A menina do ônibus

Estava perdido na minha nova cidade tentando encontrar o ponto de ônibus que me levaria para faculdade:

– Nossa! Será que é nessa rua mesmo que eu entro?

Uma menina apareceu do meu lado com uma mochila nas costas, parecia ter uns 18 anos, sorriu e disse:

– Que calor! Espero pegar o ônibus a tempo!

Ela começou a atravessar a rua e fiquei pensando, “será que ela vai no mesmo ônibus”?

– Ei! Espera! Você vai pegar qual ônibus?

Ela gritou do outro lado da rua:

-VOU PEGAR O 702! É LOGO ALÍ NA ESQUINA!

Atravesso a rua bem depressa dizendo:

– Eu também! Estava perdido! Não sabia aonde ir!

– É fácil chegar lá! Vou te ajudar!

 O ônibus chegou ao ponto assim que chegamos, entramos e a menina ainda se manteve ao meu lado.

– Você é novo aqui? Onde você vai descer?

– Sou sim! Vou descer no centro, perto da faculdade de direito!

Ela sorri e disse:

– Eu também! Sabe qual ponto descer?

Respondo um pouco envergonhado:

– Não sei direito… sei que é perto…

Antes que eu pudesse terminar ela responde:

– Eu ajudo você!

Ficamos conversando e ela foi explicando os pontos de referência que eu deveria guardar para descer. Chegamos ao nosso destino e ela se despediu de mim dizendo:

– Sua faculdade é só atravessar a rua! – ela apontou para janela do ônibus e mostrou o prédio grande.

– Muito obrigada!

– Por nada!

Descemos do ônibus e a menina desapareceu no meio da multidão.

Passei o dia na faculdade nova, conheci várias pessoas e na hora de voltar para casa lembrei que não sabia se pegava o ônibus no mesmo ponto. Saí da faculdade e avistei a menina do outro lado da rua, achei muita coincidência e gritei:

-EI! VOCÊ DE NOVO?

Ela sorri e eu atravesso a rua e pergunto novamente:

– Você vai voltar no 702? Estou perdido novamente.

– Vou sim! Então vamos atravessar a rua novamente, o ponto de volta é em frente à faculdade!

Atravessamos a rua e ela olha para mim bem séria disse:

– Não se esqueça disso! É muito perigoso pegar o ponto errado! Você pode descer em algum lugar e nunca mais voltar!

Entramos no ônibus e perguntei:

– Descemos no mesmo ponto que pegamos?

– Sim! Você aprendeu?

– Sim! Muito obrigada! Ainda bem que você estava aqui hoje!

Ela olhou para mim com uma expressão bem triste, abaixou a cabeça e começou a se afastar.

Uma senhora que estava passando no corredor do ônibus esbarrou em mim e deixou suas sacolas cair no chão, me levantei para ajudar e quando procurei a menina ela havia desaparecido.

Cheguei ao meu ponto e não encontrei mais a menina, fui direto para casa lembrando o caminho que peguei mais cedo. Chegando lá tomei um banho e depois fui assistir TV.

Estava passando o Jornal da noite e a repórter começou a falar:

“Neste mês completam 7 anos da terrível história da Naiara. A garota de apenas 18 anos na época, pegou o ônibus 702 e nunca mais voltou para casa. Até hoje os familiares e polícia não sabem o que aconteceu com a adolescente e ela está desaparecida”.

O jornal divulga a foto da Naiara e fico assustado:

– Meu deus é a menina do ônibus!

A repórter volta a falar:

“Acabamos de receber uma nova notícia da polícia sobre o caso. Tudo indica que os restos mortais encontrados neste final de semana na construção do novo Shopping pertencem a Naiara. Finalmente a polícia terá meios de investigar este caso…”

Antes que ela terminasse de falar eu desliguei a TV e fui dormir muito assustado. Eu com certeza tinha visto uma assombração, e ela pode ter salvado a minha vida.


Ilustrador: Brendom Rodarte

Escritora: Nathália Santos

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Desaparecidos em Cinasville: O Final

– FICOU LOUCO! -Grito com o empregado.

O outros entraram na casa bem apresados e se assustaram com a cena.

–  Vocês o mataram? Os trolls estão vindo atrás da gente! Temos que sair daqui! – Disse a cientista.

 O investigador Paranormal me puxa pelo braço dizendo:

– Deixa o corpo aí! O labirinto está no mapa! Vamos grupo! Temos que procurar por lá!

Saí correndo ainda meio desnorteado com a equipe, conseguimos fugir antes que os trolls nos alcançassem, chegamos no labirinto ele era muito grande e escuro:

– Liguem todas as luzes que vocês tiverem! Não sei o que podemos encontrar lá dentro!

Todos acenderam as lanternas e começaram a entrar no labirinto:

– É melhor ficarmos todos juntos! Podemos nos perder e nunca mais sair! – disse a garçonete.

– No mapa não mostra aonde ir dentro do labirinto! Estou com um pressentimento ruim! – disse o investigador paranormal, preocupado.

– Então vamos andar até achar esse objeto da igreja! Não vamos desistir e sair daqui sem ele!

– Sim chefe! – disseram todos, menos o investigador paranormal que continuava preocupado.

Começamos a andar pelo labirinto, andamos por horas e não achamos nada naquela escuridão toda.

– Achei que teriam armadilhas! Ou mais trolls guardando esse lugar! – disse um dos empregados.

– Está muito quieto aqui dentro! E porque nenhum dos trolls veio atrás da gente? – disse a garçonete.

Comecei a achar estranho também, realmente estava muito quieto e estávamos andando por horas e não havíamos achado nada. Estava quase pensando em desistir, quando alguém da equipe gritou:

– ACHEI UMA CAIXA! TROPECEI NELA SEM QUERER! E PARECE QUE JÁ ESTÁ DESTRANCADA! – disse a cientista.

– Destrancada? – repete o investigador paranormal novamente com uma voz de preocupado.

Toda a equipe se aproximou para ver, era uma caixa bem pequena e parecia coberta de ouro. Quando a cientista iluminou mais a caixa, havia desenhado nela uma pequena cruz.

– É o símbolo da igreja! Conseguimos! – eu disse maravilhado.

A cientista balança a caixa e diz:

– O objeto está aqui dentro! Escutaram?

Ela continua balançando a caixa.

– Abra ela! Vamos ver o que tem aí dentro! – disse a garçonete

O investigador paranormal grita assustado:

– NÃO ABRA! OS ESPIRITOS ESTÃO ME DIZENDO PARA NÃO ABRIR!

Todos começaram a rir

– Agora que achamos o objeto? Manda seus espíritos ficarem quietos! Abra isso logo! – disse eu animado para ver o que era esse objeto.

A cientista abriu e por dentro havia uma outra caixa, mas essa não abria, ela era preta e tinha uma tela na frente, com um botão do lado.

– O que será que é isso? – Peguei a caixa e apertei o botão.

A tela começou a piscar e depois apareceu uma contagem regressiva dizendo:

“10 Segundos para explodir”

– É UMA BOMBA! – Grita um dos empregados

Eu soltei a bomba no chão e fiquei paralisado até tudo se acabar.


Para relembrar a historia é só clicar aqui > Parte I e Parte II


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Tinha que ser coisa do Natal

Augusto estava sentado na frente do espelho se encarando com o violão na mão:

– Vamos Augusto! Você consegue cantar para todo mundo ouvir!

O menino estava parado conversando consigo mesmo, tentando tomar coragem para participar do concurso de canto de Natal da sua cidade. Mas toda vez que ele pensava que teria várias pessoas olhando ele cantar, ele tremia e sua voz não saia mais:

– Por quê eu só consigo fazer isso sozinho? Eu não devo estar preparado! É melhor eu desistir!

Ele solta o violão e saí correndo para o quintal da sua casa triste e pensativo:

– Eu nunca vou ser bom o suficiente! É melhor ninguém nunca saber que sei tocar e cantar!

 Assim que ele terminou de dizer isso escutou alguém gargalhar, olhou para todos os lados e não encontrou ninguém, só havia um pequeno presente no chão. Em cima dele havia um bilhete dizendo:

“Só abra se confiar em si mesmo”

– Quem será que deixou isso aqui? O que isso quer dizer?

Ele escuta outra gargalhada e depois:

– Será que ele não sabe ler? Escrevi a frase mais simples possível!

O menino olha para o lado e se assusta, tinha um homenzinho bem pequeninho com seus bracinhos cruzados e carinha de bravo para ele:

-O QUE É VOCÊ?

– Ah não é possível! Quer saber! Já estou quase aposentando! Não vou ficar me apresentando, chega! Se não sabe o que eu sou! Problema seu!

– O QUE VOCÊ QUER DE MIM?

– Para de gritar moleque! Não tem ninguém gritando aqui! Então para você não ficar mais assustado, já vou direto para o assunto! Eu sou o seu ensinamento de Natal!

– Ensinamento de Natal! Como assim?

– Você não tem televisão em casa? É aquela palhaçada que tem todos os anos de acontecer alguma coisa no Natal para alguém se tornar uma pessoa melhor, ser confiante, amar a família e blá blá blá… A magia do Natal, essa coisa sou eu!

– Você parece mais um duende!

– Será porque né? É isso que eu sou! Agora moleque para de enrolar, pega seu violão e vamos já para aquele concurso cantar!

O duende faz o violão do Augusto aparecer bem perto dele:

– Eu não sei se consigo! Eu vou travar na frente de todo mundo! – disse Augusto com os olhos cheios de lágrimas.

– Calma! Não precisa chorar! Magia do Natal, esqueceu? O que está dentro desse presente vai te ajudar!

– Sério?

– Claro né! Você vai ser o melhor cantor daquele lugar! É só deixar ele perto de você que vai dar tudo certo! Agora vai lá cantar e me deixa em paz!

O menino saiu correndo feliz para o concurso, deixou o presente em um canto do palco e quando foi sua vez de cantar, ele se esqueceu de todo o seu nervosismo e fez uma apresentação linda. Depois que todos os candidatos se apresentaram, o juiz decidiu que Augusto tinha feito a melhor apresentação e saiu de lá com troféu de primeiro lugar.

Ele saiu muito confiante e se despediu do público, pegou o presente e achou um canto sossegado para abrir. Mas quando abriu, lá dentro só havia um pequeno bilhete dizendo:

“O ser humano gosta de ser enganado”

“P.S: Esse é o seu ensinamento de Natal!

Augusto começa a gargalhar e escuta de longe a voz do duende ainda mais bravo:

– EU NÃO ACREDITO QUE ATÉ QUANDO EU TENTO FAZER ALGUMA COISA ERRADO ESSA MAGIA DO NATAL ACONTECE.


Obrigada Leitores por acompanhar mais um ano desse meu mundo imaginável! Sou muito feliz por ter vocês aqui! Até o ano que vem com mais historias e ilustrações lindas para vocês! Feliz Natal e Feliz Ano Novo!


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Metamorfose

Estava sentada na porta da escola esperando meus pais chegarem, mal conseguia parar em pé, parecia que eu havia comido alguma coisa que não fez bem e não conseguia parar de vomitar.

Vejo o carro dos meus pais se aproximar, minha mãe desceu do carro para me ajudar e ficou assustada quando me viu:

– O que aconteceu, minha filha? Você está ficando meio verde! Vamos direto para o hospital!

Entro no carro e meu pai também fica assustado:

– Que isso Filha? Sua pele está verde!

Tento ser irônica:

– Estou virando uma alface!

Quando eu disse isso eles não aguentaram e começaram a rir, tentei rir, mas meu estômago ficou enjoado novamente e vomitei dentro do carro. Meu pai acelerou em direção ao hospital e minha mãe ficava olhando para mim bastante assustada:

– Você está ainda mais verde filha!

Chegamos no hospital, os médicos me examinaram e não encontraram nada. Eu estava normal, mas ninguém entendia por que ainda sentia enjoo e fazia vômito. A minha pele estava ficando mais verde.

Os médicos resolveram me deixar internada em observação, eles ficaram com medo de me deixar ir para casa nesse estado e queriam tentar descobrir o que estava acontecendo. Fiquei internada em um quarto que deveria ser perto do refeitório do hospital, estava sentindo um cheiro muito gostoso:

– Nossa que cheiro bom! Vocês estão sentindo?

Meus pais estavam olhando para mim assustados novamente:

– Agora apareceu uma verruga no seu nariz! Você está começando a parecer com…

Antes que meu pai pudesse responder minha mãe interrompe:

– Não diga o nome dela!

– O nome de quem? – pergunto curiosa

Ao invés de responderem começaram a discutir:

– E se ela for igual? – disse meu pai

– Não pode ser! Vou perder minha filha! Ela não pode ser isso! – disse minha mãe aos prantos.

– E se for! Olha para ela? Está parecendo muito com…

– Não fale o nome! Não quero escutar esse nome!

Eu me levanto sem entender o que estava acontecendo e vou para o banheiro, olho no espelho e me assusto. Minha pele estava verde e havia uma verruga enorme (e cabeluda!!!) no meu nariz. Saio do banheiro chorando desesperada:

– O QUE ESTÁ ACONTECENDO COMIGO????

Começo a sentir aquele cheiro gostoso novamente, saio do quarto e começo a perseguir o cheiro sem parar, eu não conseguia me controlar, só queria sentir mais de perto esse cheiro. Vou andando pelos corredores e me deparo com uma enfermeira carregando um recém-nascido. O cheiro estava por toda parte, não conseguia entender o que estava acontecendo.

A enfermeira olha para mim preocupada e pergunta:

– Está tudo bem senhora? A cor da sua pele está estranha! Já chamou o médico?

– Senhora? – foi a única coisa que consegui responder, eu não conseguia parar de sentir o cheiro, queria chegar mais perto da criança, carregá-la, cheirá-la e …

– Comer? – pensei em voz alta.

A enfermeira olhou para mim confusa e disse:

– O que disse senhora?

Começo a chorar desesperadamente:

– O que está acontecendo comigo? Esse cheiro está vindo dessa criança? EU QUERO MUITO COMER ESSA CRIANÇA!

A enfermeira se assusta com as minhas palavras e sai correndo. Começo a correr atrás dela, jogo ela no chão e pego a criança que estava aos prantos, eu não conseguia mais me controlar, precisava muito dessa criança.

Sua pele era tão macia e cheirosa, quando estava pronta para morder aquele ser pequenininho no meu colo, senti um golpe muito forte na minha cabeça, fiquei tonta, minhas vistas escureceram. Só conseguia escutar bem de longe a voz dos meus pais:

– Ela não está bem! Vamos levar ela para outro hospital!

– Me desculpem! Já vamos tirá-la daqui!

Depois disso, senti eles me levando até o carro e apaguei.

Quando acordei e olhei para as janelas percebi que não estávamos mais no hospital. Acho que nem estávamos mais na cidade, o lugar era cercado por árvores. Vejo um espelho e tento me aproximar, minha aparência estava muito mais assustadora, minha pele estava verde como uma alface e estava enrugada (também como uma alface?), meu nariz havia crescido e a verruga estava E-N-O-R-M-E! Meus dentes pareciam podres, meus ombros estavam quase da altura da minha cabeça. Eu virei o corcunda de Notre-Dame feio?

Saí do carro, meus pais estavam em frente a um chalé todo preto e com eles havia uma senhora muito parecida comigo, ela se aproxima sorrindo e diz:

– Eu sabia que uma bruxa nova ia acabar aparecendo na família! Eu já estou velha demais! Alguém precisa ocupar o meu lugar!

Meus pais começaram a chorar e a velha respondeu:

– É o destino dela! Não tem o que fazer! Você sabia que isso poderia acontecer, filho! E claro que ela iria puxar a avó dela!

– Filho? – pergunto assustada – Você disse que minha avó tinha morrido!

Começo a chorar olhando para os meus pais:

– Perdoa eles minha netinha! Nós não conseguimos viver em sociedade! Precisamos comer! E acho que você já sabe muito bem o que, não é?

– Eu nunca pensei que minha filha seria um monstro como você Ma… Ma…tilda! – minha mãe realmente não gostava de dizer o nome da velha, depois de dizer isso, ela se vira e vai embora sem se despedir.

Meu pai me abraça e eu começo a vomitar novamente:

– Podem ir! Agora deixem que eu cuido dela!

Vejo os meus pais indo embora e me sento meio tonta na porta do chalé:

– O que será de mim agora?

A velha se aproxima e tira uma varinha das suas vestes, ela se transforma em uma mulher Jovem e muito bonita, parecia ser um pouco mais velha que eu. Ela sorri com meu espanto e responde:

– Vou ensinar tudo que eu sei para você! Mas para conquistar os seus poderes você precisa comer!

Ela pegou a varinha novamente e transformou o chalé, que era velho e feio, em uma pequena casa linda e coberta de doces.

– Agora é só se sentar e esperar! O nosso jantar virá até nós.

Entramos na casa. Não sei quanto tempo havia se passado, fui despertada por aquele cheiro irresistível novamente. Dessa vez o cheiro apresentava algumas notas diferentes da primeira vez, estava muito mais sutil, acho que só consegui perceber por que as crianças já estavam quase ao meu lado.

– Maria, isso está muito gostoso!

– Eu estava morrendo de fome, João!

Não conseguia me concentrar nas vozes, a única coisa que eu sentia era fome.


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Desaparecidos em Cinasville: Parte II

Eu não conseguia ver os Trolls só senti os golpes e mordidas; Escutei tiros, gritos e, quando estava quase apagando, alguém me puxou para fora da ponte e me deitou em uma trilha no meio do mato:

– Fique quieto aqui!

Percebo que era um dos empregados, os outros também já estavam ali escondidos, assustados e machucados. Ainda um pouco desnorteado por causa dos golpes, dou sinal para o psiquiatra pegar o mapa e olhar aonde levava essa trilha para podermos fugir por ela:

– A trilha é segura! – disse o psiquiatra bem baixinho – No final dela existe uma cerca elétrica, se conseguirmos desativar ela, pulamos o cercado para o lado do casarão da Fazenda.

Me levanto na altura do mato, para que nenhum dos Trolls ache a gente, começo a andar pela trilha:

– Vamos equipe! Sem chamar atenção de ninguém!

Andamos por um tempo e parece que os Trolls não nos seguiram, chegamos na cerca elétrica e havia uma cabine, dentro dela um painel com vários botões:

– Meu Deus, que sorte! Eu vim o caminho todo pensando em como iríamos desativar essa cerca. – disse o psiquiatra.

Um dos empregados já estava dentro da cabine e disse:

– Aqui está dizendo para apertar um botão, eu já apertei!

Todo mundo fica paralisado esperando algo acontecer, penso: “Que idiota! Como aperta o botão sem saber o que ele faz”. E escuto o psiquiatra xingar:

– Se esse botão fizesse algum barulho nós já estaríamos mortos!

A garçonete joga um galho na cerca elétrica:

– Parece que ela está desativada! Não aconteceu nada!

O investigador paranormal começa a subir na cerca, começo a acompanhá-lo e os outros ao ver que estava tudo bem começaram a subir também. Quando todos estavam do outro lado, começamos a andar sorrateiramente em direção ao casarão da fazenda. Chegando pelos fundos vejo que na frente da casa haviam vários capangas trolls guardando a entrada principal:

– Se entrarmos todos juntos nunca vamos saber se eles descobriram que estamos aqui! Quatro de vocês vem comigo e o restante fica de guarda aqui do lado de fora!

Todos concordaram.

– Ei dona do bar! Vem você e seus empregados comigo, quero que você comigo também investigador paranormal! Para os que vão ficar, se acontecer qualquer coisa assobiem, vou saber que fomos descobertos! Se eu assobiar, sigam com o plano.

Escuto todos dizerem:

– Sim Chefe!

Começo a abrir as portas dos fundos bem devagar e a entrar calmamente. A casa estava toda escura, ligo a minha lanterna e percebo que estávamos passando pela cozinha. O investigador paranormal derruba uma frigideira, mas conseguiu pegá-la antes de bater no chão:

– Meu Deus gente! Poderiam fazer um pouquinho menos de barulho?

Quando termino de dizer isso me viro com a lanterna e dou de cara com Kozlov:

– QUEM SÃO VOCÊS? O QUE FAZEM NA MINHA CASA?

Fico parado com a arma apontada para ele:

– Viemos atrás do item que você roubou da igreja! – disse o investigador paranormal.

– Eu roubei? Como podem provar isso? Tenho onze Trolls à minha disposição, vocês nunca sairão daqui com vida!

– Tem certeza?

