Tinha que ser coisa do Natal

Augusto estava sentado na frente do espelho se encarando com o violão na mão:

– Vamos Augusto! Você consegue cantar para todo mundo ouvir!

O menino estava parado conversando consigo mesmo, tentando tomar coragem para participar do concurso de canto de Natal da sua cidade. Mas toda vez que ele pensava que teria várias pessoas olhando ele cantar, ele tremia e sua voz não saia mais:

– Por quê eu só consigo fazer isso sozinho? Eu não devo estar preparado! É melhor eu desistir!

Ele solta o violão e saí correndo para o quintal da sua casa triste e pensativo:

– Eu nunca vou ser bom o suficiente! É melhor ninguém nunca saber que sei tocar e cantar!

 Assim que ele terminou de dizer isso escutou alguém gargalhar, olhou para todos os lados e não encontrou ninguém, só havia um pequeno presente no chão. Em cima dele havia um bilhete dizendo:

“Só abra se confiar em si mesmo”

– Quem será que deixou isso aqui? O que isso quer dizer?

Ele escuta outra gargalhada e depois:

– Será que ele não sabe ler? Escrevi a frase mais simples possível!

O menino olha para o lado e se assusta, tinha um homenzinho bem pequeninho com seus bracinhos cruzados e carinha de bravo para ele:

-O QUE É VOCÊ?

– Ah não é possível! Quer saber! Já estou quase aposentando! Não vou ficar me apresentando, chega! Se não sabe o que eu sou! Problema seu!

– O QUE VOCÊ QUER DE MIM?

– Para de gritar moleque! Não tem ninguém gritando aqui! Então para você não ficar mais assustado, já vou direto para o assunto! Eu sou o seu ensinamento de Natal!

– Ensinamento de Natal! Como assim?

– Você não tem televisão em casa? É aquela palhaçada que tem todos os anos de acontecer alguma coisa no Natal para alguém se tornar uma pessoa melhor, ser confiante, amar a família e blá blá blá… A magia do Natal, essa coisa sou eu!

– Você parece mais um duende!

– Será porque né? É isso que eu sou! Agora moleque para de enrolar, pega seu violão e vamos já para aquele concurso cantar!

O duende faz o violão do Augusto aparecer bem perto dele:

– Eu não sei se consigo! Eu vou travar na frente de todo mundo! – disse Augusto com os olhos cheios de lágrimas.

– Calma! Não precisa chorar! Magia do Natal, esqueceu? O que está dentro desse presente vai te ajudar!

– Sério?

– Claro né! Você vai ser o melhor cantor daquele lugar! É só deixar ele perto de você que vai dar tudo certo! Agora vai lá cantar e me deixa em paz!

O menino saiu correndo feliz para o concurso, deixou o presente em um canto do palco e quando foi sua vez de cantar, ele se esqueceu de todo o seu nervosismo e fez uma apresentação linda. Depois que todos os candidatos se apresentaram, o juiz decidiu que Augusto tinha feito a melhor apresentação e saiu de lá com troféu de primeiro lugar.

Ele saiu muito confiante e se despediu do público, pegou o presente e achou um canto sossegado para abrir. Mas quando abriu, lá dentro só havia um pequeno bilhete dizendo:

“O ser humano gosta de ser enganado”

“P.S: Esse é o seu ensinamento de Natal!

Augusto começa a gargalhar e escuta de longe a voz do duende ainda mais bravo:

– EU NÃO ACREDITO QUE ATÉ QUANDO EU TENTO FAZER ALGUMA COISA ERRADO ESSA MAGIA DO NATAL ACONTECE.


Obrigada Leitores por acompanhar mais um ano desse meu mundo imaginável! Sou muito feliz por ter vocês aqui! Até o ano que vem com mais historias e ilustrações lindas para vocês! Feliz Natal e Feliz Ano Novo!


Ilustrador: Brendom Rodarte

Escritora: Nathália Santos

Para seguir o nosso trabalho no Instagram:

@nathaliaesantos_

@rodarthb

A Verdadeira História do Natal

– Já são quase meia noite! Já são quase meia noite!

James estava parado em frente ao grande relógio da sua sala torcendo para chegar a meia noite. Finalmente poderia ver o Papai Noel entregar os seus presentes.

– Filho! Está na hora de ir dormir!

– Eu não quero dormir mãe! Este ano eu quero esperar os meus presentes!

– Você sabe que crianças desobedientes não ganham presentes, né? Vai dormir agora James!

Ele sobe as escadas revoltado com a atitude da mãe, deita-se em sua cama e finge que está dormindo. Quando a casa finalmente fica toda silenciosa James pega sua lanterna, desce as escadas e fica escondido atrás da árvore de natal. Perto da chaminé, ao lado do grande relógio na sala.

