em uma casa com armadilhas.

Eu não conseguia responder, não conseguia acreditar que uma criança tinha feito isso tudo. José que estava vigiando a casa para gente assaltar, sabíamos que a família era rica, e também sabíamos que essa criança ficava sozinha. Agora eu entendi o porquê.

– O gato comeu sua língua? Não se preocupe eu vou deixar você ir embora, se você prometer nunca mais voltar aqui, Promete?

Respondo sem ao menos pensar:

– Prometo!

 O menino sorri e uma porta abriu atrás de mim, juntei todas as forças que eu tinha e me arrastei até a porta para sair rápido daquela casa.

E não era uma saída.

Entrei uma sala muito grande, colorida e iluminada. Havia várias outras pessoas que pareciam também ter sido torturadas, mas nenhuma tinha machucados parecidos com o dos outros. Na parede, uma pichação enorme em vermelho: “CASA DE BRINQUEDOS”


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Mais um apocalipse

Estava sentado em minha sala, encarando o relatório com o resultado positivo do teste da vacina em minhas mãos. Levanto correndo para dar a notícia aos meus amigos de trabalho:

– Não acredito que conseguimos! Conseguimos a vacina! Ela já está pronta para ser aplicada nas pessoas!

Todos os pesquisadores começaram a comemorar depois dessa notícia, era um avanço muito grande para ciência conseguir uma vacina tão rápido. Não demorou muito tempo para essa notícia se espalhar em todos os jornais do país, e todo mundo começar a comemorar pela vacina.

Uma semana depois a vacina já estava sendo distribuída em hospitais e postos de saúde, mas nós os pesquisadores que encontramos a cura decidimos tomar a vacina primeiro e transmitir esse evento em rede nacional.

Os repórteres chegaram no centro de pesquisa filmando o nosso dia como se fosse um reality, mostrando como cada passo para achar a cura foi feito, os processos, a pesquisa até que finalmente chegou a hora da vacina.

Como eu era o líder da pesquisa, fiquei encarregado de começar a vacinar meus colegas de trabalho. Comecei a aplicar a vacina e quando todos tomaram, expliquei que fizemos isso para garantir que a vacina não traria problemas para as pessoas.

Surgiram várias perguntas dos repórteres e fomos respondendo, quando chegou a minha hora de tomar a vacina percebi que meus colegas estavam ficando com uma cor estranha, estavam ficando meio verdes, do nada caíram no chão e começaram a se contorcer. Percebi que em alguns surgiram rabos, outros começaram a aparecer escamas e dentes afiados.

Totalmente assustado, percebi que meus amigos tinham virado jacarés. Mas eram jacarés diferentes, eles conseguiam andar feito humanos e quando atacaram um repórter ele também acabou virando um jacaré. Isso foi se espalhando, a cada pessoa que os jacarés atacavam no centro de pesquisa, surgia outro jacaré.

Pensei em fugir do centro para tentar avisar as pessoas que a vacina estava fora de controle, mas me lembrei que estávamos sendo filmados. Corri para a primeira câmera que encontrei e disse:

– A VACINA DEU ERRADO! TODOS ESTÃO SE TRANSFORMANDO EM JACARÉS! NÃO SAIAM DE ….

Um dos jacarés destrói a câmera e sai correndo desesperadamente. Quando consegui sair do laboratório me deparei com mais jacarés. Alguns já tinham fugido do centro e estavam contaminando as pessoas do lado de fora, surgiam cada vez mais jacarés famintos e enfurecidos atacando outras pessoas. Tentei correr e me esconder o máximo que eu consegui, mas algum jacaré conseguiu me seguir. Me pegou e começou a comer a minha perna, apaguei de dor.

Acordei sentado na minha sala, segurando o teste positivo da vacina em minhas mãos.

– Mas que sonho esquisito foi esse?

 Acabei pegando no sono extava exausto após tanto tempo trabalhando para encontrar a cura. Levantei e fui contar a notícia boa para os meus colegas de trabalho, e contar também essa loucura de sonho.