Vejo que ele está com um rádio na cintura, antes que ele pensasse em usar começo a assobiar. Escutamos barulhos de pedras caindo no chão, os Trolls haviam sido sendo pegos de surpresa pela equipe que ficou do lado de fora.

– Acho que deveria reforçar mais a segurança – disse um dos empregados.

Começos a rir e o encurralamos em um canto da cozinha a pontando armas para ele. O investigador paranormal continua:

– Tenho informações de que você está envolvido sim! E o sumiço do padre Vogel também é culpa sua!

– PADRE VOGEL ERA UM ENXERIDO! – Kozlov grita e tira uma faca escondida do seu bolso. Antes que pudesse reagir, ele corta a garganta da dona do bar, ela cai no chão sem vida.

Dou um tiro na sua perna e ele cai no chão. Me debruço sobre ele apontando a arma na sua cabeça:

– Se quiser viver, responda logo! Onde está o objeto roubado?

– Está no labirinto do meu jardim! Em um cofre!

– Onde está a chave?

– Assim fica fácil demais! – ele começa a gargalhar

Um dos empregados abalados com a morte da chefe, pega a arma e atira na cabeça dele:

– Não gostei da risada dele!


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Quem atendeu suas preces?

Pai Nosso que estais nos Céus, santificado seja o vosso Nome, venha a nós o vosso Reino,

seja feita a vossa vontade

assim na terra como no Céu.

O pão nosso de cada dia nos daí hoje, perdoai-nos as nossas ofensas

assim como nós perdoamos

a quem nos tem ofendido,

e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do Mal.

“Senhor por favor faça que aquela maldita vizinha quebre uma perna e me deixe em paz, não aguento ela mais aqui xeretando. Amém”.

Depois de rezar vou dormir cansada de mais um dia, estava bastante irritada com essa vizinha. Não aguentava mais ela todo dia na minha porta querendo saber da minha vida e fofocando sobre a vida dos outros. Minha avó sempre dizia que Deus escuta todas as nossas preces, espero que ele afaste essa mulher da minha casa.

Acordo cedo e vou saindo de casa para ir trabalhar e percebo que a vizinha não apareceu. Depois de um longo dia de serviço, quando cheguei em casa ela não apareceu também. A única coisa que pensei foi:

– Graças a Deus!

Rezei e fui tentar dormir, mas meu telefone começou a tocar. Atendo e infelizmente reconheço a voz imediatamente:

– Menina você não sabe o que aconteceu comigo! Eu simplesmente me levantei da cama, caí e quebrei a perna!

Fico do outro lado da linha pensando se isso aconteceu porque eu rezei e perguntei:

– Como você está?

A vizinha responde animada:

– Estou bem! Não se preocupe! Não vou poder ficar indo aí, mas ainda bem que existe telefone …

Ela começa a gargalhar e termina dizendo:

– Vou te ligar todos os dias! Boa Noite!

– ……. Boa Noite! – disse depois de respirar bem fundo.

Desligo o telefone irritada, achei que ia ficar livre e ela arrumou mais um motivo para ficar perto de mim. Rezei novamente pedindo a Deus para que ela não me ligasse, que ficasse muda ao invés de fazer isso, eu não me importava como, só queria ficar em paz.

Acordo no outro dia assustada com barulhos de carro de polícia e ambulância, saio de casa para ver o que estava acontecendo e estavam todos parados na porta da casa da vizinha, me aproximo e pergunto para o primeiro policial:

– O que está acontecendo?

– Dois ladrões entraram na casa, aproveitaram que a dona da casa estava com a perna quebrada, amarram ela e cortaram sua língua para ela não pedir socorro!

Fico assustada e pergunto novamente sem acreditar no que ele estava dizendo:

– Cortaram sua língua? Ela está muda?

– Cortaram feio, está sangrando muito e ela não consegue falar! Vocês eram próximas? Ela acabou de sair para o hospital!

– Não – respondo ainda não querendo ligação nenhuma com a vizinha.

Volto para casa depressa, pensando que a culpa era minha. Eu rezei para isso tudo acontecer, mas não sabia que realmente aconteceria. Com peso na consciência comecei a rezar pedindo para ela ficar bem, se o mal acontece, o bem deve acontecer também:

– Por favor Deus retira todo o mal que eu pedi! Eu só queria me livrar dela, não queria nada de mal, quero que ela fique bem!

Escutei um sussurro vindo de algum lugar da casa, interrompeu a minha reza dizendo:

– Agora é tarde!

Saio correndo pela casa procurando a voz:

– QUEM ESTÁ AÍ?

A voz começa a gargalhar muito alto.

– QUEM É VOCÊ?

– Ora, sou quem atendeu às suas preces.

– MAS, VOCÊ NÃO É DEUS, É?

– Não. Mas quem manda ficar pedindo essas coisas em voz alta? Alguma outra pessoa poderia escutar.

– E COMO VOCÊ CONSEGUE FAZER ISSO? QUEM É VOCÊ? A coisa voltou a gargalhar e única coisa que respondeu foi:

– Sabe aquele ditado, “Tudo que vai volta”?

 Quando a voz terminou de sussurrar isso, vejo que alguém tinha entrado na casa, eram dois ladrões. Subi as escadas correndo porque eles já tinham tomado conta do primeiro andar. Tentei ver do topo da escada se tinham saído e escorreguei, rolei escada abaixo. Quebrei a perna, não tinha mais nenhum movimento nela. Os ladrões estava me esperando lá embaixo com facas nas mãos. Um deles me puxou pelo cabelo enquanto o outro abriu a minha boca e cortou a minha língua. Senti uma dor insuportável e vejo a minha língua caindo no chão e desmaio.

Me deixaram para morrer, mas acordei um tempo depois. Não conseguia me movimentar e muito menos gritar, acho que passei alguns dias assim até que alguém lembrou de mim. A vizinha abriu a porta e gritou pelo meu nome, eu estava no chão, sem reação. Ela já estava bem e conseguindo falar, nunca pensei que ficaria feliz em ouvir essa voz irritante.


Ilustração: Brendom Rodarte

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A tão sonhada tatuagem

– Olá! Seja bem-vindo ao PowerGirlTattoo! Você é o cliente das 14:00 horas?

Todo empolgado respondo:

– Sou sim!

– Parabéns por ter ganhado o sorteio! Já pode ir subindo, é na primeira sala depois que subir as escadas! A Bruna está esperando por você!

Agradeço a secretária e subo as escadas pensando. “Aí meu deus! Vou tatuar com a Bruna! A tatuadora mais famosa do país, ninguém consegue copiar seu estilo, ela é única!”. Entro na sala e lá estava uma mulher bem alta, com longos cabelos azuis, toda tatuada me esperando:

– Meu deus! É você mesmo! A Bruna! Nem acredito que estou aqui!

Ela começa a sorrir e diz:

– Sou eu! Fico feliz com essa empolgação toda! Está pronto para começar?

– Estou muito empolgado para começar! – já vou dizendo isso me deitando na maca.

– Então Flávio, o famoso ganhador do sorteio, onde será feita essa tatuagem?

– Será no peito! – Já tiro a camisa.

Ela começa a rir da minha empolgação novamente e me entrega uma folha com um desenho:

– Que tal? Você disse que queria tatuar uma índia quando ganhou o sorteio, espero que tenha gostado!

Eu fiquei encantado com o desenho, era o rosto de uma índia tão delicado, parecia de uma criança, até lembrava um pouco o rosto da própria tatuadora e seu cabelo tinha pequenas penas também bem delicadas.

– Eu amei! Suas tatuagens são fantásticas!

– Muito obrigada Flávio! Então, vamos começar!

Ela colocou três potinhos de tinta, achei estranho e perguntei:

-Por que está usando tinta vermelha? A tattoo não é toda preta?

– É pra dar vida, pode ser?

– Claro, a artista é você!

– Ela marcou o desenho no meu peito e começou a traçar, acho que umas 6 horas depois o desenho já estava quase todo pronto, só faltava terminar o rosto. Achei engraçado que essa era a primeira tatuagem que não senti dor alguma:

– Nossa Bruna, essa é a primeira tatuagem que não sinto dor!

Ela não respondeu, tinha parado de fazer a tatuagem e estava acendendo umas velas vermelhas em volta de mim. Depois ela pegou um livro velho que estava na mesa no canto do quarto e começou a dizer umas palavras estranhas em outra língua:

– O que está acontecendo?

Ela continua sem responder e volta a fazer a tatuagem novamente. Quando ela começou a fazer o rosto, senti uma dor muito grande, parecia que meu peito estava sendo rasgado, começou a sair muito sangue e a Bruna continuava dizendo palavras estranhas:

– O que está acontecendo? Para! Está doendo muito!

Ela continuava sem responder. Comecei a pedir por socorro:

– Socorro! Socorro! Para! Socorro!

Eu tentei levantar, mas a dor era demais, não conseguia me mexer. Quando ela terminou de tatuar o rosto eu apaguei. Acordo assustado, não entendia o que estava acontecendo. Estava tudo normal, a dor e o sangramento haviam passado, tento me levantar para ver a tatuagem no espelho, mas meu corpo não responde. Escuto uma voz de criança saindo da minha boca:

– Ma……mãe? Que saudades!

Sinto que estou me levantando. Meu corpo se movimenta na direção da Bruna e a abraça:

– Olá filha!A mamãe trouxe você de volta! Está vendo! Mais uma pessoa com seu rosto tatuado na pele!

A voz de Criança sai do meu corpo novamente:

– Será que dessa vez eu vou conseguir ficar para sempre? Estou me sentindo mais forte dessa vez, ele nem está me incomodando.

– Espero que sim! Mas se não der certo vamos ter que descartar mais um e tentar novamente!

Quando escuto isso, começo a gritar desesperadamente por socorro, mas nenhuma voz saiu.

Meu corpo já não era mais meu.


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Torta de limão: A melhor torta do mundo!

“Triture o biscoito de maisena em um liquidificador ou processador.

Junte a margarina e bata mais um pouco.

Despeje a massa em uma forma de fundo removível”

Dizia o programa de culinária matinal quando de repente chega a minha esposa:

 – Feliz Aniversário meu amor! Olha a surpresa!

Acordo com minha mulher me desejando parabéns com uma belíssima torta em uma bandeja:

– Obrigada meu Amor! Como você adivinhou? Estava passando uma receita disso agora na TV.

– Sabia que você ia gostar e para ficar ainda melhor é torta de limão! Sua preferida!

– Você é a melhor esposa do mundo!

Pego a torta e dou uma mordida. Parece que já comi essa torta em algum lugar, pergunto:

– Essa torta foi feita nessa padaria perto de casa?

Continuo comendo, estava muito gostosa, tinha muito tempo que não comia uma torta de limão tão boa, a última vez que comi uma assim, foi…

na minha infância!

– Essa torta é de uma loja nova que abriu no centro da cidade! Está fazendo o maior sucesso, vendem tortas de vários sabores e são todas deliciosas!

Termino de comer e continuo achando-a muito familiar, mas não conseguia me lembrar o porquê:

– Vamos passar nessa loja comigo antes de ir para o trabalho? Essa torta é realmente muito deliciosa! Quero mais!

– Mas você não vai se atrasar na delegacia? Você é sempre o primeiro policial a chegar lá!

– Mereço outra torta! E hoje é meu aniversário, não vão se importar.

Ela começou a sorrir e fomos para essa tal loja de tortas, chegando lá o cheiro do lugar confirmou a minha lembrança da infância:

– Nossa o cheiro desse lugar! Tem o cheiro da minha rua na infância!

– É mesmo? Que estranho!

Pedimos várias tortas de sabores diferentes para experimentar, mas a torta de limão sempre me fazia lembrar de alguma coisa na infância:

– Existia uma vizinha na minha rua que fazia umas tortas maravilhosas! A principal era de limão, era a melhor torta do mundo!

Vejo que minha mulher não escutou nada do que eu disse, ela estava prestando atenção ao noticiário na TV da loja:

– Você está sabendo disso? Já é a quinta pessoa que desaparece na cidade e até agora não acharam nenhum dos corpos.

Quando minha mulher disse isso estava terminando mais uma fatia da torta de limão e lembrei o porquê ela era familiar:

– É isso! Preciso achar a dona desse lugar!

Levanto depressa do lugar onde estávamos sentados, tiro a minha arma da cintura, minha mulher pergunta assustada:

– O que está acontecendo? Aonde você está indo?

– Eles estão aqui!

Saio andando depressa em direção a atendente que estava no balcão da loja e já chego apontando minha arma e mostrando meu distintivo de policial:

– ONDE ESTÁ A DONA DESSE ESTABELECIMENTO! AQUI É A POLÍCIA E ESTOU MANDANDO VOCÊ ME DIZER AGORA!

– Ela está no porão da loja! Não posso ir lá!  

Ela aponta uma porta lá no fundo da cozinha, vou em direção a porta e vejo que estava trancada, pego uma cadeira da loja e começo a quebrar a porta. Minha mulher estava desesperada:

– VOCÊ FICOU LOUCO! O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

Vejo que era uma porta diferente, parecia muito pesada e vedava completamente a abertura. Depois de muito esforço consigo arrombar a porta e desço as escadas correndo, chegando lá dou de cara com a minha vizinha, que fazia tortas maravilhosas e seu filho. Do lado deles haviam cinco corpos, eram as pessoas que estavam desaparecidas:

– SÃO VOCÊS! SABIA QUE ERAM VOCÊS! ERA IMPOSSÍVEL EU ESQUECER!

Comecei a gritar com eles, apontando a arma o tempo todo para que nem pensassem em fugir:

– VOCÊS ESTÃO PRESOS! EU SOU POLICIAL AGORA!

A vizinha me reconheceu:

– É você!!!! O pestinha que nos entregou! Eu fiz uma bela torta de limão para calar sua boca por ter visto sangue no meu carro e mesmo assim você abriu essa sua maldita boca! Tive que fugir com meu filho para não mofar na cadeia, acabando com o nosso negócio de vender órgãos.

Minha mulher já estava atrás de mim e eu não tinha percebido:

– É por isso que você reconhece a torta de limão!

A única coisa que consigo responder:

– Liga para a minha equipe! Avisa que encontrei os corpos e estou com os culpados encurralados. Preciso de reforço urgente!


Ilustrador: Brendom Rodarte

Escritora: Nathália Santos

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Existem mais cores nesse mundo?

João era um menino diferente de qualquer outro da sua vila.  Ele não enxergava as cores como deveria.

Na escola a professora perguntava:  

– Que cor é essa?

João, aflito respondia:

– Verde? Laranja?

Todos os alunos riam

– João é um bobão! – Dizia Luiz o menino popular bonitão.

A anciã da vila e o senhor idoso próximo do João vivia implicando com o menino por só enxergar as duas cores se existia um milhão.

– Não sabe outras cores, menino?

– Existem mais cores nesse Mundo João!

O menino ficava pensativo:

– Será que existem mesmo? Por que vejo tudo só laranja e verde então?

Só existia uma pessoa nessa vila que entendia João, era Katrina, a menina brava da turma que só se sentava no fundão:

– O que importa se existem mais cores nesse mundo? O importante é ser você, João!

Ele se sentia seguro com Katrina, ela não se importava se ele era diferente.

– Você já parou para pensar que você tem um mundo só seu João? Enquanto todo mundo vive no mesmo mundo?

João sorria e dizia:

-Nunca pensei nisso antes Katrina!

Um pouquinho de esperança começava a crescer no coração de João.


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Reality Show

– Sejam bem-vindos participantes para mais um ano do The Family Show! Uma família dentre as inscritas é escolhida para ficar em uma casa que é vigiada pelos expectadores 24 horas por dia. Se a família conseguir vencer todas as provas unidos ganham 1 milhão de reais!

Estava sentada no sofá toda empolgada de mãos dadas com minha mãe, meu pai e meu irmão, vendo o apresentador falar. Não estava acreditando que tínhamos conseguido ser escolhidos para fazer parte desse programa, era um sonho que estávamos realizando.

– E aí família Borges! O publico já está querendo conhecer vocês!! Como estão se sentindo sendo os mais novos participantes do programa?

Minha mãe olhou para todos nós e começou a falar:

– É uma honra estar aqui! É um grande sonho! Vocês não sabem o esforço que a gente fez para conseguir estar aqui, fizemos a inscrição todos os anos anteriores! Até que um dia a gente teve uma brilhante ideia ….

Interrompi minha mãe essa hora, ela não sabia mentir e ia acabar nos entregando sem querer ou deixando as coisas mais suspeitas:

– A brilhante ideia de fazer um vídeo bem criativo, contando sobre o nosso trabalho voluntário para ajudar pais que estão em busca dos seus filhos desaparecidos! – disse olhando para minha família e eles sorriram para o apresentador, mostrando a satisfação em fazer parte disso.

– Isso é incrível família! Conte mais para o público Samanta, como essa ideia surgiu? – disse o apresentador se mostrando interessado na história.

– Começou quando descobrimos que a minha melhor amiga tinha desaparecido – Comecei a chorar – É por isso que queremos o dinheiro! Queremos ajudar mais pessoas!

Não consigo terminar de falar, estava muito emocionada. Meu pai me abraça chorando e diz:

– Vamos nos manter unidos para conseguir! Somos uma família unida e queremos que todas sejam assim!

A gente se abraça e quando eu olho o apresentador estava chorando:

– Meu deus espero muito que vocês ganhem! Nunca gostei tanto de uma família como já estou gostando de vocês! Que Comece o nosso The Family Show! Espero que vocês descansem hoje e aproveitem bem a casa porque amanhã começam as provas! Boa noite, família! – Disse o apresentador se despedindo da gente.

Acenamos para ele e quando desligaram a grande televisão, saímos da sala e já fomos explorar a casa. Ela era enorme com grandes paredes de vidro, uma cozinha gigantesca, com todo tipo de comida, uma sala de jogos com uma piscina que saia em um jardim e uma área de churrasco fora da casa. Tirando as paredes de vidro, os quartos pareciam de filmes de época, os móveis eram em estilo antigo, meu quarto parecia o de uma princesa e todos tinham banheiros com banheiras enormes!

– Meu deus! Não quero ir embora nunca mais! – Disse meu irmão maravilhado com tudo.

– Valeu a pena tudo que fizemos para estar aqui! – disse meu pai nos abraçando.

– Vamos descansar! Amanhã vai ser um grande dia! – disse minha mãe nos beijando.

Concordei com minha mãe e fui direto para o meu quarto, troquei de roupa por baixo dos lençóis e depois adormeci. Acordei às 3 da manhã assustada com um grito vindo da cozinha, chegando lá me deparei com minha mãe desesperada abraçando meu irmão, olho para bancada da cozinha e vejo muito sangue, meu pai com uma faca enfiada em seu pescoço:

– O QUE ACONTECEU? – grito desesperada

Minha mãe arrasta a gente para sala:

– Vamos esperar! Alguém vai aparecer na Televisão! Seu p-p-p-p-ai ti-ti-ti-ti-rou a própria vida! Eu fui fazer alguma coisa para gente comer e-e-e-e-e-e quando me virei ele já estava..

..com a faca no pescoço.– Ela soluçava e chorava desesperadamente. Ela sai andando da sala:

– ONDE VOCÊ VAI MÃE? – grita meu irmão

– EU VOU BUSCAR AS NOSSAS COISAS! FICA AÍ ESPERANDO O APRESENTADOR APARECER! – ela já responde indo em direção ao seu quarto.

Ficamos sentados abraçados na sala por uma hora e nada de alguém aparecer. Minha mãe estava demorando demais para pegar nossas coisas e de repente houve um barulho e todas as luzes se apagaram:

– Vou atrás da nossa mãe! Fica aqui e se alguém aparecer você grita.

– Vou esperar – disse meu irmão cansado de tanto chorar no sofá.

Já vou direto para o quarto da minha mãe, chegando lá vejo que as coisas pareciam estar no mesmo lugar, vou olhar no banheiro e levo um susto. Começo a gritar:

– MÃE! MÃE! O QUE ESTÁ ACONTECENDO? MÃE ACORDA!!!

Vou correndo em sua direção, ela estava dentro da banheira cheia, nua e parecia estar desmaiada. Vejo um secador lá dentro, tento tirar seu corpo da água, mas ela já estava sem vida.

– O que está acontecendo com vocês!! Será que ninguém está vendo isso? – começo a chorar, me levanto e chego perto de uma câmera do lado espelho e grito – TIREM A GENTE DAQUI! MEUS PAIS ENLOUQUECERAM!

Olho para o espelho e vejo que tinha algo escrito com batom, reconheço que é a letra da minha mãe:

“Rebbeca é a oferenda errada! Quer vingança!”

