Não aguentava mais sentir essa inquietação, ansiedade, desorientação, alucinação e náuseas porque não conseguia mais manter meu vício. Tudo o que eu tinha já vendi, moro em um apartamento com minha esposa e um amigo, sem nada. Achamos melhor dormir no chão, ficar sem comer e vestir porque qualquer coisa que a gente conseguir é melhor satisfazer o vício.
Estamos mais doentes a cada dia, não aguento mais ficar um dia sem, não aguento mais ficar nesse mundo sem isso, precisamos dar um jeito. Respirei fundo, tomei atitude e disse à minha esposa e amigo:
– Vamos gente! Levantem! Vamos sair desse apartamento e dar um jeito de obter o que é nosso!
Minha esposa bem fraca responde:
– Como? Não temos mais grana nem o que vender, não sei mais o que podemos fazer!
Meu amigo retruca:
– Você está pensando em fazer o que, Lucca? Eu topo qualquer ideia, não aguento mais viver desse jeito, só com vontade.
-Vamos invadir aquele lugar, tomar para gente e usar da forma que a gente quiser! Estão comigo Lara e Roger?
Roger se levanta dizendo que sim, mas Lara ainda questiona:
-Como você está pensando em fazer isso? Vamos só chegar lá e invadir?
– Por que não? Gente! Acorda! Estamos esquecendo que quem toma conta é um velhote! Fomos burros demais em gastar tudo, já devíamos ter feito isso a muito tempo.
– Não é que você tem razão! Estamos aqui sofrendo à toa – Lara disse concordando.
– Então vamos pessoal!
Assim que eu disse isso, Lara e Roger se levantaram e começaram a me seguir bem empolgados, esquecendo até das dores e todo o resto que estávamos sentindo, prontos para realizar o nosso novo objetivo e satisfazer nosso vício.
Chegando ao local já fomos entrando na loja, quebrando os vidros e jogando coisas no chão, colocando medo no velho e mostrando que era a gente quem mandava no lugar agora. Prendemos ele em um quartinho nos fundos, pegamos um papel, escrevemos “aberto” e colocamos na porta do Fliperama.
Não demorou muito para aparecerem pessoas como a gente, loucas por esses jogos. Aqui era o único lugar que ainda existiam jogos assim em 2030, esse velho roubava o nosso dinheiro todo cobrando um absurdo por cada partida. Agora é tudo nosso, e vamos deixar livre para quem quiser jogar, na hora que quiser jogar.
Depois de um tempo jogando, olho para minha esposa e meu amigo e vejo o quanto eles estão felizes e satisfeitos, depois de várias partidas de Mortal Kombat, eu já não aguentava mais jogar Pac-Man. Percebemos que estávamos curados, nem precisávamos mais jogar.
Acho que no final, era tudo culpa do velho. Ele que ofereceu para milhares de jovens a oportunidade de jogar esses jogos, manipulando e incentivando para que todos ficassem viciados, cobrando cada dia mais caro uma nova partida.
Resolvo ir ao quartinho e perguntar para ele o porquê disso tudo:
– Seu velho de merda! Por que estava manipulando a gente? Você percebeu quantas vidas você estragou?
O velho responde sendo sarcástico:
– Sim! A culpa não é minha por vocês serem tão influenciáveis, este é só o meu trabalho.
Nem consigo responder, fecho a porta do quarto, chamo minha esposa e meu amigo para ir embora e aviso para todos que o velho está no quartinho dos fundos. Não precisamos mais de pessoas assim nesse mundo, mas que o povo faça a sua justiça.
Ilustrador: Brendom Rodarte
Escritora: Nathália Santos
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Muito bom! Adoro os contos do blog, está cada vez melhor!
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Eu fico muito feliz !!! Obrigada ❤️
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