– Jacarés? HAHAHAHA quem é o louco de achar que uma vacina pode fazer você virar um Jacaré? Achava que nem em sonho seria possível.


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Um conto de marionetes

– Lucas não é assim que se fala, você não deve brincar desse jeito, não deve se vestir desse jeito, você é estranho, porque você não é igual a todo mundo?

Essas foram as conversas que o avô de Lucas escutou do seu neto brincando com o vizinho o dia todo. O velhinho sentou e ficou observando como o seu neto deixava de ser quem ele era com esse garoto, fazia tudo que ele queria, conseguia controlar Lucas em todas as suas atitudes.

Assim que o vizinho foi embora o avô chamou o neto para conversar:

– Lucas meu querido neto, venha tomar um café com o seu avô, está muito frio lá fora, venha se aquecer!

Lucas amava seu avô, adorava sentar com ele para tomar um café e jogar conversa fora:

– Temos bolo vô? Vou adorar tomar um café com bolo, está mesmo muito frio lá fora.

– É claro que temos bolo, e de milho ainda, o seu preferido!

– Eu amo muito bolo de milho! O Jorginho fala que sou esquisito, meu gosto é esquisito, as vezes acho que ele tem razão!

O velhinho percebe que o neto está mesmo chateado e resolve concertar essa situação:

– Não liga para o Jorginho! Vamos esquecer isso! Sabe o que combina com café, bolo e frio?

O menino pergunta empolgado:

– O que vô?

– UMA HISTÓRIA!!!! Vou contar para você uma historinha sobre uma marionete!

O menino chega mais perto para escutar e o avô começa a contar a história:

“Era uma vez uma marionete que queria ser gente. Ela sabia que para ser gente ela tinha que ser livre, mas não sabia como conseguir isso, pois era uma marionete e tinha que fazer tudo que o seu dono queria. O seu dono comandava todas as suas ações, como falar, o jeito de andar, vestir, calçar. A marionete não tinha vontades, desejos ou personalidade, tudo era feito pelo seu dono.

Até que um dia ela recebeu uma visita de uma fada dizendo que seu tempo estava acabando, se ela não conseguisse ser livre até meia noite, seria uma marionete para sempre.

A marionete queria muito ser gente, não queria viver assim para sempre, como um boneco de madeira e começou a reparar que além de ser de madeira, ela tinha cordas amarradas em todas as partes do seu corpo. Anos vivendo como marionete e tinha esquecido disso. Ela resolveu cortar as suas cordas e fugir do seu dono para ser livre, mas quando as cortou, uma magia envolveu todo o seu corpo, transformando a marionete em um menino.

Foi assim que a marionete percebeu que para ser livre ela tinha que cortar as cordas, que fazia o seu dono comandar suas ações, agora ela era livre para fazer as coisas do jeito que quiser. E virou um menino, suas ações agora dependiam só dele, mas as marcas das cordas amarradas em seu corpo nunca desapareceriam, para ele se lembrar de nunca mais querer ser uma marionete. ”

O avô terminou a história e disse sorrindo:

– Espero que tenha gostado da história, como gostou desse bolo.

O menino responde comendo seu quinto pedaço:

-Eu amei vô! Mas agora acho que vou sair para brincar mais um pouco.

O menino sai correndo para fora da casa e o velhinho escuta a conversa dele e o vizinho novamente:

– EI JORGINHO! EU SÓ VIM AQUI PARA DIZER QUE ESTOU CORTANDO AS MINHAS CORDAS OK? EU NÃO VOU SER UMA MARIONETE! EU VOU FAZER O QUE EU QUISER!

Ele sorri satisfeito com a atitude do seu neto, levanta as mangas da sua blusa e olha para suas marcas. Refletindo, o velho começa a gargalhar e as palavras fogem de sua boca:

-HAHAHAHA! Como é bom ser humano!


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