Casa de Brinquedos

Acordei meio tonto e sonolento, não lembrando onde estava, minha cabeça parecia que iria explodir de dor. Levei a mão na cabeça e senti que estava machucado e sangrando. Percebo que estou deitado, tudo estava muito escuro, vou tocando ao meu redor e parece que estou preso.

Não consigo me levantar, não consigo nem ao menos sentar, parece que estou dentro de uma caixa no tamanho ideal para o meu corpo, parece que estou dentro de um caixão. Começo a ficar desesperado até que escuto mais pessoas gritando:

– ME TIRA DAQUI!!!!

– SOCORRO!!!!!!!!

– ONDE ESTOU??

Reconheço todas as vozes, acho que essas pessoas eram os meus comparsas:

– VOCÊS ESTÃO BEM? JOSÉ, LUCAS E AMÉLIA!

– Eu estou bem Evandro, só minha perna que parece estar quebrada! Deve ter quebrado na queda – disse Amélia com uma voz bem fraca e chorando de dor.

– Como fomos presos aqui? – Disse Lucas assustado.

– Eu só me lembro de entrar na casa e cair em um buraco! – Disse José, tentando se lembrar dos acontecimentos.

Uma luz azul acendeu dentro do caixão, percebi que não era um caixão, parecia mais uma câmara de bronzeamento artificial. Tentei fazer força para fugir, mas ela não abria de jeito nenhum, não tinha nada para fazê-la abrir. Fiquei muito assustado e confuso:

– MAS QUE CASA É ESSA QUE VIEMOS ASSALTAR?

Quando terminei de falar escutei José gritar:

– SOCORRO! ME AJUDEM! TEM ALGUMA COISA FURANDO A MINHA PERNA!

Em sequência, Lucas e Amélia também pedindo por ajuda. Até que senti uma coisa parecendo uma ponta de furadeira saindo da câmara e que começou a girar e entrar na minha perna. Era uma dor insuportável, comecei a chorar e gritar de dor.

– PARAAA POR FAVOR!!! SOCORRO!!!!

Após algum tempo a ponta da furadeira parou, não sei dizer quanto tempo, mas pareceu uma eternidade. Saindo da minha perna tão devagarinho que quase me fez desmaiar de dor, deixando a câmara com sangue para todos os lados. Escuto José e Lucas ainda pedindo ajuda, mas não escuto mais Amélia.

– AMÉLIA!!!! VOCÊ ESTÁ BEM??? RESPONDE!!!

Comecei a sentir a câmara muito quente, estava ficando tão quente que era difícil ficar deitado. A minha pele começou a ficar vermelha, parecia um frango dentro de um forno. Começamos a pedir socorro novamente, mas os gritos do Lucas me deixaram assustados. Rapidamente ele se calou e não escutamos mais nada:

– LUCAS!!!!!!! RESPONDE CARA!!!!! POR FAVOR!!!!

A câmara parou de esquentar. Mas começou a pingar um líquido grosso e com um cheiro horrível do teto da câmara. Quando uma gota encostou na minha mão queimou tanto que abriu uma ferida enorme, parece que estava me corroendo. Achei que ia morrer de tanta dor, mas José gritou, gritou tanto que eu não conseguia mais escutar. Tentei sair da câmara de todos os jeitos para ajuda- ló, mas ele se calou e eu já percebi o que tinha acontecido:

– JOSÉ!!!!! POR FAVOR!!!!! RESPONDE!!!!

Estava sozinho neste lugar, não tinha mais ninguém comigo, eu só queria que acabasse logo, não aguentava mais ser torturado. A câmara começou a se abrir lentamente, quando estava toda aberta eu fui me levantando aos poucos e com muita dificuldade consegui me sentar na beirada, vi os corpos dos meus comparsas todos deformados. Comecei a chorar, agora eu tinha mesmo certeza de que estavam todos mortos.

Bem na minha frente, sentado em uma cadeira, com um controle na mão, se encontrava um menino, que deveria ter uns dez ou onze anos, ele sorri dizendo:

– Ninguém nunca ensinou para vocês não entrarem na casa de estranhos? Para tomar cuidado onde pisam? Pode ser que um dia entrem em uma casa com armadilhas.

Eu não conseguia responder, não conseguia acreditar que uma criança tinha feito isso tudo. José que estava vigiando a casa para gente assaltar, sabíamos que a família era rica, e também sabíamos que essa criança ficava sozinha. Agora eu entendi o porquê.

– O gato comeu sua língua? Não se preocupe eu vou deixar você ir embora, se você prometer nunca mais voltar aqui, Promete?

Respondo sem ao menos pensar:

– Prometo!

 O menino sorri e uma porta abriu atrás de mim, juntei todas as forças que eu tinha e me arrastei até a porta para sair rápido daquela casa.

E não era uma saída.

Entrei uma sala muito grande, colorida e iluminada. Havia várias outras pessoas que pareciam também ter sido torturadas, mas nenhuma tinha machucados parecidos com o dos outros. Na parede, uma pichação enorme em vermelho: “CASA DE BRINQUEDOS”


Ilustrador: Brendom Rodarte

Escritora: Nathália Santos

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3 comentários sobre “Casa de Brinquedos

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