Meu mundo desaba depois de ler essa frase. Rebbeca mentiu para mim, eu perguntei para ela se ela era virgem, ela sempre dizia que sim. Eu pensei que fossemos melhores amigas e ela me contava tudo. Por isso quando minha mãe descobriu uma forma da gente ficar rico e famoso, fazendo uma oferenda para satã matando uma virgem, pensei que ela fosse a pessoa certa. Sabíamos que se fizéssemos algo errado a alma voltaria por vingança. Escuto um barulho da sala de jogos:

– MEU DEUS! MEU IRMÃO!

Saio correndo e quando chego lá vejo uma menina de branco, ensanguentada, afogando meu irmão na piscina. Era a Rebbeca, ela olha para mim e seu rosto era demoníaco.

– REBBECA LARGA MEU IRMÃO POR FAVOR! – grito desesperada.

Ela só sorri e continua a afogando meu irmão na piscina.

Em desespero corro para cima de Rebbeca e tento salvar meu irmão, mas ela era forte demais e eu não consegui pará-la. Ela solta seu corpo na água e fico parada esperando a minha vez de ser morta, ela apenas sorri e desaparece.

Escuto passos vindo atrás de mim, quando me viro vejo que eram policiais.

– No chão! Nem tente se mover! Você está presa!

Disseram que estava presa pelo assassinato de toda a minha família em rede nacional. Me mostraram as filmagens, parece que ocorreu um problema com o sistema e apenas as câmeras da cozinha, quarto do casal e piscina estavam funcionando. Nem pensei em me defender, entendi o que havia acontecido. O público não deve ter visto pela TV que era a Rebbeca, todo mundo só conseguia me ver. Eu cheguei depois dos assassinatos, mas as filmagens dos locais em que eu estava antes magicamente desapareceram.

Ninguém ia acreditar que um espírito fez isso, ainda mais que era eu em todas as filmagens. Acabei presa e conhecida como a garota que assassinou a família em um Reality Show. Rebbeca deve estar finalmente em paz.


Ilustrador: Brendom Rodarte

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O “mordidinhas”

– O gravador já está ligado? Tudo certo, escrivão?

– Tudo certo chefe! – Disse o escrivão olhando o policial trazendo o suspeito

– Então vamos começar! Suspeito João Carlos Eduardo, 29 anos, acusado de assassinato em série. Foram encontradas treze mulheres sem vida, com as mãos amarradas para trás, nuas, com marcas de mordidas pelo corpo, faltando o mamilo esquerdo. Definido como modus operandi do “mordidinhas”.

De acordo com a perícia, as mulheres eram asfixiadas até morte, mordidas e seus tinham seus mamilos esquerdos arrancados com os dentes. O suspeito foi visto perto de vários lugares em que corpos foram encontrados. Na sua casa foram encontradas fotos de todas as vítimas e um pote de maionese dentro da geladeira, com exatamente 13 mamilos.

O suspeito interrompe:

– EU NÃO FIZ NADA DISSO! EU JÁ DISSE PARA VOCÊS! NÃO SEI COMO ISSO TUDO FOI PARAR NA MINHA CASA!

– Então vamos refrescar sua memória! Me passa essa caixa escrivão?

– Sim chefe!

– O que você tem para dizer dessas fotos?

O suspeito pega as fotos das vítimas e fica analisando:

– Conhece alguma dessas mulheres?

– Sim, mas calma! Não pessoalmente, eu já vi essas mulheres, elas trabalham no shopping. Me deixem explicar! A minha mulher vai muito a um mesmo shopping, por isso sei que essas mulheres trabalham lá, mas só por isso, eu nunca cheguei perto dessas mulheres.

– Então todas essas fotos com elas mortas e nuas apareceram por acaso na sua casa?

O suspeito pega as fotos e fica desesperado:

– MEU DEUS! EU NUNCA FARIA UMA COISA DESSAS COM NINGUÉM NA MINHA VIDA.

– Nunca mesmo? Por que foi encontrado esse pote de maionese cheio de mamilos na sua casa também?

– EU NÃO SEI! JÁ DISSE!

– Para com isso cara! Assume logo! Vai falar que nunca viu esse pote de maionese dentro da geladeira?

– É CLARO QUE JÁ VI! MAS NUNCA ABRI! EU NÃO GOSTO DE MAIONESE!

– Agora já não gosta de maionese! Você é o suspeito com as desculpas mais bobas possíveis. Nunca conheci um desses e você escrivão?

– Nunca chefe!

O suspeito estava aos prantos:

– EU NÃO SOU UM ASSASSINO! EU NÃO FIZ NADA!

– Então por que tem filmagens sua nas ruas perto dos locais de crime?

– EU ESTAVA SEGUINDO MINHA MULHER! ELA ESTAVA ESTRANHA COMIGO! FALAVA MENTIRAS QUE IA NO SHOPPING E IA PARA OUTROS LUGARES, COMEÇEI A SEGUIR ELA, MAS EU NUNCA CONSEGUIA IR ATÉ O LOCAL, ELA SUMIA!

– Agora chega! Cansei dessas desculpas! Escrivão fala para alguém vir aqui e prender este homem! Ele não é suspeito, foi tudo achado na casa dele! Cara, acorda para a vida, sua mulher está separada de você há muito tempo, investigamos sobre você e está aqui o papel do divórcio! Não foi encontrada sequer uma peça de roupa feminina na sua casa!

– O QUE? ELA ESTÁ VIAJANDO PARA CASA DA MÃE! MAS ELA MORA LÁ SIM! EU NUNCA ASSINEI NENHUM PAPEL DE DIVÓRCIO!

– Chega, cara! Sua mulher está morando fora do país! Temos fotos em redes sociais para provar!

O suspeito olha assustado para as fotos:

-ESTAS FOTOS SÃO ANTIGAS E EU ESTAVA EM TODAS ELAS! ELA ME APAGOU! A GENTE FOI PARA A ITÁLIA! ELA ME LEVOU DE PRESENTE DE CASAMENTO…… MEU DEUS SEMPRE FOI TUDO ARMADO! O SHOPPING QUE ELA SEMPRE IA! OS SUMIÇOS! EU A VI TIRANDO ROUPA DE CASA! ELA DISSE QUE ESTAVA DOANDO!

– Gente tira esse homem logo daqui! Já passou dos limites!

– FOI ELA! FOI MINHA MULHER! FOI TUDO ARMADO – O suspeito sai da sala gritando sendo levado pelos policiais.

– Que loucura esse homem! O caso está encerrado escrivão!

– Acho que não chefe, acabaram de ligar da perícia. Conseguiram identificar o verdadeiro assassino pelas mordidas.

– Como conseguiram isso?

– Acharam uma maçã na casa com uma marca de mordida idêntica à das vítimas.

– Não estou entendendo! A maçã é do cara, o caso está sim encerrado!

– Não senhor, a mordida é de uma mulher!

O investigador fica impressionado:

– Nossa pegamos mesmo o cara errado! Nunca ia pensar que uma mulher seria capaz de fazer uma coisa dessas!


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O Jogo de Tabuleiro Parte II: O fim que não tem fim.

-EU NÃO POSSO FAZER ISSO COM MEUS AMIGOS! – gritei me afastando do tabuleiro.

– Você não tem escolha! Quem manda nesse jogo sou eu entendeu? COMECE LOGO!

Nessa mesma hora apareceu uma carta do jogo dizendo:

“O jogo começa com “ataque Alien em esconderijo secreto”

Pergunto assustado:

– O que isso quer dizer?

O espírito responde:

– Você é o mestre, esqueceu? Me surpreenda.

O tabuleiro tinha se transformado em um lugar escuro com uma sala e computadores de alta tecnologia, nessa sala estavam meus amigos sentados planejando alguma coisa. Do lado de fora dava para ver os Aliens se aproximando prontos para atacar, fiquei desesperado e acabei gritando:

– AMANDA!!!CAIO!! BRUNA!! GENTE!!! TEM ALIENS DO LADO DE FORA!!!

Eu percebi que eles me escutaram de algum lugar, mas não sabiam de onde estava vindo essa voz e nem pareciam entender o que eu falei. O espírito ficou furioso:

– Sabe o que acontece quando as pessoas não obedecem às regras? Elas são punidas!

Olhei para o tabuleiro os aliens tinham invadido o esconderijo, meus amigos lutaram bravamente, mas eles eram muitos e um deles acabou atacando a Alana, que era a Roxanne, e destruindo-a em mil pedacinhos. Encurralaram meus outros amigos, pensei que todos iam morrer nessa hora:

– JOGA!!- disse o espírito:

Não hesitei dessa vez, peguei uma carta e escrevi:

“Vladimir tinha construído uma passagem secreta que levava para o esgoto da cidade, a passagem foi construída na intenção de atacarem o quartel general dos aliens. Entrando pelo esgoto e saindo na sala onde as câmeras de clonagens estão para deixar uma bomba e explodir todas elas. Eles pensaram que esse plano seria executado com calma, não tinham imaginado que seriam atacados antes pelos aliens.

Por sorte foram encurralados em cima dessa passagem secreta e perceberam que era a hora de executar o plano.”

Coloco a carta no tabuleiro e vejo tudo acontecer:

– Estamos encurralados! O que vamos fazer? – Disse Alexa desesperada

– Vamos executar o plano agora! Estamos em cima da passagem secreta, vou acionar o botão! Quem está com a bomba? – Disse Vladimir.

– Eu! – disse Vitlaus

Assim que ele apertou o botão uma fumaça fez os aliens ficarem confusos e cegos. Eles desceram para o esgoto e quando os aliens perceberam já não estavam mais lá.

– Deu certo gente! Estamos no esgoto- disse Zatara, ofegante, mas animada.

– Vamos acabar com o plano desses aliens! – Disse Baox tirando um mapa que levava à sede dos aliens através do esgoto.

Começaram a seguir o mapa e andaram por um bom tempo pelo esgoto. Nesse meio tempo, acabei percebendo que realmente tudo que eu criava ganhava vida e o espírito estava muito focado na história. Acabei tendo uma ideia:

–  Acho que está muito fácil eles chegarem nessa sede, posso acrescentar mais coisa nessa parte da história? – Perguntei para o espírito.

– Claro! você é o mestre! – disse o espírito animado.

Peguei a carta e escrevi:

“Eles só não imaginavam que havia um monstro, parecendo um lagarto, que foi criado pelos alienígenas para vigiar as passagens do esgoto caso algum dia alguém resolvesse ter essa ideia.”

– Estamos quase lá – Disse Baox olhando o mapa.

Quando avistaram a passagem um enorme lagarto de olhos vermelhos surgiu pelas águas do esgoto, pegou Holocen pela perna e a jogou contra parede. Vitlaus percebeu que sua irmã não conseguiria mais andar e correu para protegê-la enquanto os outros começaram a atacar o lagarto. Zatara percebeu que o lagarto tinha um cordão no pescoço e dependendo de como ele se mexia, seus olhos ficavam pretos:

– Gente! Esse cordão está fazendo alguma coisa com ele! Temos que tirar- Disse Zatara

Baox e Alexa também perceberam e começaram a cercar o lagarto para tirar:

– Estamos cercando ele contra parede! Pula no pescoço dele Vladimir!

Vladimir não perdeu a oportunidade, pulou no pescoço do lagarto e arrancou o cordão. Na mesma hora o bicho não ficou bravo mais, entrou na água do esgoto e foi embora.

– Que história empolgante! Me surpreenda mais! – O espírito estava muito empolgado e percebi outra coisa, o espírito não conseguia ler o que estava escrito na carta. Ele realmente queria ver o desenrolar do jogo.

Peguei outra carta e fiz um fim para essa história.

“Os sobreviventes (que ainda podiam andar) chegaram na sede dos aliens e acabaram descobrindo que não existia nenhuma câmera de clonagem. Existia uma passagem para trazê-los de volta para casa, e o espírito que deu vida para esse jogo seria preso dentro dele para sempre”

Acabei de escrever e rapidamente joguei a carta no tabuleiro, fiquei esperando a ação acontecer.

– Tem certeza de que estamos mesmo na sede dos aliens? – Disse Alexa procurando as câmeras.

– Eu não vejo câmera nenhuma! – disse Baox

– O que isso? – disse Vladimir apontando para um buraco brilhante na parede.

Esse mesmo buraco apareceu na casa e começou a sugar o espírito para dentro do jogo e ele começou a gargalhar:

– Quebrando regras novamente Henrique? Está tentando me enganar? – disse ele gargalhando. Me agarrou pela perna e gritou – VAMOS VER SE VOCÊ SABE MESMO JOGAR, VEM COMIGO PARA DENTRO DO NOSSO JOGO.

Acabo sendo sugado junto com o espírito para dentro do jogo, através do portal vejo meus amigos de volta para onde estávamos jogando. Percebo que para mim dessa vez não teria volta, ficaria preso para sempre (ou até conseguir enganar esse maldito outra vez) no jogo.


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O Jogo de Tabuleiro Parte I: A Viagem para Marte

– Estão prontos para jogar?

Meus amigos me olharam com uma cara bem desanimada quando me viram com um jogo de tabuleiro velho na minha mão.

– Sério Henrique? Você quer mesmo jogar isso? Parece jogo de criança! – Disse Caio tentando me fazer desistir.

– O nome do jogo é “A Viagem para Marte”! Parece muito com coisa de criança! – Disse Amanda zombando do meu jogo.

Os outros amigos que estavam ali concordaram e começaram a rir, eles olharam para mim bem pensativos:

– Vamos jogar gente! Não temos nada a perder! Se for ruim a gente para, pode ser?

– Vamos jogar pessoal! Começa logo esse jogo Henrique, antes que eu desista! – Disse Alana arrastando uma mesa para o centro e fazendo todos se sentarem para jogar.

Pego o tabuleiro correndo e coloco em cima da mesa, todos me olham assustados:

– Como funciona esse jogo? Não tem nada escrito! Está tudo em branco! – Disse Marlon confuso.

Pego a folha de instruções e começo a explicar:

–  Para a gente chegar em marte vamos ter que criar a própria história! Eu vou me encarregar de ser o mestre, aqui está dizendo que é aquele que comanda o enredo principal, os outros devem criar a história dos seus próprios personagens.

Pego umas cartas em branco que estavam junto com o tabuleiro e entrego para cada um dos jogadores. Assim eles começam a criar seus personagens:

– O meu já está pronto! Meu nome vai ser Vladmir, vou ser um robô construído pelo exército Russo, capturado por rebeldes e reprogramado para lutar do outro lado. Pronto para viajar para marte! – Disse Caio todo animado.

– Meu nome no jogo vai ser Zatara, vou ser uma androide criada para afazeres domésticos, e depois vendida para um físico nuclear com uma personalidade sádica, lá acabei sendo moldada para ser a segurança pessoal gratuita do físico, depois de vários experimentos no meu disco rígido acabei me auto programando para sobreviver, me tornando dona de mim mesma, desde então luto pela liberdade e justiça. – Disse Amanda toda se achando com sua personagem.

– Eu vou ser o Baox! Vou ser humano mesmo, criado como um guerreiro, com disciplina e respeito pela batalha, porém com um conflito pessoal. Descobri que na verdade sou parte de uma família de ladrões, mas nenhuma das minhas duas origens me agrada – Disse Marlon levando a sério o jogo.

– Eu quero que meu nome seja Roxanne! Eu adoro esse nome! Vou ser uma lunnar, nascida na lua, ex-policial com uma infância nada fácil. Fui abandonada pelo meu pai. E Minha mãe nunca entendeu o meu motivo por querer ser uma policial. Tenho um cachorro robô Nick, o último presente do meu pai antes dele partir. Ele é capaz de emitir um campo de forca que funciona como um escudo– Disse Alana sobre sua personagem demostrando como ela gosta de filmes de ficção.

– Meu nome vai ser Alexa e vou ser também uma androide. Meu antigo dono, um especialista em tecnologia, encontrou minha cabeça jogada em meio a sucatas no ferro velho. Ele a reconstruiu, mas minha memória não foi restaurada, por isso apresento certas habilidades e comportamentos que se diferenciam de outros androides.– Disse Bruna que adorava ser bem competitiva com Amanda.

– Eu vou ser uma Ciborgue! Parecido com aquele da Liga da Justiça! Vou chamar Holocen e durante a minha infância fui deixada com meu irmão Vitlaus que será o Bernardo pode ser? Fomos criados em um orfanato onde tivemos que aprender de tudo um pouco. Acabei sendo adotada por uma família de classe média, mas não perdi o contato com meu irmão, ele começou a fazer serviços externos para o diretor do orfanato que incluía assassinatos e espionagem. Ingressamos juntos no serviço militar, mas acabamos nos revoltando. Em uma missão, com meu irmão, ocorreu uma emboscada e em uma tentativa de sair em meio as explosões, perdi minha perna esquerda, enquanto Vitlaus, perdeu o braço direito. Com a ajuda de guerrilheiros, fizemos implantes de alta tecnologia. – Disse Luiza sorrindo pronta para jogar.

– Não esquece que meu braço vira um canhão! – Disse Bernardo me esperando começar o jogo.

Fiquei maravilhado com as histórias dos personagens:

– Ficaram Incríveis!! Isso porque vocês não queriam jogar!! Imagina se quisessem? Agora é minha vez de contar o enredo principal. Eu pensei em uma história em que os humanos se mudaram para Marte em 2089, em busca de expansão terrestre e começaram uma exploração de recursos para ver se era um bom lar para morarem. Depois de anos de exploração, acharam uma caverna que estava coberta por um desmoronamento e descobriram 12 caixas enormes. Dentro delas havia aliens, tinham mais de 2 metros de altura, roxos, pareciam ainda estar vivos, mas estavam cobertos por um líquido gelatinoso.

Trouxeram as caixas para a Terra, começaram a fazer testes nos alienígenas e quando conseguiram acordá-los, os cientistas se espantaram com sua força, poder e inteligência. Eles fizeram um acordo com os humanos, se a gente ajudasse a trazer seus irmãos de volta eles nos ajudariam a melhorar o nosso armamento, tecnologia e comunicação.

Depois de muitos anos de exploração os humanos descobriram que esse acordo era tudo uma farsa, os aliens mostraram que não eram nada pacíficos, e tomaram a terra, o sol e a lua. Oprimiram as raças espalhadas em todo o planeta e controlaram tudo ao seu redor.

Pensei em vocês como um grupo que já trabalhava na clandestinidade para sobreviver, foram convocados por agentes secretos para impedir que os aliens fizessem uma máquina de clonagem, para se livrarem das outras raças e se tornarem um povo único. Estão prontos para jogar?

Todos responderam:

– ESTAMOS!

Peguei a folha de orientação para ler as últimas instruções:

– Aqui está dizendo só para jogar as cartas no tabuleiro que o jogo vai começar!

Todos olharam confusos um para o outro e fizeram o que estava pedindo, jogaram as cartas no tabuleiro. Quando joguei a minha carta uma luz começou a se acender e tudo o que escrevemos estava ganhando vida. Quando eu olhei para os meus amigos, eles estavam virando os seus personagens, começaram a encolher e entrar no tabuleiro e desapareceram.

Fiquei muito assustado, o tabuleiro agora parecia com os planetas com todas as características da história que escrevi. Do meio do tabuleiro saiu uma carta virada, peguei para ler e lá estava escrito:

“Bem-vindo ao meu jogo! Vocês vieram para minha casa, sou um espírito solitário, achei interessante e resolvi dar um toque especial. Por aqui irão sair todas as cartas do jogo com todas as orientações para guiar os seus personagens. Mas temos algumas regras:

– Você vai guiar os seus personagens de acordo com a história que você criou.

– Os personagens irão sentir tudo de verdade, dor, fome, medo, frio, tudo isso será real.

– Na vida real as pessoas morrem, no jogo também!

– Se eu gostar do enredo, ao final do jogo, tudo voltará ao normal. Caso contrário, os danos serão mantidos. Este é o único jeito de sair.”

Depois dessa carta já se encontrava outra dizendo:

“PRONTO PARA JOGAR?”

Fiquei parado com essa carta na mão pensando, MEU DEUS O QUE EU FIZ?


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A Descoberta

Minha mãe já estava há dias sem dormir e comer por causa do meu avô, ele estava desaparecido há mais de seis meses. A polícia estava desistindo de encontrá-lo, não tinha mais onde procurar, ele sumiu sem deixar rastros e ninguém conseguia identificar a causa do seu desaparecimento:

– Mãe, se levanta!! Você tem que comer alguma coisa, não pode mais viver assim sofrendo pelo meu avô, ele vai voltar!