Assim que bateram as badalas da meia noite ele escutou um barulho vindo da chaminé. Parecia alguma coisa se mexendo, como se fosse um ratinho correndo, mas ele olhou para dentro da chaminé e havia um duende vestido com umas roupas vermelhas. Quando saiu da chaminé a criatura se transformou no papai Noel;

– SANTO PIRULITINHO! O PAPAI NOEL EXISTE MESMO!

James não conseguiu conter sua empolgação e saiu de detrás da árvore. Foi correndo abraçar o papai Noel:

– Você existe, você existe! E é igual nas histórias, velhinho, gordinho e fofinho! E ainda trouxe os meus presentes, já posso abrir?

– Ainda não minha criança! Primeiro preciso saber se você foi um bom menino.

– É claro que eu fui! Eu sou sempre um bom menino, nunca desobedeci meus pais, nunca fiz nada escondido, nunca contei mentiras…

Enquanto James tagarelava sem parar, o Papai Noel pegou um fio do seu cabelo, colocou na boca e começou a mastigar. De repente ele começa a se transformar em uma coisa medonha, começou a crescer, praticamente dobrou de tamanho. Seu gorro se solta de sua cabeça enorme. Seu cabelo e sua barba se enrolaram e formaram um par de chifres. Sua pele começou a ficar verde e enrugada. A bolinha da ponta do gorro bate no chão e James finalmente se dá conta de que aquilo na sua frente não era mais o Papai Noel. Ele grita por socorro, assustado, e saí correndo pela casa;

-SOCORRO!!!! MÃE PAI!!!! ME AJUDA!!!!!!

– Ninguém vai ajudar criança! Você foi um mau menino, por isso estou desta forma, agora você é meu!

O Papai Noel pega James e o coloca dentro do saco de presentes. O monstro amarra a boca do saco e James não é capaz de enxergar nada lá dentro. Ele se debate e esbarra em várias coisas. Escuta alguns gemidos, como se estivessem reclamando de ter batido neles. James grita:

– Me tira daqui seu monstro! Para onde está me levando? E quem pediu tantos bonecos de presente?

O menino sente que o saco foi levantado e o monstro o estava carregando. Depois de horas dentro do saco, o monstro finalmente começa a balançá-lo e jogar tudo para fora. James cai assustado, seus olhos que haviam se acostumado à escuridão ficam ofuscados com tanta luz. Ele observa ao redor e nota que todos aqueles bonecos eram na verdade crianças, e eles haviam sido jogados no chão de uma fábrica de brinquedos. No lugar já haviam mais crianças e elas estavam trabalhando.

– Ho Ho Ho! Sejam bem-vindas crianças, aqui agora é o seu lar! Nunca mais poderão ver os seus pais! Já que são más crianças, que comecem a trabalhar!

O papai Noel não era mais um demônio e mesmo assim começou a chicotear as crianças, fazendo elas trabalharem. James ficou em choque pensando que todas as histórias que ele conhecia sobre o Natal eram mentiras e que talvez esta seja a verdadeira e se arrependeu de ser uma criança má. O papai Noel grita:

– Onde está o último menino?

Todas as outras crianças apontam na direção de James. Ele então percebe que todas elas tinham a boca costurada, era por isso que não falaram nada quando ele caiu em cima delas no saco.

– Ho Ho Ho! Aí está você! Não tivemos tempo na sua casa, está na hora de terminar o meu serviço.


Gostaria de dedicar esse conto para meu namorado Thiago Fernandes pelo incentivo em criar minhas histórias e a paciência para ler e corrigir todas, obrigada meu editor. Para minha irmã que iniciou o blog comigo, Brendom Rodarte que continuo com essas ilustrações maravilhosas aceitando minhas ideias malucas de conto, ao Dimitri Vieira com seu curso incrível de ”Escrita Criativa e Storytelling” que me fez reconhecer como escritora, conheci pessoas inspiradoras com a criação da comunidade do curso e ainda me incentivou a ter meu próprio blog.

Para Eduardo Lopes e Vanessa Cioffi que não me deixaram desistir quando comecei a publicar os contos e estava com dúvidas se deveria continuar. Tenho que agradecer muito Giselli Serra e minhas amigas da faculdade Tatiane Machado e Bruna Luiza que não perdem um conto e o Erivaldo Carneiro que sempre compartilha minhas histórias. Ao carinho e aprendizado de sempre do Thiago Dalleck, Maicon Moura, Marinella Souza, Mario Mello, Esdras Pereira, Nilce Alves e Thayanne Lima, obrigada por tudo.

