Estava sentada na porta da escola esperando meus pais chegarem, mal conseguia parar em pé, parecia que eu havia comido alguma coisa que não fez bem e não conseguia parar de vomitar.
Vejo o carro dos meus pais se aproximar, minha mãe desceu do carro para me ajudar e ficou assustada quando me viu:
– O que aconteceu, minha filha? Você está ficando meio verde! Vamos direto para o hospital!
Entro no carro e meu pai também fica assustado:
– Que isso Filha? Sua pele está verde!
Tento ser irônica:
– Estou virando uma alface!
Quando eu disse isso eles não aguentaram e começaram a rir, tentei rir, mas meu estômago ficou enjoado novamente e vomitei dentro do carro. Meu pai acelerou em direção ao hospital e minha mãe ficava olhando para mim bastante assustada:
– Você está ainda mais verde filha!
Chegamos no hospital, os médicos me examinaram e não encontraram nada. Eu estava normal, mas ninguém entendia por que ainda sentia enjoo e fazia vômito. A minha pele estava ficando mais verde.
Os médicos resolveram me deixar internada em observação, eles ficaram com medo de me deixar ir para casa nesse estado e queriam tentar descobrir o que estava acontecendo. Fiquei internada em um quarto que deveria ser perto do refeitório do hospital, estava sentindo um cheiro muito gostoso:
– Nossa que cheiro bom! Vocês estão sentindo?
Meus pais estavam olhando para mim assustados novamente:
– Agora apareceu uma verruga no seu nariz! Você está começando a parecer com…
Antes que meu pai pudesse responder minha mãe interrompe:
– Não diga o nome dela!
– O nome de quem? – pergunto curiosa
Ao invés de responderem começaram a discutir:
– E se ela for igual? – disse meu pai
– Não pode ser! Vou perder minha filha! Ela não pode ser isso! – disse minha mãe aos prantos.
– E se for! Olha para ela? Está parecendo muito com…
– Não fale o nome! Não quero escutar esse nome!
Eu me levanto sem entender o que estava acontecendo e vou para o banheiro, olho no espelho e me assusto. Minha pele estava verde e havia uma verruga enorme (e cabeluda!!!) no meu nariz. Saio do banheiro chorando desesperada:
– O QUE ESTÁ ACONTECENDO COMIGO????
Começo a sentir aquele cheiro gostoso novamente, saio do quarto e começo a perseguir o cheiro sem parar, eu não conseguia me controlar, só queria sentir mais de perto esse cheiro. Vou andando pelos corredores e me deparo com uma enfermeira carregando um recém-nascido. O cheiro estava por toda parte, não conseguia entender o que estava acontecendo.
A enfermeira olha para mim preocupada e pergunta:
– Está tudo bem senhora? A cor da sua pele está estranha! Já chamou o médico?
– Senhora? – foi a única coisa que consegui responder, eu não conseguia parar de sentir o cheiro, queria chegar mais perto da criança, carregá-la, cheirá-la e …
– Comer? – pensei em voz alta.
A enfermeira olhou para mim confusa e disse:
– O que disse senhora?
Começo a chorar desesperadamente:
– O que está acontecendo comigo? Esse cheiro está vindo dessa criança? EU QUERO MUITO COMER ESSA CRIANÇA!
A enfermeira se assusta com as minhas palavras e sai correndo. Começo a correr atrás dela, jogo ela no chão e pego a criança que estava aos prantos, eu não conseguia mais me controlar, precisava muito dessa criança.
Sua pele era tão macia e cheirosa, quando estava pronta para morder aquele ser pequenininho no meu colo, senti um golpe muito forte na minha cabeça, fiquei tonta, minhas vistas escureceram. Só conseguia escutar bem de longe a voz dos meus pais:
– Ela não está bem! Vamos levar ela para outro hospital!
– Me desculpem! Já vamos tirá-la daqui!
Depois disso, senti eles me levando até o carro e apaguei.
Quando acordei e olhei para as janelas percebi que não estávamos mais no hospital. Acho que nem estávamos mais na cidade, o lugar era cercado por árvores. Vejo um espelho e tento me aproximar, minha aparência estava muito mais assustadora, minha pele estava verde como uma alface e estava enrugada (também como uma alface?), meu nariz havia crescido e a verruga estava E-N-O-R-M-E! Meus dentes pareciam podres, meus ombros estavam quase da altura da minha cabeça. Eu virei o corcunda de Notre-Dame feio?
Saí do carro, meus pais estavam em frente a um chalé todo preto e com eles havia uma senhora muito parecida comigo, ela se aproxima sorrindo e diz:
– Eu sabia que uma bruxa nova ia acabar aparecendo na família! Eu já estou velha demais! Alguém precisa ocupar o meu lugar!
Meus pais começaram a chorar e a velha respondeu:
– É o destino dela! Não tem o que fazer! Você sabia que isso poderia acontecer, filho! E claro que ela iria puxar a avó dela!
– Filho? – pergunto assustada – Você disse que minha avó tinha morrido!
Começo a chorar olhando para os meus pais:
– Perdoa eles minha netinha! Nós não conseguimos viver em sociedade! Precisamos comer! E acho que você já sabe muito bem o que, não é?
– Eu nunca pensei que minha filha seria um monstro como você Ma… Ma…tilda! – minha mãe realmente não gostava de dizer o nome da velha, depois de dizer isso, ela se vira e vai embora sem se despedir.
Meu pai me abraça e eu começo a vomitar novamente:
– Podem ir! Agora deixem que eu cuido dela!
Vejo os meus pais indo embora e me sento meio tonta na porta do chalé:
– O que será de mim agora?
A velha se aproxima e tira uma varinha das suas vestes, ela se transforma em uma mulher Jovem e muito bonita, parecia ser um pouco mais velha que eu. Ela sorri com meu espanto e responde:
– Vou ensinar tudo que eu sei para você! Mas para conquistar os seus poderes você precisa comer!
Ela pegou a varinha novamente e transformou o chalé, que era velho e feio, em uma pequena casa linda e coberta de doces.
– Agora é só se sentar e esperar! O nosso jantar virá até nós.
Entramos na casa. Não sei quanto tempo havia se passado, fui despertada por aquele cheiro irresistível novamente. Dessa vez o cheiro apresentava algumas notas diferentes da primeira vez, estava muito mais sutil, acho que só consegui perceber por que as crianças já estavam quase ao meu lado.
– Maria, isso está muito gostoso!
– Eu estava morrendo de fome, João!
Não conseguia me concentrar nas vozes, a única coisa que eu sentia era fome.
Ilustrador: Brendom Rodarte
Escritora: Nathália Santos
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