Falei isso com o coração doendo pois eu também sentia muita falta dele e das suas pesquisas malucas. Ele era um grande cientista e me ensinava muitas coisas, sempre compartilhava comigo suas grandes descobertas:

– Desculpa filho, mas acho que seu avô não volta mais! – Ela disse isso aos prantos e fico com muita raiva.

– COMO VOCÊ PERDE AS ESPERANÇAS ASSIM MÃE? ELE VAI VOLTAR SIM! ELE SEMPRE VOLTA!

Saio correndo e vou direto para o quarto do meu avô, fecho a porta com raiva, deito-me em sua cama e fico ali chorando, até que encontro um papel enrolado embaixo do travesseiro:

“Os nove círculos”

Desenrolei o papel e era um mapa que levava para algum lugar chamado “Planeta dentro de Outro”. Era um mapa diferente de todos que ele havia me mostrado antes, o destino ficava no centro de 9 círculos e cada um desses círculos ficava em um nível abaixo do anterior. Uma chama de esperança de encontrar meu avô cresceu dentro de mim:

– Eu sabia que você não estava morto! Com certeza é alguma descoberta científica que vai mudar o mundo!

Decido então esconder esse mapa e fugir para encontrar meu avô sozinho, assim ninguém ficaria sabendo da sua nova descoberta. Vou no meu quarto, pego minha mochila, coloco roupas e alguns biscoitos dentro dela, passo por minha mãe bem devagarinho, para ela não escutar que estava saindo e vejo que ela está dormindo. Sussurro bem baixinho:

– Eu volto mãe, te amo!

Já saio de casa seguindo o mapa e percebo que ele estava me levando para os fundos da nossa casa, mostrava uma entrada para uma passagem subterrânea. Chegando lá comecei a descer uma escada que parecia infinita, pensei que ela nunca iria acabar, mas depois de quase uma hora descendo finalmente ela acabou. No mapa, este local era identificado como o primeiro círculo.

Fico parado e assustado por ver pessoas ali, me aproximei e percebi que não eram pessoas normais, elas eram translúcidas, eu parei e consegui ver através delas:

– SÃO FANTASMAS!

Acho que disse isso muito alto e todos se viraram para mim. Um senhor se aproximou e disse:

– Aqui é o Limbo! O lugar dos pagãos e dos não batizados! Se você não for um de nós vá para o próximo círculo!

Os fantasmas começaram a me cercar, saio correndo seguindo o mapa tentando chegar ao segundo círculo. Encontrei uma porta e entrei, devo ter demorado umas duas horas para chegar até ali. Parecia um tribunal, estava cheio de fantasmas e havia um senhor escutando as confissões dos fantasmas. Ele me avistou e disse:

– Eu sou Minos! Juiz deste lugar! Aqui é o Vale dos Ventos! O lugar dos pecadores da luxúria! Se você não for um de nós vá para o próximo círculo!

Passo pelos fantasmas bem sem graça por ter atrapalhado o julgamento e volto a seguir o mapa para encontrar o terceiro círculo. Esse foi mais rápido para chegar, em uns vinte minutos já estava lá. Me deparei com um cachorro enorme de três cabeças, atolando fantasmas em uma lama e dizendo:

– Os gulosos que se afoguem! Aqui é o Lago da Lama, se você não for um de nós vá para o próximo círculo!

Tento seguir o meu caminho sem afundar na lama e nem ser visto pelo cachorro, mas escorreguei e rolei até chegar em um outro lugar, acho que cheguei no quarto círculo. Os fantasmas estavam discutindo entre si, olharam para mim com nojo e disseram:

– Aqui são as Colinas de Rocha! O lugar dos Pródigos e Avarentos! Se você não for um de nós vá para o próximo círculo!

Os fantasmas começaram a me puxar e empurrar, fui sendo arrastado pela multidão até cair na água. Percebo que na verdade era um rio de sangue e quando olho no mapa, já estou no quinto círculo. Uma senhora fantasma toda coberta de sangue se aproxima e puxa meu braço, me arrastando para fora do rio gritando:

– AQUI É O RIO ESTIGE! LUGAR DOS ACUSADOS DE IRA! SE VOCE NÃO FOR UM DE NÓS VÁ PARA O PROXIMO CÍRCULO!

Fico andando por horas até chegar no sexto círculo, já não estava aguentando mais e tirei um biscoito para comer. Sinto cheiro de carne podre queimada e fico enjoado. O sexto círculo era um cemitério, estavam sepultando os fantasmas em túmulos abertos, em chamas.

Saí correndo apavorado e de repente vejo uma placa indicando três caminhos. Eram três vales para escolher, Vale do Rio Flegetante, Vale da Floresta dos Suicidas e Vale do deserto Abominável. Procuro no mapa qual caminho a seguir e vejo que devia continuar sem entrar em nenhum desses vales, fico aliviado por isso.

Caminho por mais algum tempo e vejo novamente fantasmas sendo castigados. O mapa mostrava que o oitavo círculo eram “os dez fossos” que estavam na minha frente, mas também não precisaria entrar neste.

Já não aguentava mais esse lugar, era muito horror e comecei me questionar o que meu avô achou aqui. Com esperança de que faltava pouco para encontrar o meu avô continuei caminhando até que avistei um enorme homem com chifres de bode, asas de morcego e três cabeças:

– Como você chegou até aqui menino? – disse a primeira cabeça.

– Quantos anos você tem? – disse a segunda cabeça.

– Eu sou Lucífer, quem é você? – disse a terceira cabeça.

Respondo com medo:

– Estou procurando o meu avô, ele está desaparecido e me deixou esse mapa, meu nome é Igor e eu tenho 13 anos!

– Prazer Igor, meu nome é Judas! – Disse a segunda cabeça

– Prazer! O meu é Brutus – Disse a primeira cabeça

A Terceira cabeça estava analisando o mapa e o menino:

– Você tem certeza de que quer achar o seu avô?

Respondo muito feliz:

– É tudo o que eu mais quero nesse mundo!

– Então é só você seguir em frente rapaz! Seu avo é um gênio! Ele descobriu o centro da terra! – Disse a terceira cabeça mostrando o caminho.

Saio correndo sem pensar em me despedir ou agradecer as três cabeças, só consigo pensar em encontrar o meu avô. Uma porta se abre para mim com uma luz que quase me cegou, tampo meus olhos e quando me acostumei com a claridade estava em outro planeta, era realmente um planeta dentro de outro, tudo era diferente.

Parecia que eu estava dentro de uma grande bola de metal e estava um calor infernal, não havia nada nesse lugar além de metal e meu avô. Quando ele me viu veio ao meu encontro me abraçar e disse chorando:

– O que você está fazendo aqui Igor? Por que você veio até aqui?

Comecei a chorar:

– Eu vim ajudar você! Eu encontrei o mapa! Segui o que você pediu! Sabia que você tinha feito alguma descoberta genial! Vamos sair daqui e contar para o mundo meu avô! Você descobriu o centro da terra! – Disse isso puxando meu avô para gente poder ir embora.

– Se fosse fácil assim, meu neto, eu já teria ido embora! Eu pensei que você ia entregar o mapa para sua mãe e ela ia entender o que eu estava falando, era por isso que estávamos ali naquela casa, eu devia ter contado tudo direito para você, nunca ia imaginar que você ia vir atrás de mim! Acabei te fazendo ficar preso aqui comigo.

Abraço o meu avô desesperado dizendo:

– Quem sabe um dia alguém descobre esse lugar?

Ele responde preocupado:

– Quem sabe?


Ilustrador: Brendom Rodarte

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Meggue a rainha das Ratazanas

Era uma vez uma cachorrinha chamada Meggue. Ela era muito pequeninha e feia e se sentia rejeitada por isso, sempre quando apareciam outros cachorros, todo mundo fazia questão de apontar o quanto ela era feia e sem graça. Colocavam vários apelidos, zombavam das suas perninhas tortas e do seu tamanho. Meggue ficava muito chateada.

Existia uma pessoa que amava Meggue do jeito que ela era, sem colocar defeitos, essa pessoa era a sua dona Bianca. Ela era a única que achava a cachorra a coisa mais linda deste mundo, cuidava dela como se fosse uma princesa. Elas eram inseparáveis, mas Bianca sabia que Meggue se sentia muito deslocada neste mundo, até que um dia ela teve uma ideia genial para ajudar sua cachorrinha:

– E se a gente inventasse que você é uma rainha? – Disse Bianca toda eufórica para Meggue.

– Uma Rainha? Mas porquê? – Disse Meggue admirando sua dona. Ela amava todas as ideias de Bianca.

– Podemos dizer que você é de um reino distante! Por isso é diferente, entendeu? Aí todos iram respeitar você! O que acha?

Meggue toda alegre com a ideia responde:

-Acho que vai ser incrível! Quero ver quem vai se meter com uma rainha!

– Isso!!! Todo mundo respeita uma rainha!! Vamos já para o parque encontrar com os cachorros e espalhar a notícia?

– Vamos!!!

Elas foram animadas para o parque colocar em prática essa ideia. Chegando lá Bianca começou a espalhar uma fofoca para todos os cachorros que passavam, que Meggue era uma rainha, todos começaram a olhar para ela curiosos e com mais respeito. Alguns até pediram desculpas pelos insultos, outros trouxeram presentes para agradar a rainha e muitos cachorros tentaram se aproximar para fazer amizade.

A única cachorra que achou essa história estranha, foi a metida da Jorgete. Uma poodle que se achava a última bolacha do pacote, com seus pelos brancos sempre tosados e bonitos, e vivia implicando com Meggue. Ela já chegou no parque questionando:

– Você uma rainha? Mais de que reino você é? E onde estão seus súditos?

Bianca e Meggue se olham assustadas:

-Eles estão chegando!

– Eles estão em meu reino!

Disse Bianca e Meggue ao mesmo tempo.

Jorgete começa a gargalhar:

– Como? Não entendi, estão chegando ou estão no reino? E onde é esse reino?

Bianca e Meggue ficaram em silêncio.

– Estão vendo meus amigos, isso é tudo mentira! Como essa coisa esquisita seria uma rainha?

Enquanto Jorgete continuava debochando, Bianca avistou um grupo de ratazanas passando às escondidas no parque, ela teve outra ideia. Aproveitou que todos estavam distraídos, chegou perto das ratazanas e fez uma proposta:

– Vocês podem ajudar minha cachorrinha? Todos estão debochando por ela ser diferente! Por isso acabei inventando uma história que ela é rainha, mas ninguém acreditou! Será que vocês aceitam ser súditos da Meggue e chamá-la de rainha?

As ratazanas se olharam, concordaram e disseram:

– SIM!!! A GENTE ENTENDE COMO É SER DIFERENTE!

Bianca ficou muito feliz e agradecida, levou as ratazanas até Meggue e quando chegaram no meio dos cachorros elas gritaram:

– VIVA MEGGUE A RAINHA DAS RATAZANAS! QUEM OUSAR INCOMODAR A RAINHA TERÁ SUA CASA INFESTADA E COMIDA!

Todos os cachorros olharam assustados e se curvaram. Depois desse dia Meggue nunca mais foi desrespeitada e ficou conhecida como Meggue a rainha das ratazanas. Não permitiu nenhuma falta de respeito entre os cachorros ou com qualquer outro bicho.

E viveu feliz para sempre com sua dona Bianca.


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Casa de Brinquedos

Acordei meio tonto e sonolento, não lembrando onde estava, minha cabeça parecia que iria explodir de dor. Levei a mão na cabeça e senti que estava machucado e sangrando. Percebo que estou deitado, tudo estava muito escuro, vou tocando ao meu redor e parece que estou preso.

Não consigo me levantar, não consigo nem ao menos sentar, parece que estou dentro de uma caixa no tamanho ideal para o meu corpo, parece que estou dentro de um caixão. Começo a ficar desesperado até que escuto mais pessoas gritando:

– ME TIRA DAQUI!!!!

– SOCORRO!!!!!!!!

– ONDE ESTOU??

Reconheço todas as vozes, acho que essas pessoas eram os meus comparsas:

– VOCÊS ESTÃO BEM? JOSÉ, LUCAS E AMÉLIA!

– Eu estou bem Evandro, só minha perna que parece estar quebrada! Deve ter quebrado na queda – disse Amélia com uma voz bem fraca e chorando de dor.

– Como fomos presos aqui? – Disse Lucas assustado.

– Eu só me lembro de entrar na casa e cair em um buraco! – Disse José, tentando se lembrar dos acontecimentos.

Uma luz azul acendeu dentro do caixão, percebi que não era um caixão, parecia mais uma câmara de bronzeamento artificial. Tentei fazer força para fugir, mas ela não abria de jeito nenhum, não tinha nada para fazê-la abrir. Fiquei muito assustado e confuso:

– MAS QUE CASA É ESSA QUE VIEMOS ASSALTAR?

Quando terminei de falar escutei José gritar:

– SOCORRO! ME AJUDEM! TEM ALGUMA COISA FURANDO A MINHA PERNA!

Em sequência, Lucas e Amélia também pedindo por ajuda. Até que senti uma coisa parecendo uma ponta de furadeira saindo da câmara e que começou a girar e entrar na minha perna. Era uma dor insuportável, comecei a chorar e gritar de dor.

– PARAAA POR FAVOR!!! SOCORRO!!!!

Após algum tempo a ponta da furadeira parou, não sei dizer quanto tempo, mas pareceu uma eternidade. Saindo da minha perna tão devagarinho que quase me fez desmaiar de dor, deixando a câmara com sangue para todos os lados. Escuto José e Lucas ainda pedindo ajuda, mas não escuto mais Amélia.

– AMÉLIA!!!! VOCÊ ESTÁ BEM??? RESPONDE!!!

Comecei a sentir a câmara muito quente, estava ficando tão quente que era difícil ficar deitado. A minha pele começou a ficar vermelha, parecia um frango dentro de um forno. Começamos a pedir socorro novamente, mas os gritos do Lucas me deixaram assustados. Rapidamente ele se calou e não escutamos mais nada:

– LUCAS!!!!!!! RESPONDE CARA!!!!! POR FAVOR!!!!

A câmara parou de esquentar. Mas começou a pingar um líquido grosso e com um cheiro horrível do teto da câmara. Quando uma gota encostou na minha mão queimou tanto que abriu uma ferida enorme, parece que estava me corroendo. Achei que ia morrer de tanta dor, mas José gritou, gritou tanto que eu não conseguia mais escutar. Tentei sair da câmara de todos os jeitos para ajuda- ló, mas ele se calou e eu já percebi o que tinha acontecido:

– JOSÉ!!!!! POR FAVOR!!!!! RESPONDE!!!!

Estava sozinho neste lugar, não tinha mais ninguém comigo, eu só queria que acabasse logo, não aguentava mais ser torturado. A câmara começou a se abrir lentamente, quando estava toda aberta eu fui me levantando aos poucos e com muita dificuldade consegui me sentar na beirada, vi os corpos dos meus comparsas todos deformados. Comecei a chorar, agora eu tinha mesmo certeza de que estavam todos mortos.

Bem na minha frente, sentado em uma cadeira, com um controle na mão, se encontrava um menino, que deveria ter uns dez ou onze anos, ele sorri dizendo:

– Ninguém nunca ensinou para vocês não entrarem na casa de estranhos? Para tomar cuidado onde pisam? Pode ser que um dia entrem em uma casa com armadilhas.

Eu não conseguia responder, não conseguia acreditar que uma criança tinha feito isso tudo. José que estava vigiando a casa para gente assaltar, sabíamos que a família era rica, e também sabíamos que essa criança ficava sozinha. Agora eu entendi o porquê.

– O gato comeu sua língua? Não se preocupe eu vou deixar você ir embora, se você prometer nunca mais voltar aqui, Promete?

Respondo sem ao menos pensar:

– Prometo!

 O menino sorri e uma porta abriu atrás de mim, juntei todas as forças que eu tinha e me arrastei até a porta para sair rápido daquela casa.

E não era uma saída.

Entrei uma sala muito grande, colorida e iluminada. Havia várias outras pessoas que pareciam também ter sido torturadas, mas nenhuma tinha machucados parecidos com o dos outros. Na parede, uma pichação enorme em vermelho: “CASA DE BRINQUEDOS”


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Mais um apocalipse

Estava sentado em minha sala, encarando o relatório com o resultado positivo do teste da vacina em minhas mãos. Levanto correndo para dar a notícia aos meus amigos de trabalho:

– Não acredito que conseguimos! Conseguimos a vacina! Ela já está pronta para ser aplicada nas pessoas!

Todos os pesquisadores começaram a comemorar depois dessa notícia, era um avanço muito grande para ciência conseguir uma vacina tão rápido. Não demorou muito tempo para essa notícia se espalhar em todos os jornais do país, e todo mundo começar a comemorar pela vacina.

Uma semana depois a vacina já estava sendo distribuída em hospitais e postos de saúde, mas nós os pesquisadores que encontramos a cura decidimos tomar a vacina primeiro e transmitir esse evento em rede nacional.

Os repórteres chegaram no centro de pesquisa filmando o nosso dia como se fosse um reality, mostrando como cada passo para achar a cura foi feito, os processos, a pesquisa até que finalmente chegou a hora da vacina.

Como eu era o líder da pesquisa, fiquei encarregado de começar a vacinar meus colegas de trabalho. Comecei a aplicar a vacina e quando todos tomaram, expliquei que fizemos isso para garantir que a vacina não traria problemas para as pessoas.

Surgiram várias perguntas dos repórteres e fomos respondendo, quando chegou a minha hora de tomar a vacina percebi que meus colegas estavam ficando com uma cor estranha, estavam ficando meio verdes, do nada caíram no chão e começaram a se contorcer. Percebi que em alguns surgiram rabos, outros começaram a aparecer escamas e dentes afiados.

Totalmente assustado, percebi que meus amigos tinham virado jacarés. Mas eram jacarés diferentes, eles conseguiam andar feito humanos e quando atacaram um repórter ele também acabou virando um jacaré. Isso foi se espalhando, a cada pessoa que os jacarés atacavam no centro de pesquisa, surgia outro jacaré.

Pensei em fugir do centro para tentar avisar as pessoas que a vacina estava fora de controle, mas me lembrei que estávamos sendo filmados. Corri para a primeira câmera que encontrei e disse:

– A VACINA DEU ERRADO! TODOS ESTÃO SE TRANSFORMANDO EM JACARÉS! NÃO SAIAM DE ….

Um dos jacarés destrói a câmera e sai correndo desesperadamente. Quando consegui sair do laboratório me deparei com mais jacarés. Alguns já tinham fugido do centro e estavam contaminando as pessoas do lado de fora, surgiam cada vez mais jacarés famintos e enfurecidos atacando outras pessoas. Tentei correr e me esconder o máximo que eu consegui, mas algum jacaré conseguiu me seguir. Me pegou e começou a comer a minha perna, apaguei de dor.

Acordei sentado na minha sala, segurando o teste positivo da vacina em minhas mãos.

– Mas que sonho esquisito foi esse?

 Acabei pegando no sono extava exausto após tanto tempo trabalhando para encontrar a cura. Levantei e fui contar a notícia boa para os meus colegas de trabalho, e contar também essa loucura de sonho.

– Jacarés? HAHAHAHA quem é o louco de achar que uma vacina pode fazer você virar um Jacaré? Achava que nem em sonho seria possível.


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Um conto de marionetes

– Lucas não é assim que se fala, você não deve brincar desse jeito, não deve se vestir desse jeito, você é estranho, porque você não é igual a todo mundo?

Essas foram as conversas que o avô de Lucas escutou do seu neto brincando com o vizinho o dia todo. O velhinho sentou e ficou observando como o seu neto deixava de ser quem ele era com esse garoto, fazia tudo que ele queria, conseguia controlar Lucas em todas as suas atitudes.

Assim que o vizinho foi embora o avô chamou o neto para conversar:

– Lucas meu querido neto, venha tomar um café com o seu avô, está muito frio lá fora, venha se aquecer!

Lucas amava seu avô, adorava sentar com ele para tomar um café e jogar conversa fora:

– Temos bolo vô? Vou adorar tomar um café com bolo, está mesmo muito frio lá fora.

– É claro que temos bolo, e de milho ainda, o seu preferido!

– Eu amo muito bolo de milho! O Jorginho fala que sou esquisito, meu gosto é esquisito, as vezes acho que ele tem razão!

O velhinho percebe que o neto está mesmo chateado e resolve concertar essa situação:

– Não liga para o Jorginho! Vamos esquecer isso! Sabe o que combina com café, bolo e frio?

O menino pergunta empolgado:

– O que vô?