Não poderia deixar de agradecer você leitor por chegar até aqui comigo, agradeço muito por acompanhar meu trabalho. Vocês estão realizando meu sonho de ser uma ”contadora de histórias”.

Obrigada a todos vocês!


Ilustrador: Brendom Rodarte

Escritora: Nathália Santos

Para seguir nosso trabalho no Instagram:

@nathaliaesantos_

@brendomrodarte

Destinados a se encontrar

Estamos fugindo pela floresta há horas a procura de um local seguro para esconder minha mulher e o bebê que estava por vir. Olho para trás e percebo que Megan está no chão gritando de dor por causa das contrações:

–  Megan! Temos que andar mais depressa, se não eles vão acabar nos alcançando.

Tento ajudá-la a se levantar e ela responde chorando de dor:

– Eu não consigo andar por muito tempo mais, vou acabar ganhando essa criança!

– No meio da floresta não podemos ter essa criança, é muito perigoso e fácil demais para nos descobrirem!

Ela se levanta com muita dificuldade e começamos a caminhar. Por sorte, avisto um celeiro logo à nossa frente.

-Vamos nos esconder lá dentro Megan! Ninguém nunca irá desconfiar, poderemos ter o nosso filho em paz.

Ela não conseguia mais responder, estava muito fraca, só sinalizava com a cabeça concordando. A levo bem depressa para dentro do celeiro e a coloco deitada no chão bem delicadamente, corro para fechar porta e começo a ajudá-la a ter nosso filho:

-Megan meu amor, você vai ter que ser forte agora, faça força!

Ela segura a minha mão e grita de dor fazendo toda a força possível:

– Agora respira! Isso meu amor! Agora vamos, faça força mais uma vez!

Megan continua fazendo força e nada acontece, até que ela começa a olhar para a barriga e gritar desesperada:

– ELE ESTÁ ME COMENTO POR DENTRO! ESTÁ ABRINDO MINHA BARRIGA! SOCORRO!!!

Rasgo o seu vestido e vejo que a sua barriga está se mexendo como se alguma coisa quisesse sair. Fico paralisado sem saber o que fazer, Megan gritando enlouquecida de dor. A coisa realmente começou a sair, rasgando sua barriga ao meio. Percebo que Megan está morrendo:

-Meu amor por favor não me deixe, não sabia que isso poderia acontecer! Me desculpa!

Beijo sua testa e vejo que Megan já está morta. Quando olho para sua barriga, que já estava toda aberta, nasceu uma coisa que nem em outro planeta seria um bebê. Era pequeno, parecia um filhote de gato misturado com morcego, tinha pelos pelo corpo, asas bem pequenas e pequenos chifres na cabeça.

Ele olha para mim e sorri dizendo:

-PAPAI! – Esticando os bracinhos para ser carregado.

Saio de perto gritando desesperado, até que a porta do celeiro se abre, entrando meu pai, o rei do inferno e seu exército de demônios:

– Até que enfim eu achei você meu filho! Pensou que ia conseguir fugir por quanto tempo? Vejo que o meu neto já nasceu.

A coisa estica os bracinhos e meu pai o carrega fazendo cosquinhas em sua barriga.

Respondo indignando:

– Essa criatura não é meu filho!

Meu pai e a coisa começam a gargalhar e ele responde:

– É claro que é! Você acha que uma mistura de um demônio e uma humana daria em quê? Uma linda criancinha?

 Ele fala isso olhando para seu exército e todos morrem de rir.

– Vocês foram condenados meu filho, isso nunca poderia acontecer. Você é um demônio ou já se esqueceu disso Belial?

Respondo olhando para o corpo de Megan destroçado ao chão:

– Eu me esqueci no dia que a conheci, eu a amei tanto, tentei escondê-la de você, porque você nunca aceitaria o nosso amor.

Meu pai começa a gargalhar novamente:

–          Meu filho, eu sempre aceitei. Tudo o que fazia é parte da profecia:

“Um filho fugirá de casa e encontrará o amor da sua vida. O filho das trevas nascerá na terra da mesma forma que o filho da luz.”

Pode se orgulhar, você fez tudo o que o seu pai mais queria.

Fico horrorizado e respondo:

– Você me usou? Me deixou ir para a terra de propósito?

Ele me puxa pelo ombro e fala todo animado:

-Para de se lamentar meu filho, vamos para casa comemorar! QUE COMEÇE O FIM DOS TEMPOS!

Seu exército responde:

– VIVA O FILHO DAS TREVAS!


Ilustrador: Brendom Rodarte

Escritora: Nathália Santos

Para seguir o nosso trabalho no Instagram:

@nathaliaesantos_

@brendomrodarte