– UMA HISTÓRIA!!!! Vou contar para você uma historinha sobre uma marionete!

O menino chega mais perto para escutar e o avô começa a contar a história:

“Era uma vez uma marionete que queria ser gente. Ela sabia que para ser gente ela tinha que ser livre, mas não sabia como conseguir isso, pois era uma marionete e tinha que fazer tudo que o seu dono queria. O seu dono comandava todas as suas ações, como falar, o jeito de andar, vestir, calçar. A marionete não tinha vontades, desejos ou personalidade, tudo era feito pelo seu dono.

Até que um dia ela recebeu uma visita de uma fada dizendo que seu tempo estava acabando, se ela não conseguisse ser livre até meia noite, seria uma marionete para sempre.

A marionete queria muito ser gente, não queria viver assim para sempre, como um boneco de madeira e começou a reparar que além de ser de madeira, ela tinha cordas amarradas em todas as partes do seu corpo. Anos vivendo como marionete e tinha esquecido disso. Ela resolveu cortar as suas cordas e fugir do seu dono para ser livre, mas quando as cortou, uma magia envolveu todo o seu corpo, transformando a marionete em um menino.

Foi assim que a marionete percebeu que para ser livre ela tinha que cortar as cordas, que fazia o seu dono comandar suas ações, agora ela era livre para fazer as coisas do jeito que quiser. E virou um menino, suas ações agora dependiam só dele, mas as marcas das cordas amarradas em seu corpo nunca desapareceriam, para ele se lembrar de nunca mais querer ser uma marionete. ”

O avô terminou a história e disse sorrindo:

– Espero que tenha gostado da história, como gostou desse bolo.

O menino responde comendo seu quinto pedaço:

-Eu amei vô! Mas agora acho que vou sair para brincar mais um pouco.

O menino sai correndo para fora da casa e o velhinho escuta a conversa dele e o vizinho novamente:

– EI JORGINHO! EU SÓ VIM AQUI PARA DIZER QUE ESTOU CORTANDO AS MINHAS CORDAS OK? EU NÃO VOU SER UMA MARIONETE! EU VOU FAZER O QUE EU QUISER!

Ele sorri satisfeito com a atitude do seu neto, levanta as mangas da sua blusa e olha para suas marcas. Refletindo, o velho começa a gargalhar e as palavras fogem de sua boca:

-HAHAHAHA! Como é bom ser humano!


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Siwsi

Estava sentada na recepção do hospital há horas esperando notícias da minha avó, sabia que no estado grave em que ela se encontrava não tinha mais o que fazer, mas queria pelo menos ficar um pouco com ela. Vou sentir muita falta da minha velhinha.

Vejo um médico se aproximando e meu coração já dispara:

– Você que é a neta de dona Iracema?

Respondo assustada:

– Sou sim, ela está bem?

– Está sim, ela quer ver você! Ela só fala em você o tempo todo e em como seu nome é importante para ela.

– Ah, meu nome! Já escutei essa história a minha vida inteira.

Respondo acompanhando o médico até o quarto em que minha avó estava internada. Minha avó já não era mais a mesma que eu conhecia, estava tão magrinha, parecia que tinha encolhido e virado uma criança deitada na cama:

– Siwsi! Que felicidade em ver você minha neta! Chega mais perto da sua avó, você está tão linda!

– Meu pai disse que queria me ver! A senhora não vai mesmo voltar para casa?

Faço essa pergunta me aproximando dela com meus olhos cheios de lágrimas. Ela segura firme a minha mão e diz:

– Minha querida neta, minha hora já chegou e estou conformada com isso. Só preciso de um último favor seu para descansar em paz, preciso que você descubra o significado do seu nome!

– Significado do meu nome? Porque a senhora gosta tanto do meu nome? O que ele tem de tão importante?

Ela percebe a minha inquietação e segura mais forte a minha mão:

– É só um pedido minha querida, por favor, me prometa que vai descobrir?

– Sim vó, prometo! Mas onde vou descobrir? Não acho nada do meu nome em lugar nenhum.

– No meu quintal mora uma Arara, vá até lá e pergunte para ela!

Me levanto, me despeço da minha avó e saio do hospital conturbada pensando que ela só pode estar ficando louca em seu estado terminal. Entro no carro e dirijo sem saber se realmente deveria fazer isso, conversar com uma Arara já seria demais, ainda mais porque eu nunca tinha visto uma Arara no quintal da minha avó. Essa história estava muito estranha.

Chegando lá vou direto para o quintal e não vejo nada. Quando penso que minha avó estava realmente ficando doida alguma coisa me chama pelo nome:

– Siwsiiiiii! Swisiiiiii! Swsiiiiiiiii!

Olho para trás e vejo um grande pássaro azul pousado em um galho de uma árvore:

– Meu deus tem uma Arara mesmo aqui!

Ela começa a falar comigo como se fosse um papagaio:

– Arara aqui tem sim! Arara aqui tem sim!

– Qual é o significado do meu nome Arara?

– Brilha no céu! Brilha no céu! Brilha no céu!

– Brilha no céu? O que isso significa Arara? Achei que você ia me dar uma resposta completa!

A Arara continuou repetindo “brilha no céu” por um bom tempo. De repente ela começou a gritar mais alto e mais rápido e então olhei para o céu, nem tinha percebido que já era noite. Finalmente veio uma ideia na minha cabeça e acabei dizendo:

-ESTRELA! É ISSO QUE MEU NOME SIGNIFICA!

Quando eu disse isso começou a ventar muito forte e surgiu uma grande estrela no céu. Fiquei maravilhada, era a coisa mais linda que eu já tinha visto. Agradeci a Arara e sai correndo para o hospital. Chegando no quarto da minha avó me deparo com o médico desligando seus aparelhos:

– Sinto muito, ela não conseguiu mais ficar acordada por muito tempo, mas deixou esse bilhete para você.

Pego o bilhete e começo a ler me debulhando em lágrimas:

“Meus ancestrais diziam que se houver uma ligação forte o suficiente entre uma avó e uma neta, basta elas saberem o verdadeiro significado do nome da neta para que, no seu momento final, a avó se torne aquilo que deveria ser depois desta vida.

 Obrigada por me transformar em uma estrela. Sempre cuidarei de você aqui do céu minha indiazinha.”

Saio correndo para fora do hospital e vejo a estrela lá no céu brilhando lindamente, era a minha avó, olhando para mim aqui na terra. Entro no carro e volto para casa feliz, porque agora sei que sempre estaremos juntas, basta olhar para o céu.


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A Verdadeira História do Natal

– Já são quase meia noite! Já são quase meia noite!

James estava parado em frente ao grande relógio da sua sala torcendo para chegar a meia noite. Finalmente poderia ver o Papai Noel entregar os seus presentes.

– Filho! Está na hora de ir dormir!

– Eu não quero dormir mãe! Este ano eu quero esperar os meus presentes!

– Você sabe que crianças desobedientes não ganham presentes, né? Vai dormir agora James!

Ele sobe as escadas revoltado com a atitude da mãe, deita-se em sua cama e finge que está dormindo. Quando a casa finalmente fica toda silenciosa James pega sua lanterna, desce as escadas e fica escondido atrás da árvore de natal. Perto da chaminé, ao lado do grande relógio na sala.

Assim que bateram as badalas da meia noite ele escutou um barulho vindo da chaminé. Parecia alguma coisa se mexendo, como se fosse um ratinho correndo, mas ele olhou para dentro da chaminé e havia um duende vestido com umas roupas vermelhas. Quando saiu da chaminé a criatura se transformou no papai Noel;

– SANTO PIRULITINHO! O PAPAI NOEL EXISTE MESMO!

James não conseguiu conter sua empolgação e saiu de detrás da árvore. Foi correndo abraçar o papai Noel:

– Você existe, você existe! E é igual nas histórias, velhinho, gordinho e fofinho! E ainda trouxe os meus presentes, já posso abrir?

– Ainda não minha criança! Primeiro preciso saber se você foi um bom menino.

– É claro que eu fui! Eu sou sempre um bom menino, nunca desobedeci meus pais, nunca fiz nada escondido, nunca contei mentiras…

Enquanto James tagarelava sem parar, o Papai Noel pegou um fio do seu cabelo, colocou na boca e começou a mastigar. De repente ele começa a se transformar em uma coisa medonha, começou a crescer, praticamente dobrou de tamanho. Seu gorro se solta de sua cabeça enorme. Seu cabelo e sua barba se enrolaram e formaram um par de chifres. Sua pele começou a ficar verde e enrugada. A bolinha da ponta do gorro bate no chão e James finalmente se dá conta de que aquilo na sua frente não era mais o Papai Noel. Ele grita por socorro, assustado, e saí correndo pela casa;

-SOCORRO!!!! MÃE PAI!!!! ME AJUDA!!!!!!

– Ninguém vai ajudar criança! Você foi um mau menino, por isso estou desta forma, agora você é meu!

O Papai Noel pega James e o coloca dentro do saco de presentes. O monstro amarra a boca do saco e James não é capaz de enxergar nada lá dentro. Ele se debate e esbarra em várias coisas. Escuta alguns gemidos, como se estivessem reclamando de ter batido neles. James grita:

– Me tira daqui seu monstro! Para onde está me levando? E quem pediu tantos bonecos de presente?

O menino sente que o saco foi levantado e o monstro o estava carregando. Depois de horas dentro do saco, o monstro finalmente começa a balançá-lo e jogar tudo para fora. James cai assustado, seus olhos que haviam se acostumado à escuridão ficam ofuscados com tanta luz. Ele observa ao redor e nota que todos aqueles bonecos eram na verdade crianças, e eles haviam sido jogados no chão de uma fábrica de brinquedos. No lugar já haviam mais crianças e elas estavam trabalhando.

– Ho Ho Ho! Sejam bem-vindas crianças, aqui agora é o seu lar! Nunca mais poderão ver os seus pais! Já que são más crianças, que comecem a trabalhar!

O papai Noel não era mais um demônio e mesmo assim começou a chicotear as crianças, fazendo elas trabalharem. James ficou em choque pensando que todas as histórias que ele conhecia sobre o Natal eram mentiras e que talvez esta seja a verdadeira e se arrependeu de ser uma criança má. O papai Noel grita:

– Onde está o último menino?

Todas as outras crianças apontam na direção de James. Ele então percebe que todas elas tinham a boca costurada, era por isso que não falaram nada quando ele caiu em cima delas no saco.

– Ho Ho Ho! Aí está você! Não tivemos tempo na sua casa, está na hora de terminar o meu serviço.


Gostaria de dedicar esse conto para meu namorado Thiago Fernandes pelo incentivo em criar minhas histórias e a paciência para ler e corrigir todas, obrigada meu editor. Para minha irmã que iniciou o blog comigo, Brendom Rodarte que continuo com essas ilustrações maravilhosas aceitando minhas ideias malucas de conto, ao Dimitri Vieira com seu curso incrível de ”Escrita Criativa e Storytelling” que me fez reconhecer como escritora, conheci pessoas inspiradoras com a criação da comunidade do curso e ainda me incentivou a ter meu próprio blog.

Para Eduardo Lopes e Vanessa Cioffi que não me deixaram desistir quando comecei a publicar os contos e estava com dúvidas se deveria continuar. Tenho que agradecer muito Giselli Serra e minhas amigas da faculdade Tatiane Machado e Bruna Luiza que não perdem um conto e o Erivaldo Carneiro que sempre compartilha minhas histórias. Ao carinho e aprendizado de sempre do Thiago Dalleck, Maicon Moura, Marinella Souza, Mario Mello, Esdras Pereira, Nilce Alves e Thayanne Lima, obrigada por tudo.

Não poderia deixar de agradecer você leitor por chegar até aqui comigo, agradeço muito por acompanhar meu trabalho. Vocês estão realizando meu sonho de ser uma ”contadora de histórias”.

Obrigada a todos vocês!


Ilustrador: Brendom Rodarte

Escritora: Nathália Santos

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Destinados a se encontrar

Estamos fugindo pela floresta há horas a procura de um local seguro para esconder minha mulher e o bebê que estava por vir. Olho para trás e percebo que Megan está no chão gritando de dor por causa das contrações:

–  Megan! Temos que andar mais depressa, se não eles vão acabar nos alcançando.

Tento ajudá-la a se levantar e ela responde chorando de dor:

– Eu não consigo andar por muito tempo mais, vou acabar ganhando essa criança!

– No meio da floresta não podemos ter essa criança, é muito perigoso e fácil demais para nos descobrirem!

Ela se levanta com muita dificuldade e começamos a caminhar. Por sorte, avisto um celeiro logo à nossa frente.

-Vamos nos esconder lá dentro Megan! Ninguém nunca irá desconfiar, poderemos ter o nosso filho em paz.

Ela não conseguia mais responder, estava muito fraca, só sinalizava com a cabeça concordando. A levo bem depressa para dentro do celeiro e a coloco deitada no chão bem delicadamente, corro para fechar porta e começo a ajudá-la a ter nosso filho:

-Megan meu amor, você vai ter que ser forte agora, faça força!

Ela segura a minha mão e grita de dor fazendo toda a força possível:

– Agora respira! Isso meu amor! Agora vamos, faça força mais uma vez!

Megan continua fazendo força e nada acontece, até que ela começa a olhar para a barriga e gritar desesperada:

– ELE ESTÁ ME COMENTO POR DENTRO! ESTÁ ABRINDO MINHA BARRIGA! SOCORRO!!!

Rasgo o seu vestido e vejo que a sua barriga está se mexendo como se alguma coisa quisesse sair. Fico paralisado sem saber o que fazer, Megan gritando enlouquecida de dor. A coisa realmente começou a sair, rasgando sua barriga ao meio. Percebo que Megan está morrendo:

-Meu amor por favor não me deixe, não sabia que isso poderia acontecer! Me desculpa!

Beijo sua testa e vejo que Megan já está morta. Quando olho para sua barriga, que já estava toda aberta, nasceu uma coisa que nem em outro planeta seria um bebê. Era pequeno, parecia um filhote de gato misturado com morcego, tinha pelos pelo corpo, asas bem pequenas e pequenos chifres na cabeça.

Ele olha para mim e sorri dizendo:

-PAPAI! – Esticando os bracinhos para ser carregado.

Saio de perto gritando desesperado, até que a porta do celeiro se abre, entrando meu pai, o rei do inferno e seu exército de demônios:

– Até que enfim eu achei você meu filho! Pensou que ia conseguir fugir por quanto tempo? Vejo que o meu neto já nasceu.

A coisa estica os bracinhos e meu pai o carrega fazendo cosquinhas em sua barriga.

Respondo indignando:

– Essa criatura não é meu filho!

Meu pai e a coisa começam a gargalhar e ele responde:

– É claro que é! Você acha que uma mistura de um demônio e uma humana daria em quê? Uma linda criancinha?

 Ele fala isso olhando para seu exército e todos morrem de rir.

– Vocês foram condenados meu filho, isso nunca poderia acontecer. Você é um demônio ou já se esqueceu disso Belial?

Respondo olhando para o corpo de Megan destroçado ao chão:

– Eu me esqueci no dia que a conheci, eu a amei tanto, tentei escondê-la de você, porque você nunca aceitaria o nosso amor.

Meu pai começa a gargalhar novamente:

–          Meu filho, eu sempre aceitei. Tudo o que fazia é parte da profecia:

“Um filho fugirá de casa e encontrará o amor da sua vida. O filho das trevas nascerá na terra da mesma forma que o filho da luz.”

Pode se orgulhar, você fez tudo o que o seu pai mais queria.

Fico horrorizado e respondo:

– Você me usou? Me deixou ir para a terra de propósito?

Ele me puxa pelo ombro e fala todo animado:

-Para de se lamentar meu filho, vamos para casa comemorar! QUE COMEÇE O FIM DOS TEMPOS!

Seu exército responde:

– VIVA O FILHO DAS TREVAS!


Ilustrador: Brendom Rodarte

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Abstinência

Não aguentava mais sentir essa inquietação, ansiedade, desorientação, alucinação e náuseas porque não conseguia mais manter meu vício.  Tudo o que eu tinha já vendi, moro em um apartamento com minha esposa e um amigo, sem nada.  Achamos melhor dormir no chão, ficar sem comer e vestir porque qualquer coisa que a gente conseguir é melhor satisfazer o vício.

Estamos mais doentes a cada dia, não aguento mais ficar um dia sem, não aguento mais ficar nesse mundo sem isso, precisamos dar um jeito. Respirei fundo, tomei atitude e disse à minha esposa e amigo:

– Vamos gente! Levantem! Vamos sair desse apartamento e dar um jeito de obter o que é nosso!

Minha esposa bem fraca responde:

– Como? Não temos mais grana nem o que vender, não sei mais o que podemos fazer!

Meu amigo retruca:

– Você está pensando em fazer o que, Lucca? Eu topo qualquer ideia, não aguento mais viver desse jeito, só com vontade.

-Vamos invadir aquele lugar, tomar para gente e usar da forma que a gente quiser! Estão comigo Lara e Roger?

Roger se levanta dizendo que sim, mas Lara ainda questiona:

-Como você está pensando em fazer isso? Vamos só chegar lá e invadir?

– Por que não? Gente! Acorda! Estamos esquecendo que quem toma conta é um velhote! Fomos burros demais em gastar tudo, já devíamos ter feito isso a muito tempo.

– Não é que você tem razão! Estamos aqui sofrendo à toa – Lara disse concordando.

– Então vamos pessoal!

Assim que eu disse isso, Lara e Roger se levantaram e começaram a me seguir bem empolgados, esquecendo até das dores e todo o resto que estávamos sentindo, prontos para realizar o nosso novo objetivo e satisfazer nosso vício.

Chegando ao local já fomos entrando na loja, quebrando os vidros e jogando coisas no chão, colocando medo no velho e mostrando que era a gente quem mandava no lugar agora. Prendemos ele em um quartinho nos fundos, pegamos um papel, escrevemos “aberto” e colocamos na porta do Fliperama.

Não demorou muito para aparecerem pessoas como a gente, loucas por esses jogos. Aqui era o único lugar que ainda existiam jogos assim em 2030, esse velho roubava o nosso dinheiro todo cobrando um absurdo por cada partida. Agora é tudo nosso, e vamos deixar livre para quem quiser jogar, na hora que quiser jogar.

Depois de um tempo jogando, olho para minha esposa e meu amigo e vejo o quanto eles estão felizes e satisfeitos, depois de várias partidas de Mortal Kombat, eu já não aguentava mais jogar Pac-Man. Percebemos que estávamos curados, nem precisávamos mais jogar.

Acho que no final, era tudo culpa do velho. Ele que ofereceu para milhares de jovens a oportunidade de jogar esses jogos, manipulando e incentivando para que todos ficassem viciados, cobrando cada dia mais caro uma nova partida.

Resolvo ir ao quartinho e perguntar para ele o porquê disso tudo:

– Seu velho de merda! Por que estava manipulando a gente? Você percebeu quantas vidas você estragou?

O velho responde sendo sarcástico:

– Sim! A culpa não é minha por vocês serem tão influenciáveis, este é só o meu trabalho.

Nem consigo responder, fecho a porta do quarto, chamo minha esposa e meu amigo para ir embora e aviso para todos que o velho está no quartinho dos fundos. Não precisamos mais de pessoas assim nesse mundo, mas que o povo faça a sua justiça.


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Eu Acredito em Fadas

Era uma vez um menininho que chamava João, ele morava com sua avó Matilde, uma velinha simpática que tinha uma loja de flores perto de uma floresta, longe da cidade. João cresceu escutando histórias da sua avó que suas flores eram cuidadas por fadas, mas ele nunca acreditou.

Até que um dia, ele estava sentado no fundo da loja da sua avó e percebeu um inseto estranho voando pelas flores. Era muito pequeno, do tamanho de mosquito, mas não parecia um mosquito, e ao invés de zunir, João escutou um canto:

Se não acredita em fadas,

Acredita em confusão

Irrite uma fadinha,

ELAS ADORAM MORDER UM DEDÃO”

João foi se aproximando devagarinho, e quando chegou bem perto, segurou o inseto estranho na mão, quando viu que não era um inseto, era uma pessoa bem pequenininha:

– Será que isso é uma fada?

 O inseto voou e travou o dente no seu dedão e depois disse:

– É claro que sou uma fada! E se não acredita, então eu vou morder seu dedão!

Ele pega um copo correndo e prende a fada dentro dizendo:

– Como você pode ser uma fada? Eu nunca pensei que fadas fossem assim tão feias!

A fada fica muito brava e tenta quebrar o copo para sair, mas ela era tão pequena que o objeto nem se mexia do lugar. E tadinha, a fada era mesmo uma coisinha muito feia, até parecia uma pessoa, mas seus olhos eram muito grandes como os de uma mosca e com asas também, seu corpo era cabeludo igual uma tarântula.

– Olha aqui, seu menino mimado! Feia é sua avó! Eu sou uma fada sim e se não acredita, já disse o que vou fazer!

-Então se você é uma fada, onde está sua varinha?

– Olha menino chato, pelo jeito você lê contos de fadas demais, não é? Eu não preciso de varinha, minha magia está nas flores. É por isso que eu vivo aqui!

João retruca a fada novamente:

– Eu não acredito nisso! Então vou soltar você, quero ver essa magia.

Ele solta a fada do vidro e ela já vai direto morder o seu dedão:

– Ficou doida! O que eu disse agora?

Ela responde muito brava:

– VOCÊ DISSE NOVAMENTE QUE NÃO ACREDITAVA! PARA COM ISSO! VOCÊ VAI SE ARREPENDER!

– Eu vou me arrepender? O que você vai fazer? Você é essa coisinha feia e minúscula, não vai conseguir fazer nada além de dar umas mordidas no meu dedão.

A fada dá seu último aviso para João, que não queria mesmo acreditar.

– Eu estou avisando, menino! Sou uma fada e não preciso provar nada para ninguém.

João volta a repetir:

– Eu não acredito!

A fada voa e agarra o dedão do João mais uma vez, só que dessa vez ele não sentiu só dor. Começou a sentir seu corpo mudando, ele estava crescendo, de uma forma desproporcional, seu corpo agora estava com pelos e acabou virando um gigante horrendo.

– O QUE VOCÊ FEZ COMIGO? PORQUE ME TRANSFORMOU EM UM GIGANTE?

Ela responde agora mais calma:

– Você não é um gigante, agora você é um troll! Eu avisei para você acreditar em mim, é isso que acontece se você não acredita em uma fada. Toda vez que você fala que não acredita, nosso corpo instintivamente é guiado para morder seu dedão, e depois de três mordidas você é amaldiçoado para ser uma criatura mágica. Você deu o azar de a sua ser um troll.

João começa a chorar desesperado:

– E agora fada? Como vou para casa? Como vou viver desse jeito?

A fada respondeu com muita delicadeza:

– Agora você é um ser magico assim como eu. Sei como é difícil alguém acreditar, por isso, de agora em diante, você vai para floresta e quem irá cuidar de você sou eu.

O menino inconformado e sem saber o que fazer, acaba concordando com a fada e a segue pelos fundos da loja em direção a floresta:

– E agora João, você acredita em fadas?

– Acredito!

Disse João agora tão rápido que nem pensou para responder.


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OS Esquecidos

Estou preso aqui há mais de 20 anos e nunca me deparei com essa prisão tão quieta. Não vejo mais os guardas, carcereiros, faxineiros ou visitantes. O pessoal da limpeza só pode ter sido demitido pois o cheiro das celas já está insuportável. Não abrem mais as celas para levar a gente para comer, não consigo sentir nem o cheiro da comida, acho que nem os cozinheiros estão mais aqui.

Parece que fomos abandonados e o motivo ninguém sabe. Os dias foram se passando, a fome estava apertando. Escutava meu colega de cela gritando por socorro, tentando quebrar a porta para sair, os outros presos fazendo a mesma coisa e nada de aparecer alguém para ajudar.

Até que um dia, na madrugada, escutei um barulho. Acordei com milhares de presos correndo livres pelos corredores, meu amigo de cela, Wilson, parado me esperando:

– Acorda Michael!! Vamos lá ver o que está acontecendo?

Levanto apressado e o único lugar que eu penso em ir é direto para cozinha. Chegando lá vejo os presos revoltados, não tinha comida! Levaram tudo embora. Eu fico horrorizado e começo a me sentir mal, estava muito sonolento por causa da falta de comida e acabo me encostando em um canto da cozinha, quando Wilson se aproxima e diz:

– Vamos sair daqui! Isso aqui vai virar uma bagunça, eles estão com muita raiva, vai acabar um descontando no outro.

Concordo com Wilson e me levanto para acompanhá-lo. Começo a seguir ele e percebo que estamos indo na direção oposta da saída, acabamos parando na sala de segurança.

-Vamos procurar alguma coisa aqui Michael! Quem sabe a gente consegue saber o que está acontecendo?

Começamos a revirar a sala e depois de muito tempo achamos vários jornais com notícias dizendo que um vírus estava se espalhando e matando pessoas no mundo, várias cidades foram abandonadas e o pior de tudo, o governo iria lançar um decreto para que as prisões fossem deixadas de lado, porque não tinha recursos para cuidar ou transportar os presos caso acontecesse alguma coisa.

– ENTÃO FOMOS DEIXADOS PARA MORRER!

Falo isso para ele, gastando todas as forças que eu ainda tinha, e começo a ficar sonolento outra vez. Acabo apagando ali mesmo.

Quando eu acordo, ainda estou na sala de segurança, e vejo que Wilson está assustado e coberto de sangue:

– O que está acontecendo? Quanto tempo eu dormi?

– Você dormiu por uns dias Michael, mas não sei mais a contagem dos dias, a prisão está uma loucura, eu estou ficando louco, eu precisava comer, Michael! Uma hora você vai ter que comer também!

Eu tento responder, mas apago novamente.

Acordo dessa vez com Wilson me chamando, vejo que ele está coberto de sangue até a cabeça, olho para o chão e só tem sangue. Ele enfia um pedaço de carne na minha boca;

– Você precisa comer Michael! Vai acabar morrendo!

Começo a comer aquela carne sem nem ao menos saber de onde veio, quando eu já estava bem cheio começo a apagar novamente, meu corpo já não estava mais acostumado com tanta comida e a última coisa que eu me lembro é ter visto era algo no chão que parecia muito ser um braço humano.

Dessa vez eu acordo sozinho, mas me sentindo melhor, e percebo que estou todo coberto de sangue, olho para o lado e vejo uma pilha de pedaços de corpos. Começo a tremer, e uma chuva de lembranças surge em minha cabeça. Wilson matando pessoas, eu atacando pessoas, dilacerando pessoas para comer. Começo a ficar desesperado, será que eu nunca apaguei? Sempre estive aqui? Há quanto tempo já estou fazendo isso?

Saio correndo desesperado da sala de segurança e acabo encontrando um outro preso no corredor, que me agarra e me prende pelo pescoço contra a parede. Vejo que ele estava tão desesperado quanto eu;

– O que está acontecendo? – Pergunto com a voz rouca, estava com dificuldade para falar.

Ele responde:

– Olha se não é o famoso Michael, “o esquartejador”. Agora todos somos iguais aqui, um ano sem comida, viramos animais!

– Onde está o meu colega de cela?

– Colega? – o preso começa a gargalhar. – Você está há 20 anos na solitária! Será que o grande Michael tem um amiguinho imaginário?

Fico paralisado. Me recordo de tudo, desde o dia que fui preso. Até que os 20 anos não tinham sido tão ruins com a companhia do Wilson, mas era tudo na minha cabeça. O preso interrompe meu devaneio, a sua expressão agora aterrorizante, parecia um predador:

– A única coisa que eu quero é sobreviver e só tem um jeito, você sabe como? Comendo para não morrer de fome!

Apaguei novamente, dessa vez por falta de ar. Acordei com uma dor insuportável na minha coxa esquerda. Percebi que ele estava me comendo aos poucos, mas me mantendo vivo para a carne durar mais tempo. Os próximos dias seriam mais longos para mim do que os últimos 20 anos.


Ilustrador: Brendom Rodarte

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O artista do ano

Querido leitor,

Você acaba de ser premiado! Está prestes a ler a história mais incrível da sua vida!

Meu nome é Henry Longbottom e gostaria de contar para vocês uma história. Primeiramente você sabia que existe uma sociedade de artistas que atua no mundo inteiro? Buscamos recriar o “Renascimento” na sociedade moderna. Temos conosco os melhores artistas do mundo, e em cada lugar vocês nos dão um nome, pois estamos sempre envolvidos nos eventos mais polêmicos do mundo.

Os encontros da sociedade acontecem de cinco em cinco meses, em diversos locais, é claro! Não queremos que nos encontrem assim tão fácil, mas sempre deixamos uma pequena pista no final, para saberem que dessa vez o evento aconteceu ali.

Ficamos orgulhosos quando as nossas criações viram notícia e vocês criam até nomes para nós, de acordo com o nosso padrão. É como se cada nova obra fosse parte de uma exibição, mas vocês realmente acham que aquele nome define o nosso trabalho? Isso só faz com que nos sintamos muito importantes e com vontade de a cada dia mostrar mais o nosso trabalho. Na verdade, vocês não sabem de nada.

Voltando para o assunto, estava só introduzindo vocês ao nosso mundo, a história que quero contar é sobre como eu tentei me tornar o artista do ano dessa vez. Todo ano escolhemos alguém para esse prêmio, com direito a um baile e um banquete esplêndido. O título é entregue para quem fizer o melhor trabalho durante o ano, o mais inovador, o mais criativo.

Eu nunca consegui ganhar esse prêmio, confesso que minhas técnicas estão bem ultrapassadas e não sou nada criativo. Então, depois de muitos anos tentando e nunca saindo do lugar, esse ano resolvi fazer uma coisa diferente: Primeiro, no dia da votação, convidei o jurado principal do evento para um almoço na minha casa. Era apenas um evento para nós dois, mas ainda assim preparei uma refeição digna dos deuses. Depois de vários pratos, finalmente servi a sobremesa, o meu bolo de frutas vermelhas, e deixei para servir na sua frente a minha calda especial de chocolate. O meu ingrediente especial é um sonífero que faz o privilegiado convidado dormir em apenas 3 segundos. Assim que ele dormiu o levei para o freezer, onde aguardaria até o “grand finale”.

Peguei o seu celular e mandei uma mensagem para a alta cúpula da sociedade, dizendo que a comida do jantar principal do evento de seleção deste ano seria feita pelo Henry Longbotton, (eu, no caso) e que tinha decidido isso de última hora. O cozinheiro do prato principal era sempre alguém escolhido entre os membros.

Então comecei a trabalhar na minha obra derradeira. Pendurei o corpo do jurado em um gancho no meu abatedouro e com uma faca bem afiada fiz um corte sobre os ossos da coluna, aos poucos fui cortando as carnes que estavam perto dos ossos, tirando a pele e os outros órgãos, deixando apenas as melhores partes para fazer um belo “Steak tartare”.

Chegando no evento, na hora do jantar, servi a todos dizendo que era uma receita de família, os pratos estavam magníficos. Fiz questão que todos comessem antes de se iniciar a votação para o artista do ano. Recebi vários elogios (era isso que eu esperava) e me pediram até a receita, mas disse que ainda não podia contar o segredo do prato. Logo antes de se iniciar a votação, subi ao palco e contei o meu feito:

– O que acharam do prato principal desta noite? Este é o meu prato especial, com carne fresca do Sr. Lestrange.

Achei que isso já ia me fazer levar o troféu do ano para casa, mas todos começaram a gritar e me xingar dizendo que só o que eu fiz foi copiar o maior artista de todos os tempos, Hannibal Lecter, e disseram que a partir deste momento estava expulso da sociedade. Para piorar, deixaram o que sobrou do prato de pista para polícia, isso causou um tumulto enorme. Não demorou um dia para começarem as notícias de que Hannibal estava de volta.

E é por isso que estou escrevendo esta carta e contando essa história, para você aí que a encontrar, dizer para o mundo que não foi o Hannibal dessa vez quem fez o jantar! Hannibal está morto! Dessa vez foi Henry Longbottom! Agora este é o MEU ESTILO.

Atenciosamente,

Henry


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Do que você tem medo?

Acordo assustado escutando passos pela casa, olho no relógio e já são 7 horas, está na hora de ir trabalhar. Primeiro me levanto e revisto a casa para ver se tem alguém, não encontro nada, deve ter sido um sonho.

Arrumo para ir ao trabalhar e vejo que meu celular tem 50 mensagens de um número estranho, desbloqueio para ler as mensagens, todas estavam escritas “Do que você tem medo? ’’ Acho muito estranho, mas penso:

-Deve ser algum trote.

Pego meu paletó e a chave do carro, desço para garagem e vejo uma pichação enorme na parede escrito novamente “Do que você tem medo? ”

-Alguém entrou na minha casa!

Fico desesperado, revisto a casa novamente e não encontro nada, penso em chamar a polícia:

– Não posso fazer isso e se eles descobrirem tudo?

Resolvo então ficar em casa. Pego meu computador para mandar um e-mail para o meu chefe, mentindo dizendo que vou ficar em casa porque não estou bem. Assim que entro na minha caixa de e-mail, vejo que tem mais de 100 mensagens de algum remetente desconhecido, todos os e-mails estavam escritos “Do que você tem medo? ”.

Nessa mesma hora meu telefone começa a tocar, atendo no automático sem olhar quem era de tão aterrorizado que eu estava. Uma voz muito familiar sussurra para mim no telefone:

– Do que você tem medo? Saudades de mim meu amor?

Reconheço a voz imediatamente, era a minha esposa morta. Começo a tremer, não é possível! Como ela está viva? Eu mesmo a matei e enterrei no bosque para ninguém saber! Respondo ofegante:

– Quem é você? Isso não é engraçado!

Ela responde gargalhando do outro lado da linha:

– Sou eu sua esposa morta e estou bem atrás de você!

– BU! (esse som não veio do telefone)

Largo o telefone assustado e quando me viro, lá está ela do mesmo jeito que a deixei no bosque, com seu vestido de noiva. Ela sorri e pergunta:

– Está Feliz em me ver? Está feliz gastando o dinheiro que roubou de mim?

Respondo assustado:

– Como isso é possível? Matei você a 5 anos atrás! Deixei você morta naquele bosque assim que a gente se casou!

Ela responde com muita raiva:

– E fugiu com toda minha herança!  Me enganou dizendo que me amava, íamos fugir juntos, ser felizes!

Respondo tremendo:

– Eu nunca gostei de você! Eu só queria o seu dinheiro! Agora o que você quer de mim? Me deixe em paz!

Ela responde sorrindo:

– Eu nunca mais vou deixar você em paz até sofrer o quanto eu sofri!

Suplico:

– Faço o que você quiser! Só me deixe em paz!

– Então se mate! – Ela disse jogando uma corda no chão

Estava tão aterrorizado que nem percebi que o tempo todo ela estava segurando a corda que eu usei para amarrá-la;

– É a corda que usei para amarrar você, asfixiar depois e enterrar- falo quase sussurrando.

– Sim! Agora é sua vez! Quero que você prenda essa corda no lustre e se enforque! – Ela disse com muita raiva novamente.

Eu fiquei com tanto medo, que não consegui fazer mais nada, peguei a corda, puxei a cadeira prendi no lustre e ela começou a gargalhar muito, fiquei paralisado por um momento até que enfim me joguei da cadeira, me entregando. Caí direto no chão, o lustre havia sido desparafusado.

– Foi mais fácil do que eu pensei – Ela disse se aproximando – Estou viva! Não percebeu? Consegui sobreviver seu covarde! Guardei esse vestido do mesmo jeito para me vingar, agora desça daí e a partir de hoje vai fazer tudo que eu mandar, porque agora já sabe “do que você tem medo”, não é?

– Eu tenho muito medo de você! – Respondo em choque desejando estar morto esse dia

– E eu adorei descobrir isso.


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O Fio de Ariadne

– Já chegamos mãe?

– Falta só alguns minutos! Disse minha mãe já estressada comigo por tanto perguntar.

Ela sabia que eu detestava viagens longas, não era uma criança muito paciente, ainda mais sabendo que estamos de mudança. Não queria abandonar minha cidade e minha escola, mas meus pais se separaram, então minha mãe resolveu começar a vida de novo em uma casa velha, isolada, que recebeu de herança da “vó bisa”.

– Chegamos filha! – Minha mãe falou isso com muita empolgação enquanto estacionava o carro.

Não era uma casa velha como eu tinha imaginado, era uma mansão. Mas bem velha, com um jardim enorme, cheio de estátuas antigas de pessoas que não conheço, uma fonte no centro e um labirinto ao lado. Era tudo muito estranho, mas eu gostei, só não queria deixar minha mãe saber disso.

– Isso aqui parece cena de filme de terror- disse só para irritar a minha mãe.

– Como você sabe o que é cena de filme de terror? Ariel, eu já mandei você parar de assistir essas coisas, você só tem oito anos!

Pego minha mochila, saio correndo para dentro da casa deixando minha mãe conversando sozinha. Quando eu entrei fiquei maravilhada, era tudo muito velho, mas muito bonito, as paredes desenhadas com letras diferentes e mais estátuas. Parecia a igreja lá da minha cidade, com os vários altares pelo caminho, mas não conhecia nenhum desses Santos.

Minha mãe entra afobada com as mãos cheias de caixas.

– Ariel! Estou chamando para ajudar, não escutou? Temos muitas caixas para tirar do carro, vai lá buscar as menores enquanto eu vou organizando essas aqui. O jardineiro da sua bisa está aqui para ajudar.

– Já vou mãe!

Acabou toda minha empolgação com esse lugar quando eu lembrei das mudanças. Vou até o carro pegar as caixas e vejo um homem parado na porta do labirinto, enrolado em um pano branco. Ele sorriu e fez um gesto me chamando, acho que deve ser o jardineiro e vou até ele.

– Olá! Você deve ser o jardineiro, acabamos de nos mudar, pode ajudar a gente?

Ele sorri e responde:

– Não criança, eu perdi uma coisa ali dentro e não consigo buscar

Ele aponta para o labirinto. Pergunto:

-Quem é você então?

-Criança eu preciso muito da sua ajuda, perdi a única coisa que eu tenho de lembrança da mulher que eu amo, você pode me ajudar?

– O que você perdeu? E porque não vai lá buscar?

Com a voz bem calma, ele se ajoelha para ficar do meu tamanho e responde:

– Eu perdi um fio, esse fio é a única coisa que pode trazer qualquer pessoa de volta desse labirinto, foi um presente da minha amada. Mas nesse labirinto existe um monstro e se eu entrar lá ele vai me reconhecer e vai me atacar. Se você for, ele não vai fazer nada.

– E por que eu faria isso?

– Vai ser uma aventura, você já entrou em um labirinto antes?

– Mas e o monstro, como tem certeza de que ele não vai me atacar?

-Pode confiar em mim, eu já irritei esse monstro demais de tanto entrar nesse labirinto, foi assim que perdi o fio da última vez.

– E por que você fica fazendo isso, não tem mais nada pra fazer?

– Quando você vive muitos anos, acaba fazendo besteiras. Vai me ajudar?

Não entendi o que ele quis dizer com isso e respondo:

– Mas… O que eu vou ganhar com isso?

– Pode ficar com o fio para você.

Ele não parecia mais tão calmo, mas continuava ajoelhado fitando o meu rosto.

– Então eu vou!

Respondo sorrindo, olhando para o seu rosto que parece ser bem familiar e caminho para o labirinto.

Lá dentro percebo que é bem diferente do que eu imaginava, por fora são muros de folhas e por dentro na verdade são de pedras, parecia que eu estava em outro lugar. Caminhei durante muito tempo e nada de achar esse fio, até que me deparei com o monstro dormindo no chão.

Fiquei horrorizada, ele era muito feio, tinha chifres e sua cabeça parecia com a de um touro, seu corpo parecia de um homem normal, e tinha rabo de touro também!!!! E tinha uma bola de lã na frente dele

– Será que isso é o tal fio? Não sei se valeu a pena ter entrado aqui só por isso.

Vou andando bem devagar para não acordar o monstro, acabo tropeçando em uma pedra e caindo. O monstro se levantou, parecia estar muito bravo e pronto para me atacar, mas quando viu quem eu sou, ele ficou parado me observando. A bola de lã começa rolar e eu saio correndo atrás dela. O monstro parecia desapontado e se deitou novamente. 

– Acho que eu não era o que ele estava esperando. Será que ele não come crianças?

A bola deixava um rastro bem fácil de seguir, parece que queria ser seguida. E de repente eu já estava na saída do labirinto e homem estava me esperando. O fio tinha acabado exatamente onde o labirinto acabava

-Esse só pode ser o fio!!

Ele sorri para mim, vou me aproximando e reparo que ele parece muito com uma das estatuas da casa. Vou enrolando o fio e falo:

– Está aqui seu fio, vai mesmo dar para mim? Não era a única coisa que tinha da sua amada?

Ele se ajoelha novamente e disse:

– Era sim, mas para você é mais importante, Ariel, descendente de Ariadne.

O homem se levanta e sai caminhando. Fico assustada por ele saber meu nome, e o que ele quis dizer com isso? Grito:

– PERAI! COMO VOCE SABE MEU NOME? QUEM É VOCE?

Ele grita respondendo:

– EU SOU TESEU!

E desapareceu bem na minha frente.

Fico assustada, não por ele desaparecer, e sim por perceber que eu conheço esse homem e esse nome de algum lugar, mas onde será que eu já vi esse moço?


Ilustração: Brendom Rodarte

Escritora: Nathália Santos

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Parque de Diversões

Todos na escola estavam empolgados com esse parque de diversões que tinha acabado de chegar na cidade. Não sei se a motivação seria mesmo o parque ou se é só mais um motivo para um bando de adolescentes se juntarem, encherem a cara de bebida e achar graça em passar mal nos brinquedos.

Será que eu sou mesmo adolescente? Eu não tenho essa animação, ainda mais as 6 horas da manhã e por causa de um parque! Estou aqui de fone escutando Led Zeppelin na maior altura para ver se pelo menos eu consigo ficar acordada.

Infelizmente, assim que bater o sinal para o final das aulas, vou ter que ir nesse parque idiota, a minha irmã é uma dessas adolescentes felizes e prometi para minha mãe que eu iria ficar de olho na Marcela. Para interromper a minha dose diária de reclamações, toca o maldito sinal e vou para a porta da escola, onde encontraria minha irmã para irmos direto ao parque.

Chegando lá começamos a rotina de gastar dinheiro e ir aos brinquedos. Quanto mais eu ia nesses brinquedos, mais eu via que cada um era mais velho do que o outro, não sei como esse parque ainda está de pé. A Marcela e seus amigos estavam lá, tão empolgados e bêbados que nem perceberam as bugigangas que estavam montando.

Até o final da tarde já tínhamos andado em quase todos os brinquedos, menos um. E, para minha infelicidade, a minha irmã teve a brilhante ideia de ir na montanha russa para finalizar o dia no parque.

Como eu tinha que acompanhá-la, eu fui.

Sentamos no primeiro carrinho, ele foi rangendo até chegar ao pico e na hora de descer eu senti os trilhos balançando muito. Quando ficamos de cabeça para baixo pela primeira vez percebi que o cinto não me seguraria por muito tempo e quando ele virou uma curva, escutei muitos gritos. Olhei para baixo e um carrinho tinha caído dos trilhos, duas pessoas estavam com os corpos estourados nos trilhos de baixo.

A Marcela gritava para parar, seus amigos e as pessoas que sobraram no carrinho também, mas parecia que ninguém escutava. Fiquei paralisada, não conseguia nem ao menos pedir socorro. Quando ficamos de cabeça para baixo novamente, alguém que estava logo atrás de mim caiu e talvez mais algumas pessoas. No final do loop o carrinho balançou muito, acho que passamos em cima de alguma coisa.

Estávamos entrando no último loop da montanha russa, mas esse era o mais alto de todos. Ao chegar ao topo, dessa vez o carrinho não andou mais, parecia que estava emperrado. Travei os pés na grade, e me agarrei ao assento com todas as minhas forças. Olhei para minha irmã e ela já estava toda vermelha do tempo que ficou de cabeça para baixo, eu devia estar assim também, já estava começando a ficar sem ar. Senti um estalo e era o cinto dela que estava soltando, tiro uma das minhas mãos do assento, tento fazer força para segurá-la, ela começa a gritar desesperada pedindo socorro e começou a escorregar, eu só pensava em fazer força para segurar, mas não podia soltar a outra mão.

Não consegui. Vi a Marcela despencando pelos trilhos e seu corpo estourando na queda feito um balão. Foi assim que o estado de choque passou e comecei a gritar, mas de nada adiantava, escutei umas pessoas caindo, algumas fizeram um barulho de bater no metal, outros acho que caíram direto no chão.

O carrinho então voltou a andar, mas estava tão rápido que os trilhos começaram a se soltar, escutei gritos e os últimos carrinhos caindo pelos trilhos atrás de mim. Só tinha sobrado o meu carrinho e percebi que tinha chegado minha hora. Os trilhos sumiram na minha frente, comecei a cair, fechei os olhos para morrer.

Alguém estava me empurrando, abro os olhos meio confusa. Escuto um barulho irritante, acho que é uma sirene.

– Acorda dorminhoca! Já são 5:50, vamos chegar atrasados.

Era o despertador, e o meu único irmão, o Marcelo.


Ilustrador: Brendom Rodarte

Escritora: Nathália Santos

O Enigma do Castelo Secreto

Acordei assustada! Estava deitada em um chão frio de um castelo desconhecido, meu lindo vestido com fitas e mangas bufantes, estava todo rasgado. Eu não me lembro como cheguei aqui e nunca havia visto este castelo antes. Só me lembro de estar caminhando pela floresta com meu melhor amigo, avistamos esse castelo, Wick saiu correndo e o segui, e agora estou aqui. E acabei me lembrando de uma história:

“Quando eu era criança minha aia contava histórias sobre um castelo secreto, onde morava uma feiticeira muito má, que foi amaldiçoada por ter vendido sua alma para o diabo em troca de ouro. Essa feiticeira se apaixonou um por um belo príncipe, mas os dois não poderiam viver juntos, pois ela era só uma simples camponesa.

Ninguém sabia que essa simples camponesa conhecia de feitiçarias, e ela acabou fazendo um trato com o diabo, pediu para que ele a transformasse na princesa mais rica deste reino, e que todos que entrassem em seu castelo reconheceriam que o castelo era todo feito de ouro.

O diabo atendeu suas vontades e ela conseguiu casar com seu lindo príncipe e ainda ser reconhecida como a princesa mais rica. Passaram-se alguns anos, a feiticeira ficou doente e sabia que alguma hora o diabo iria aparecer para levar sua alma. Ela não queria ir para o inferno, então pensou em engana-lo colocando outra pessoa em seu lugar.

Ela matou uma criada, colocou seu corpo em sua cama com suas roupas, se escondeu no guarda-roupas e ficou esperando o diabo aparecer. Não demorou muito ele chegou pronto para levar sua alma, mas percebeu que a feiticeira estava diferente, ficou furioso porque estava sendo enganado e a amaldiçoou: sua alma ficaria trancada no castelo até que uma princesa tão rica quanto ela aparecesse para ficar em seu lugar. Se uma princesa demandasse o enigma à feiticeira, ela teria a chance de tentar respondê-lo. Se ela acertar, poderia tomar todo o ouro e alma da feiticeira enfim queimaria no inferno para sempre. Caso contrário, a feiticeira poderia escolher o seu destino”

E aqui estou eu, uma princesa muito rica presa em um castelo desconhecido. Será que essa história é mesmo real?

Quando eu me viro vejo uma bela princesa, com um vestido coberto de joias na minha frente. Sorrindo ela disse:

– Olá minha criança, olhe ao seu redor, este castelo coberto de ouro, estes vestidos cobertos joias, tudo isso pode ser seu.

Olho em volta e realmente é tudo feito de ouro, daria tudo para vestir um desses vestidos. De repente me lembro que não havia chegado ali sozinha:

-Onde está meu melhor amigo?

Ela responde com uma cara de desprezo:

– Por que com todo ouro neste castelo, você se importaria com aquela coisa repugnante?

– Eu quero saber onde ele está?

– Está no guarda-roupas onde me escondi do diabo.

Começo a chamar por Wick e vou andando em direção ao guarda-roupas, escuto seu gemido e choro, arranhando as portas para sair do armário. Quando estou quase o alcançando, a feiticeira me puxa pelo cabelo e me arrasta até a cama. Ela deita sobre mim e tira um punhal do seu vestido, e quando estava pronta para apunhalar meu coração, eu me lembro do enigma e grito assustada:

– O DIABO…. A HISTÓRIA…. EU TENHO DIREITO AO ENIGMA!

Ainda com o punhal sob o meu peito ela me olha novamente com aquela cara de desprezo, e sussurra perto do meu rosto:

– Ora ora, então você sabe da história?

– Sim! EU QUERO O ENGIMA!

-Então me diga, O que o ser humano mais preza nessa vida?

Percebi que ela estava aguardando a minha resposta, nesse meio tempo Wick conseguiu sair do armário e veio correndo em nossa direção e mordeu a sua mão que segurava o punhal. A feiticeira saiu de cima de mim assustada e ficou parada em frente a uma lareira, aproveitei e a empurrei no fogo. E a respondi enquanto ela se debatia, mas estranhamente ela não se queimava:

– O que eu mais prezo na minha vida é minha amizade e lealdade do meu melhor amigo Wick e nunca o trocaria por nada nesse mundo!

Olho para o Wick e vejo que está olhando em outra direção e me vejo que havia mais alguém no quarto. Ele sorri para mim sem dizer uma palavra e entrega uma chave bem pesada, parecia ser feita de ouro. Faz uma reverência e caminha em direção à lareira, onde ele e a bruxa desaparecem no meio das chamas.

Percebi que era a chave do castelo, saio correndo em direção a porta, assobio e chamo meu melhor amigo:

– Vem meu cachorro levadinho, vamos contar para todo mundo que achamos o castelo coberto de ouro, graças as suas travessuras!


Ilustrador: Brendom Rodarte

Escritora: Nathália Santos

O Guia

Estava andando apressado pela avenida, a mais movimentada da cidade. Não sei até agora o que se passou na cabeça do meu pai, ele queria que eu o buscasse lá, justamente naquele local, na praça que ficava do outro lado da rua daquele maldito hospital.

Não costumava andar por esses lados há anos, deve ser o mesmo tempo também que não vejo o meu pai. Depois que a minha mãe faleceu naquele hospital, eu saí de casa para estudar e nunca mais voltei. Meu pai não era uma pessoa agradável para se conviver por isso raramente mantínhamos contato por celular.

Por isso me assustei com sua ligação dizendo que queria me ver e precisava de alguém para buscá-lo na praça. E aqui estou eu, acabei deixando meu carro em uma rua distante porque não sabia mais onde parar. Não conhecia mais essa região, onde eu moro agora é um bairro nobre e lá eu tenho de tudo.

Estava caminhando em direção à praça na procura do meu pai quando o avistei do outro lado da rua. Era um senhor com a aparência que eu me lembrava, mas muito mais velho. Comecei a atravessar a rua, em sua direção. Percebi um vulto pelo canto do olho e uma escuridão tomou conta de mim. Não me lembro de mais nada, só que acordei novamente na rua distante perto de uma igreja, dentro do meu carro, com a mesma roupa que saí no dia em que fui encontrar meu pai. Saio do carro assustado e meu telefone começa a tocar:

– Filho? Onde você está? Estou aqui na praça esperando por você

Eu fico paralisado quando escuto essas palavras, meu pai tornou a repetir:

– Filho, está aí?

– Estou pai! O que está acontecendo? Eu ainda não busquei você?

– Ainda estou te esperando, está tudo bem? Preciso muito de você!

– Estou chegando pai!

Saí correndo em direção à praça e quando cheguei ao hospital avistei meu pai. Ele estava no mesmo lugar, mas não tinha reparado o quanto ele estava magro e com umas roupas muito velhas. Continuei correndo em sua direção e de repente ouvi vários barulhos ao mesmo tempo (uma buzina se aproximando, gente gritando, um carro freando) e ficou tudo escuro novamente.

De repente estava em outro lugar, dessa vez em uma outra rua perto da praça, fico assustado: “como eu vim parar aqui?” Eu não me lembrava de nada. Olho para baixo, estou com a mesma roupa ainda. Vejo que tem uma banca ao lado e pergunto para moça que estava lá trabalhando, que dia era hoje? Ela respondeu 3 de janeiro.

Desesperado, pego o celular e ligo para o meu pai e ele atende:

– Filho, é você mesmo? Você chegou?

Avisto o meu pai do outro lado da rua e fico realmente espantado com a sua aparência. Ele não havia só envelhecido, parecia doente. Suas roupas eram piores do que as que os mendigos que vivem na praça vestiam.

– Pai estou chegando! O que aconteceu com você? Porque está desse jeito?

Começo a atravessar a rua com o telefone no ouvido:

– Filho, eu me perdi nessa vida, me entreguei à bebida, perdi tudo que eu tinha depois que você e sua mãe foram embora. A única coisa que eu tenho é este celular, para receber suas raras ligações e esperava que um dia iria me acolher e ajudar, mas como nunca mais foi me visitar eu tinha vergonha de dizer o que eu estava passando, eu sabia que a culpa era minha.

Eu paro no meio da faixa e encaro o meu pai com o rosto cheio de lágrimas. Escutei os mesmos barulhos e olhei para o lado. Vi um caminhão que simplesmente passou por mim, mas dessa vez não ficou escuro, muito pelo contrário. Estava tudo muito claro, parece que o tempo havia parado à minha volta.

– Olá Rodolfo, você deve estar se perguntando que bagunça é essa? Você sabe que dia é hoje? – Me disse o ser estranho com uma cabeça de cachorro que apareceu na minha frente.

Respondo desesperado:

– O que está acontecendo? Onde está meu pai? Por que não consigo alcançar meu pai? E por que acordei mais de uma vez nesse mesmo dia?

– Você está morto Rodolfo e estou aqui para te guiar.

– Me guiar? Estou tentando encontrar meu pai para ajudá-lo! Não preciso de ajuda, ele estava ali do outro lado da rua e você vai me guiar?

– Agora você quer ajudá-lo? Teve que morrer para perceber o estado em que seu pai está, enquanto você, um rico empresário, não poderia largar sua vida fútil e se preocupar com o seu pai. Você simplesmente o abandonou! Não se lembrava sequer que hoje era aniversário dele.

– A gente não se dava bem.

Abaixei minha cabeça com vergonha, percebi que isso não era motivo.

– Eu só estou fazendo o meu trabalho e meu trabalho é guiar os humanos para a eternidade. A sua vai ser viver eternamente esse dia.

Quando ele disse isso eu apaguei

E quando acordei era novamente dia 3 de Janeiro, aniversário do meu pai e dia de Anubis. Estava no meu carro, estacionado perto da igreja

e tudo se repetiu

novamente.

Ilustrador: Brendom Rodarte

Escritora: Nathália Santos

The Firebrat

Hoje eu estou aqui para contar uma história diferente, diferente de qualquer outra que você já leu por aqui. Firebrats, ou traças do livro (ou ainda, em tradução literal, pivete de fogo, entenda como quiser), são pequenos insetos bastante esquisitos e intimidadores cuja principal fonte de nutrientes são os livros. Vou contar uma história de uma menina que se parece muito com esse animalzinho.

Ela nunca soube diferenciar realidade e fantasia, sempre viveu em um mundo totalmente seu. Tendo como suas principais referências, seus personagens favoritos dos livros.

Ela cresceu acreditando em 6 coisas impossíveis para se pensar antes do café da manhã:

  1. Existe uma poção que faz você encolher
  2. Um bolo que faz você crescer
  3. Animais sabem falar
  4. Gatos podem desaparecer
  5. O País das Maravilhas existe
  6. Eu posso matar o Jaguardart

“Acreditava que nada era impossível se tudo isso fosse possível”. Apesar desse lado otimista era um pouco tímida, tinha medos e expectativas, sempre escutou mais os problemas dos outros e escondeu os seus, era bastante companheira para todas as pessoas que conviviam. Se tivesse que enfrentar uma dessas pessoas para dizer que estão erradas não hesitava em fazer. E já perdeu grandes amigos por isso, mas sempre teve essa frase em mente:

“É preciso ter coragem para enfrentar os inimigos, e ainda mais para enfrentar os amigos”

Nunca escolheu o tipo de pessoa que ela queria ao seu redor, sempre foi livre de preconceitos, nunca se preocupou com lugar de onde vem, cor, classe, religião, orientação sexual, tudo o que ela acreditava era que: “Embora venhamos de lugares diferentes, falemos línguas diferentes, nossos corações batem como um só”

Saiu de casa cedo para correr atrás dos seus sonhos e resolveu enfrentar o mundo como se fosse um Jogos Vorazes, sempre fazendo o possível “para a sorte estar ao seu favor”. Mas muitas vezes isso não aconteceu, pois, as dificuldades sempre existem. Foram essas dificuldades que a fizeram ser o que é hoje. Se agarrando na coragem e muita determinação, nunca se preocupando com opiniões, ela foi enfrentando esse mundo atrás dos seus sonhos.

Uma vez ela leu essa seguinte frase em um livro:

“Morrer no Lugar de quem eu amo parece ser uma boa maneira de partir”

E ficou se questionando se alguém é capaz de amar assim? Com o tempo ela foi percebendo que é capaz sim, por todas as pessoas que ela ama na sua vida, apesar de ser “bem fria como o gelo”, ela morreria por todos eles.

Mas quem é essa menina?

O que ela está fazendo agora?

Essa menina hoje se formou para professora, assim como uma Anne. Está metida a escritora, aprendendo e desenhando marcas de poder no seu corpo para enfrentar seus demônios dia após dia. Se aceitando como ela realmente é e o que ela realmente quer ser:

Escritora

E seu nome é Nathália Emanuelle Santos, ela tira seus superpoderes de todos os livros que ela “come”.

Mas não pense meu caro leitor que ela parou por aqui. Ela acredita que temos “infinitas possibilidades” para sermos o que quiser.


Escritora: Nathália Santos

Ilustração: Brendom Rodarte

Deuses

Gimleson queria tomar as terras inglesas conquistadas pelo meu pai, traiu a própria família, matou o nosso pai. Cansei de escutar que somos vikings e bárbaros, mas nunca traímos a nossa família. Odin não permitiria isso, eu tenho certeza de que foi o pai de todos que enviou Freya em meus sonhos. Ela me alertou que isso iria acontecer, mas fui cética e não conseguia acreditar que a deusa Freya havia conversado comigo.

-Levanta-te minha filha e lute como um homem – me disse. Se lutares como um homem minha força surgirá em você.

Eu não acreditei.

Até que um dia acordei com meu pai morto, meu irmão tomando suas terras, casas e guerreiros. Tudo que meu pai havia conquistado foi tomado por um inimigo que era da sua própria família. Gimleson me usou como sua escrava por anos, e, quando se cansou, me trocou por terras. A sua história de crueldade havia se espalhado pela Inglaterra e um rico conde queria fazer uma aliança: uma pequena parte de suas terras por uma promessa de proteção. Meu irmão muito ganancioso, se encantou com a grandiosidade da oferta do conde e não hesitou em aceitar, me dando ainda como presente em agradecimento.

Acabei me tornando amante do conde sem ao menos me perguntarem se eu queria. Fiquei meses satisfazendo os desejos nojentos desse velho, aguentando “carinhos” que eu não desejava e muitas vezes agressões. Eu era apenas a escrava viking e sempre que o conde e sua família recebia visitas era obrigada a dormir com os cavalos, para ninguém saber da sua ligação com nosso povo. Em uma dessas noites Freya falou comigo novamente:

– Levanta-te minha filha e lute como um homem se lutares como um homem minha força surgirá em você. 

Acordei assustada, sai correndo do estábulo e dei de cara com o velho na porta, pronto para me pegar e obrigar a fazer seus desejos. Senti em mim uma força muito grande quando ele veio me segurar, consegui agarra-lo e o jogar no chão, tomei sua faca e o ameacei:

– EU QUERO UMA ARMADURA E GUERREIROS OU MATAREI VOCÊ AGORA E VOU ATRÁS DA SUA FAMÍLIA!

Ele assentiu e o soltei, foi só aí eu entendi e senti o chamado de Freya. Surgiu em mim uma fúria e sede de vingança pelo meu pai, quando dei por mim o velho já estava com tudo pronto.

Caminhamos em direção ao meu irmão, invadimos suas terras, matamos seus guerreiros e o desafiei para um duelo. Ele era muito mais forte, habilidoso e experiente do que eu, seria muito difícil o matar. Já estava sangrando, sem forças, muito machucada para mexer algum músculo do meu corpo mas precisava estar ali, queria lutar e vingar o meu pai, queria ir para guerra como um homem, não queria mais ser uma mulher comum e estava provando isso.

Com esse pensamento agarrei as poucas forças que eu tinha e voltei para o duelo mesmo sentindo que estava quase morta, o último golpe me deixou caída no chão e meus olhos se fecharam.

Quando abri, eu estava no meu corpo mas não o comandava mais, saía outra voz de dentro de mim amaldiçoando Gimleson em nome de Odin. Percebi que era Freya, ela tomou posse do meu corpo e com toda sua fúria partiu meu irmão ao meio. De repente estava virada para os sobreviventes e disse:

– TOMARES TERRA DE INIMIGOS, NÃO DE SEUS IRMÃOS!

Não era a minha voz, nem a de Freya, neste momento éramos uma só.

Apaguei novamente.

Quando acordei, estava novamente no controle do meu corpo. Ao meu redor gritos e celebração, todos me chamavam de Guyda, a Filha de Freya, a primeira rainha Viking.

Nathália Santos

Bianca Santos

Meu nome não é Alice

Era uma vez uma menina que se chamava Clara e morava com seus pais em uma casa muito, mas muito distante da cidade. Para chegar em sua casa tinha que atravessar um bosque e no final desse bosque se encontrava a casa de Clara.

Era uma casa linda, parecia um castelo de princesa de contos de fadas, com grandes janelas, vitrais, torres bem altas e um belo jardim cheios de rosas. As pessoas mal sabiam se ela existia ou se tinha alguém que morava nessa casa.  Ninguém nunca ia até o final do bosque, porque todos morriam de medo dos lobos.

Por causa disso Clara cresceu sem amigos, vizinhos e parentes. Sua única companhia sem ser seus pais, eram os livros.  E tinha um que era o seu preferido, chamado “Alice no País das Maravilhas”.

Clara era obcecada com Alice no País das Maravilhas, não passava um dia sem ler o livro. Para ela tudo que acontecia no livro era realidade e estava convicta de que um dia encontraria o País das Maravilhas e não media esforços para achá-lo. Passava horas do dia procurando por todo canto da casa, já tinha estragado a metade das paredes, móveis, feitos vários buracos pelo chão da casa e também do jardim e nada de encontrar o País das Maravilhas.

Até que um dia ela teve uma brilhante ideia relendo o seu livro favorito. Resolveu pedir para os pais um coelho de estimação. Como Alice seguiu um coelho e achou o País das Maravilhas, ela pensou, por que não fazer o mesmo?

A menina passou o dia insistindo com os pais para ter um coelho de estimação e seus pais acabaram cedendo. Eles tentavam ser duros com ela mas acabavam deixando, porque sabiam que a menina se sentia muito sozinha. Clara então aproveitava e fazia o que queria.

O pai saiu bem cedo de casa para ir comprar esse coelho, ela sabia que ele demoraria uns cinco dias para estar de volta.  Seu pai deu muita sorte pois no caminho do bosque para cidade, ele achou um coelho e pensou que seria melhor levá-lo para casa do que atravessar todo o perigoso e longo bosque.

Clara ficou muito feliz quando seu pai chegou em casa apenas dois dias depois com o seu coelho de estimação. Ele só disse para menina que achava estranho, como um coelho branco estava limpo no meio de um bosque? A menina nem se importou, pegou o coelho e foi correndo para o jardim voltar a procurar o País das Maravilhas.

Chegando lá o pobre do coelho ficou assustado, ele não conhecia o jardim, aquela não era sua casa e a menina não parava de gritar para ele levá-la para o País das Maravilhas. A única coisa que ele conseguiu foi encolher e ficar bem quieto.  Clara começou a castigar o coelho por isso e foi assim por longo um mês.

O coelho começou a passar frio, fome, sede. Ela chutava, apertava, empurrava o animal e nada de ele fazer o que ela queria. Até que um dia ela acabou tendo outra ideia, pegou o coelho que já estava pele e osso e colocou ele deitado no jardim e pensando alto disse:

– Se eu mudar meu nome para Alice você vai se levantar e correr para o seu País das Maravilhas! Deve ser por isso que está parado até hoje!

O coelho respondeu:

– NÃO! SÓ EXISTE UMA ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS!

Clara ficou paralisada;

O coelho suspirou,

E morreu.

Nathália Santos

A Vida após a Morte

Eu me lembro de quando eu e meus pais saímos de carro para passear, de como era as idas para escola, encontrar os amigos, ir a bares, restaurantes, tomar uma casquinha de sorvete, sentar em uma praça e ver as pessoas passarem. Lojas abertas, shoppings movimentados, sair para dançar, ou simplesmente sentir o toque de alguém como um abraço ou beijo, sentir o cheiro e poder chegar bem perto sem medo.

Infelizmente o medo é tudo que temos agora. Medo das pessoas que amamos, das idas para escola, encontrar os amigos, bares, restaurantes, até mesmo da casquinha de sorvete, sentar na praça, lojas abertas, shoppings movimentados, sair para dançar ou sair para fazer qualquer outra coisa. Quando você sai poderá nunca mais voltar.

Lembro de quando se saía a noite, víamos as casas acesas com seus moradores, às vezes dava para escutar uma Televisão ligada, música, risadas e até mesmo brigas. Agora estão abandonadas e as pessoas estão ficando extintas. Não sei como isso aconteceu mas as pessoas estão morrendo, apodrecendo vivas e voltando para nos matar.

Isso aconteceu com minha mãe, não sabia o que era mas foi em estágios. Primeiro chegou a febre, junto com o cansaço e tosse muito seca. Ela mal conseguia se manter de pé, passava dias com o corpo mais quente que uma brasa em chamas. Tossia tanto sangue que parecia um fumante com câncer terminal. Eu e meu pai achávamos que isso não poderia piorar, depois de uns dias isso ficou ainda pior.

Minha mãe começou a passar mais tempo desacordada, perdeu a fala e os movimentos do corpo. Não sabíamos o que fazer, como cuidar, só ficamos dentro daquela casa esperando a hora que isso também aconteceria com a gente.

Um dia acordei com um cheiro muito ruim pela casa. Parecia o cheiro das maças em decomposição que esquecia de comer. Mas não eram as maças, era minha mãe ainda viva. Ela estava apodrecendo viva. Eu queria muito gritar, pedir ajuda mas para quem? Não tinha mais nada que pudéssemos fazer, de pessoas vivas eu só tinha o meu pai, não tinha mais ninguém. As pessoas que passavam nas ruas não eram mais pessoas.

Passamos dias vigiando ela esperando o pior acontecer. Meu pai sempre saía de casa para encontrar remédios e comidas para gente, então ele já sabia como lidar com essas pessoas. E infelizmente esse dia acabou chegando em nossa casa. Minha mãe parou de respirar.

Não demorou cinco segundos e ela já estava acordada novamente, meu pai correu para amarra-la sobre a cama antes que ela tivesse alguma reação e já estava pronto para atirar. Até minha mãe fixar seu olhar em mim. Meu pai jurou que ela me reconheceu e ficou repetindo:

– É ela minha filha! Ainda é sua mãe.

Eu não sabia o que pensar, se era realmente minha mãe ou se meu pai estava ficando louco. Não sabia como realmente era as pessoas fora dessa casa. Meu pai segurou forte a minha mão e disse:

– Vamos ser uma família novamente?

Entendi rapidamente o que ele quis dizer. Ele largou a minha mão, se aproximou da cama da minha mãe e a desamarrou.

Fechei a porta do quarto.

Cheiro de carne podre é o cheiro da minha casa, é o cheiro da minha família agora! Amo carne humana, não sei como parar.

Nathália Santos

Entre Irmãos

Como posso gostar de uma coisa tão medonha e grotesca como essa? E ainda por cima seu povo nunca entrará no céu, Meu Deus que tanto prego e amo, porque deixou isso acontecer? Como deixa sua filha amar um pagão? Ele bateu em minha porta, tomou posse de mim e foi inevitável resistir, senhor, agora é tarde demais. Eles irão morrer na guerra, são muitos cristãos, meu querido nórdico e seu exército não irão aguentar, preciso ajudar, não posso pedir a você mais meu Deus, infelizmente vou ter que o abandonar, não posso ama-lo senhor, se os quer todos mortos. Preciso pedir ajuda para o Deus do meu amor, eu posso e consigo. Ele canta para mim sempre sua oração quando pula os muros escondidos para se deitar comigo, mas não basta só rezar, ele sempre falava:

– Meu Deus exige sacrifícios

Sacrifico a minha vida para você Odin em troca da vitória dos nórdicos nessa guerra.

Assim que pronunciei seu canto, apareceu um senhor velho e robusto na minha frente dizendo ser o todo poderoso Odin e aceitava o meu sacrifício para salvar seu povo:

– Minha criança estou aqui para ajudar, basta em mim confiar, serás considerada minha filha a partir de agora e não mais uma cristã, só precisas me entregar o que carregas de mais valioso.

 Eu congelei, achei que iria morrer naquele instante, essas palavras “aquilo que carregas de mais valioso” estava em dúvida, não tinha certeza se realmente carregava um filho.

 -Meu filho? – Ainda o indaguei para ter certeza e escutei seu sim com os olhos fechados abraçando o meu ventre com muita força. Me deparei em lágrimas, sabia que seu Deus exigia sacrifícios, estava disposta a qualquer coisa mas nunca pensei que perderia alguém para ter meu homem de volta.

Minha cabeça começou a girar com ele repetindo:

– Não posso ficar muito tempo na terra minha criança.

 Minhas vistas ficaram escuras, ainda estava sentindo que iria morrer ali na sua frente antes de decidir. Disse sim, caindo aos pés em lágrimas, queria meu amor mais que tudo, mas essa era a única solução, Deus já tinha me abandonado, o único consolo é que se ele permanecer vivo, poderemos ter mais filhos. Sei que levarei essa angústia pelo resto da minha vida mas terei meu nórdico vivo.

-Então tire-o daí de dentro!

Comecei a tremer. Odin entregou para mim um punhal e ergueu a minha mão em direção a minha barriga:

-Não posso! – Respondi com a voz tremula e ele sussurra para mim sendo bem grosso:

 – Pode sim, você quer ou não seu homem de volta?

Comecei a achar estranho, esse não era o Odin pai de todos que meu amado contava em suas histórias, se ele era um pai, pensei que fosse como meu Deus, um pai acolhedor. Mas como não tinha opção, apunhalei com muita força a minha barriga e quando olhei para Odin ele não era mais um velho.Parecia ter rejuvenescido uns trinta anos, estava alto, agora com cabelos pretos e com a pele muito pálida, com olhos tão verdes como as folhas das árvores que estavam em volta. Sorriu colocando minha cabeça sobre seu colo.

 – Criança tola, você não chamou meu pai, chamou seu filho Loki o Deus da trapaça.

 E foi deitando a cabeça sobre á minha me dando um leve beijo na testa e sussurrou:

– Eu não me importo com o meu povo, só me importo em ferir meu querido irmão que resolveu brincar de ser humano na terra e gerar um herdeiro.

Essa foi a última coisa que escutei antes de morrer.

Nathália Santos

O casamento do ano

– Maria! Maria! Acorda! Vai se atrasar para o seu casamento!

Acordei assustada com a voz da minha avó me chamando:

– Que horas são?

Acho que nem me escutou, ela olhou para meu chinelo perto da cama e começou a xingar:

– EU JÁ FALEI PARA VOCÊ MARIA! NÃO DEIXA ESSE CHINELO VIRADO PARA BAIXO! ISSO DÁ AZAR! E LOGO HOJE NO DIA DO SEU CASAMENTO… PODE ACONTECER MUITA COISA RUIM!

Levanto-me nervosa da cama, não aguentava mais minha avó com essas superstições:

– Chega vó! Para com essas superstições bobas! Isso não faz acontecer nada! É tudo da sua cabeça!

Ela olha para mim indignada com a minha reação:

– Coisa da minha cabeça? Uma única vez que passei embaixo de uma escada, seu avô olhou para mim e morreu!

– Ele enfartou vó! Isso acontece com quem tem problemas cardíacos! Não é porque a senhora passou embaixo da escada!

Ela olhou para mim novamente, mas dessa vez com muita raiva:

– Você que sabe então! Só depois não diga que eu não avisei!

Eu fico ainda mais nervosa:

– Quer saber? Eu vou provar para senhora que nada disso existe! Vou deixar esse chinelo virado, vou fazer todas as outras superstições e meu casamento vai acontecer do mesmo jeito! Nada de errado vai acontecer hoje! Ninguém vai morrer hoje!

Pego a minha bolsa, tiro o meu guarda – chuva e deixo ele aberto dentro do meu quarto, minha avó sai indignada rezando. Joguei um pequeno espelho no chão, fazendo ele virar mil pedacinhos.

– Não vai acontecer nada de errado!

Depois de me arrumar e vestir o meu lindo vestido de noiva, desço as escadas para encontrar minha família. Antes de ir para o carro passo por deixo da escada que meu irmão usava para trocar uma lâmpada e começo a sorrir,  todos estavam parados me olhando:

– Ah não é possível! Até vocês? Isso aqui é para provar que não acontece nada! É tudo da cabeça de vocês!

Entro no carro pronta para casar, antes que o motorista pegasse o caminho para igreja passo para ele um outro endereço:

– Senhora? Esse não é o caminho da igreja!

– Vou passar na casa do meu noivo antes!

O motorista olha para mim assustado:

– Mas senhora? Você está vestida de noiva!

– Ah não! Vocês têm que parar de acreditar nessas superstições!

– Tem certeza senhora?

– Sim! Vamos logo! Se não vou atrasar para o meu casamento!

O motorista me deixou na porta da casa do meu noivo, saio rindo com a cara dele de assustado e começo a rir mais ainda quando minha sogra e meu sogro se assustam comigo chegando na porta de casa, vejo que meu noivo estava chegando na porta e grito:

– GOSTOU? – Começo a girar para mostrar ele o vestido, quando paro vejo que meus sogros estavam ainda mais chocados com essa minha reação.

– O casamento é aqui agora? – Disse meu noivo se aproximando e rindo – O que está acontecendo?

– Estou provando para todo mundo que superstições não existem, nada acontece, é tudo da nossa cabeça!

Meu noivo começa a rir mais ainda:

– Vou me casar com uma louca mesmo! Uma louca muito bonita! Adorei o vestido

Abraço e dou um beijo no meu noivo:

– Vejo você na igreja! Vamos ver quem chega primeiro?

Ele segura a minha mão e vamos atravessando a rua em direção ao meu carro:

– Você está mesmo muito bonita Maria!

Ele me gira para ver o vestido novamente e antes que eu terminasse de girar, escuto uma buzina… tudo fica preto…

Acordo novamente, completamente tonta e sem saber o que tinha acontecido. Ele ainda segurava a minha mão, acho que estava muito ansioso pois sua mão estava muito molhada e me segurava com tanta força que meus dedos já estavam dormentes. Viro para reclamar, nem sentia meus dedos mais:

– Ei…

Não havia ninguém do meu lado, apenas uma enorme poça de sangue.


Ilustrador: Brendom Rodarte

Escritora: Nathália Santos

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Desaparecidos em Cinasville: Parte I

– Prefeito! Prefeito! Por favor! Vocês têm notícias dos desparecidos?

O prefeito ignora a repórter e ela se volta para mim:

-Capitão Gensel! Meu nome é Jessica Klein, sou do Diário da Bavária, você já tem alguma notícia ou pista dos desaparecidos?

Respondo bem rápido antes de entrar na delegacia:

– Até o momento foram constatados seis desaparecimentos que não deixaram nenhum tipo de vestígio, nem marcas de arrombamento ou de luta. Estamos trabalhando duro para que todos estejam de volta em seus lares sãos e salvos!

Entro na delegacia rapidamente, já estava cansado de dar satisfações sobre o desaparecimento dessas pessoas. Chegando lá dentro um casal estava desesperado:

– Alguém me ajuda! Nossa filha está desaparecida! – disse o homem abraçado com uma mulher que estava aos prantos.

Agora são sete desaparecidos – pensei alto – e todos que estavam na delegacia olharam para mim. O prefeito se aproximou com um senhor bem baixo e gordo, dono de umas das melhores cervejarias de Cinasville. Eu pensei que o senhor estava preocupado com as pessoas até ele abrir a boca e dizer:

– E o festival, Capitão Gansel? Corre algum risco de ser cancelado? Estou muito preocupado em não faturar as minhas cervejas esse ano!

Reviro os olhos revoltado, não é possível que esse homem esteja preocupado com isso. O prefeito responde:

– Há coisas mais importantes que faturamento Sr. Harten, não acha? Não estou dizendo que o festival Bomer Spiel não é importante! Este evento movimenta o nosso turismo trazendo benefícios para todos! Por isso vamos fazer de tudo para que isso se resolva antes do evento não é capitão?

Antes que eu pudesse responder ele me interrompe e continua falando:

– Foi isso que eu vim tratar com você capitão! Resolvi dar uma recompensa para a melhor equipe de pessoas, não precisam ser policiais, que conseguirem desvendar esse mistério! Já temos várias pessoas na sala ao lado esperando para se inscrever!

– Como assim prefeito? Ninguém me avisou de nada! – pergunto para ele assustado.

– Foi uma decisão rápida! – ele se vira para o Sr. Harten dizendo – É só isso que o Sr. tem para falar? Estou de saída, boa noite para vocês!

Ele se vira e vai embora. Vou em direção a sala morrendo de raiva: – Como assim ele arruma essa ideia de que qualquer pessoa pode resolver o caso e não me fala nada? E já temos pessoas para se inscrever? Ele deve estar achando que nós policiais não estamos dando conta!

Chego na sala e encontro nove pessoas prontas para se inscrever e nenhuma delas era um policial. Quando elas terminam de se inscrever, a única coisa que penso é que grupo esse meu Deus? Tinha um investigador paranormal, uma ex- cientista, um padre recém-chegado na cidade, um psiquiatra, uma garçonete, um motorista, a dona do melhor bar da cidade e seus dois empregados. Parece um filme que eu assisti esses dias, só faltou um tubarão lendo um livro.

Saio da sala indignado, como o prefeito deixa qualquer pessoa tomar conta de um caso tão importante quanto esse? Meus devaneios são interrompidos quando escuto alguém me chamando:

– Ei Capitão! Você tem um minuto? – Era o investigador paranormal.

– Sim! – Respondo tentando conter minha indignação.

– Eu tenho uma pista! Eu não sei se é necessariamente esse homem, mas um espírito me falou através de sonhos sobre um importante fazendeiro chamado Niko Kozlov aqui da cidade, conhece?

Todo mundo conhecia Niko Kozlov, ele era o fazendeiro mais rico da redondeza.

– Sim! Ele é praticamente o dono de quase todas as terras por aqui! O que tem ele?

– Os espíritos me contaram que com ajuda de pessoas importantes da igreja ele roubou algo muito valioso! Eu não sei o que é! Mas é algo muito importante! E uma das pessoas desaparecidas é o Padre Rene Vogal! O padre mais importante da cidade! Não acha isso suspeito?

– Sim! Isso é muito suspeito! – disse pensativo.

Não é que ele tinha razão! Isso era muito suspeito e ninguém confiava em Niko, ele era ambicioso e trapaceiro, foi assim que ele conseguiu subir na vida. Eu não podia perder essa oportunidade, é a primeira pista que tive em semanas do desaparecimento dessas pessoas:

– Eu quero que você junte o grupo e encontre comigo hoje à noite perto da fazenda do Sr. Niko Kozlov, entendeu? Vamos investigar para ver se achamos mais alguma coisa!

O investigador paranormal responde empolgado:

– Sim senhor! Estaremos lá!

Depois de um longo dia de trabalho, peguei meu carro e encontrei o grupo perto do portão da fazenda de Niko. Orientei que eles escondessem os carros e ficassem escondidos:

– Precisamos ser sorrateiros para que ninguém descubra que estamos lá!

O psiquiatra se aproxima me entregando um papel:

– Fiz um mapa da fazenda! Ela é muito grande! Vai ficar mais fácil para investigar!

Seguro o mapa na mão pensando como ele conseguiu fazer isso? Essa equipe está se saindo melhor do que eu esperava.

Esperamos os trabalhadores da fazenda irem embora e começamos a investigar, olhamos cada canto da fazenda e não achamos nada de suspeito, até que chegamos em uma ponte. No final da ponte havia uma casa velha sem nenhuma iluminação direito no local. Quando estávamos nos aproximando da casa, escutei uma criança chorar.

– Vocês estão escutando isso? Parece uma criança! – disse a garçonete

O choro de aproximava, peguei minha lanterna e iluminei o final da ponte. Havia uma criança muito esquisita, ela chorava muito, parecia ter uns dois metros e seu corpo era todo deformado. Escutei passos vindo atrás de nós e a ex-cientista gritou:

– SÃO TROLLS!

A luz da minha lanterna apagou e os Trolls começaram a atacar.


Ilustrador: Brendom Rodart

Escritora: Nathália Santos

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